Prólogo ✓

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06 anos atrás

ISAAC HALE

Troquei meu plantão no hospital, pois hoje eu quero sair com a minha noiva, faz tempo que ela vem cobrando para sairmos juntos. Eu vivo enfiado naquele hospital, minha residência em Cirurgia Cardíaca está no fim e eu preciso me dedicar por completo. A data do nosso casamento está se aproximando e Vivian anda igual doida atrás de todos os preparativos, já que eu não posso ajudar muito.

Soube que hoje haverá um espetáculo, de uma renomada companhia de Ballet. Um clássico será apresentado, "Lago dos Cisnes". Sei que Vivian gosta muito dessas apresentações, e quero fazer um agrado, então comprei os ingressos e fiz uma reserva em um bom restaurante. 

Mando uma mensagem para ela, avisando do nosso compromisso e que mais tarde passo pegá-la. Chego no apartamento de Vivian por volta das oito horas da noite, e ela logo vem toda deslumbrante, vestindo um belo vestido vermelho justo, saltos pretos que realçam a cor dos seus cabelos negros, lindíssima, muito vaidosa e maquiada, como sempre, como se isso fosse uma exigência. Às vezes sua vaidade extrema me incomoda um pouco, mas nesses quatro anos de relacionamento eu nunca reclamei. 

— Vamos querido — diz toda sorridente e me dá um beijo no rosto, claramente para não borrar  o batom. 

Desço assim que estaciono no anfiteatro e entrego a chave para o manobrista. Dou a volta para abrir a porta para Vivian, como um bom cavalheiro. Nos dirigimos aos nossos lugares, quando o espetáculo começa eu me surpreendo, não sabia que ficaria tão deslumbrado. A personagem principal move-se com tanta leveza e graciosidade que me deixa extasiado. São movimentos precisos, saltando como se tivesse o peso de uma pluma, nas pontas dos pés parece ficar ainda mais bela, fico realmente encantado com aquela apresentação e a performance da bailarina.

Após o espetáculo eu levo Vivian ao restaurante, e no meio do jantar eu recebo uma chamada emergente do hospital.

— Querida, me perdoe mas eu preciso ir. Houve um acidente na BR 416, e muitos feridos. Estão precisando de mim no hospital — vejo sua expressão de decepção. 

— Como sempre né, Isaac? O trabalho em primeiro lugar e eu sempre sozinha— limpa a boca com o guardanapo fino e me olha com desgosto— Pode ir, terminarei o meu jantar, depois pego um táxi. 

Levanto para me despedir mas Vivian vira o rosto. Me sinto magoado mais uma vez por decepcioná-la deste jeito. Pago a conta, deixo dinheiro para o táxi e me apresso para o hospital.

Quando finalmente terminamos de atender todos os feridos, eu vou para o vestiário me trocar, na expectativa de ir para casa de Vivian e passar o resto da noite com ela, ver se ainda podemos salvar o que restou da noite, para quem sabe terminarmos bem. Mas por uma simples ironia, quem invade os meus pensamentos no caminho é a graciosidade daquela bela bailarina. 

Passa das quatro horas da manhã quando chego. Entro de fininho e tomo um banho no quarto de hóspedes para não acordá-la. Abro a porta de seu quarto, acendo a luz do abajur e simplesmente não posso crer no que meus olhos estão vendo. O meu mundo para de girar.

— Que porra é essa?— grito descontrolado. Vivian dormindo abraçada ao meu irmão mais novo, Felipe. Os dois acordam assustados com o grito, ela totalmente nua enrolada nos lençóis e ele apenas de cueca. Perdi todo o controle e avancei — Felipe, seu desgraçado! Eu vou matar você e essa vagabunda!— Aponto o dedo para ele— É assim que me trata depois de tudo o que eu fiz por você? Tudo o que eu faço para te agradar, para o nosso relacionamento dar certo?— Não sinto o ritmo do meu coração batendo de tão acelerado que está, a raiva me consome. Vivian tenta explicar mas eu não consigo assimilar uma palavra sequer. Já meu irmão não diz nada, permanecendo quieto e indiferente a tudo.

Viro as costas e vou para o quarto de hóspedes. Pego minhas coisas e saio. No caminho visto a camisa e quando a porta está fechando, Vivian aparece vestida com um roupão.

— Espera Isaac, por favor. Eu posso explicar!

—Não tem o que explicar. Eu não quero ver você nunca mais!— minha voz sai aparentemente calma, mas eu estou a ponto de cometer uma loucura. 

— Isaac, pelo nosso amor! — suplica, me fazendo sorrir em deboche. Essa vagabunda não tem medo do perigo?

— Amor? — Indago e saio do elevador, feito um predador, um psicopata. Ela me encara com lágrimas nos olhos, posso ver seu medo — Que amor, Vivian? Você transou com o meu irmão, porra! — grito, esmurrando um vaso próximo. Ela se agacha, prestes a ajoelhar-se. 

— Isaac...

— Cala a boca, Vivian! Deus...Deus sabe o quanto me dediquei ao nosso relacionamento, você deveria ser compreensiva, mas não, o que você fez? O que você fez?! 

— Me...me perdoe... Por favor.

— Perdão? Perdão?! — Meu sorriso é diabólico naquele momento — Eu não vou te perdoar, NUNCA! — Entro no elevador enquanto a vejo cair de joelhos, antes das portas se fecharem.

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Espero que gostem....

Frágil Coração ( Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora