Capítulo 8

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Eu estou com medo.

Estou com medo porque posso sentir as batidas calmas do coração do meu mentor e ouvir o sangue correndo em suas veias. Porque meu corpo brilha repleto de runas e o meu coração se acende dentro de mim.

Sr.Harrington disse para não ter medo, mas eu não posso evitar. As imagens do acidente no lago passam na minha cabeça como um filme, se repetindo, de novo e de novo. Os cacos dos jarros no chão me separam dele que me observa de braços cruzados, calmo e sereno.

- Não tenha medo. Isso é parte de você. - ele sussurra.

Me afasto dele. - Mas eu não quero que faça parte! Eu não quero machucar mais ninguém.

- Menina. Você não vai me machucar. - ele alerta.

- É o que eles disseram! - gritei pensando em Wei-Wei e Charslie. Eles disseram que eu não ia machucá-los, que confiavam em mim, e eu o fiz, de uma forma ou de outra. - Fique longe de mim!

Minha visão fica esbranquiçada, depois normal novamente. Eu estou instável.

- Rayrah. A única pessoa que poderia se machucar aqui sou eu. E isso não vai acontecer. - sr.Harrington esclareceu - Minha habilidade é ser imune a qualquer habilidade. Mental ou física, nada pode me atingir. É por isso que sua mãe me escolheu para lhe treinar. Você é completamente destrutiva.

- Então eu não posso te ferir? - pergunto hesitante.

- Nem se quisesse. - ele responde - Enquanto você reter seu poder, a única que vai se ferir é você.

Ele segura minhas mãos e percebo que faz um grande esforço para se manter de pé agora que largou a bengala. Ajudo-o a se sentar. Nos sentamos ali mesmo, ele segurando minhas mãos e eu torcendo para que ele não estivesse mentindo quanto à sua habilidade.

- Afrouxe os dedos dos jarros, princesa - ele sorri, mas eu não. Eu estou tremendo, concentrada em me manter como estou, sem alterações. - Rayrah. Me ouça.

- Eu... eu estou com medo. - admito com o rosto entre as mãos. Odeio me sentir assim e mais que isso, odeio admitir.

- Mas não precisa. - ele disse com voz serena. - Estou aqui para ajudar você a se controlar, você não pode me machucar, então do que tem medo?

Penso por um minuto.

- De mim mesma. Do que posso fazer. Eu não estou afim de descobrir. - murmuro.

- E por que não?

- Como você mesmo disse, eu sou completamente destrutiva. - me abraço.

- Então prefere continuar a ter medo dos seus poderes? Até o final da vida trancafiando-os dentro de você? - ele indaga.

- Eu... eu não sei! - meus olhos ardem - Você não entende Harrington! Eu nasci com isto e aprendi a temer-me! Eu matei uma pessoa importante pra mim e não apenas ela! - começo a gritar - Eu não sei o que fazer porque sou uma bomba-relógio prestes a explodir!

Quando termino a frase tenho que proteger meus olhos da luz que irradio. Sinto algo como uma carga de energia, como milhares de fagulhas saindo do meu corpo, elas são vermelhas e explosivas. As paredes repletas de runas se acendem iluminando o lugar.

A sensação que tenho é de estar voando, ao mesmo tempo que sinto que posso controlar cada vida num raio de dois quilômetros, posso escolher qual respiração vai parar e qual sangue vai deixar de correr, posso escolher qual vida ouvir e qual silenciar. Mas uma coisa estranha: eu ouço uma única batida de coração. E esse pulso está sincronizado com o meu.

Rayrah Scarlett: O Coração Pulsante de Evbád [RETIRADA EM 25/10/22]Onde histórias criam vida. Descubra agora