Frágil Coração ( Degustação)

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Raíssa Montenegro

Acordei no dia seguinte com algumas dores, mas segundo o médico era normal por conta do procedimento, estava sozinha o sol já estava alto, o dia lá fora parecia estar lindo, logo Rebeca entrou no quarto com um copo de café nas mãos, o que me deixou com água na boca.

— Bom dia Rah, como se sente?

— Como se tivesse sido atropelada por um caminhão! 

— Você não sabe da maior!- ela estava eufórica - Jason apareceu aqui ontem e o bonitão colocou ele para correr!

— Como assim? – meu instinto me dizia que nada de bom poderia ter acontecido nessa visita repentina.

— Pois é! Ele chegou falando que ia cuidar de você quando eu fosse embora, disse que sabia que você e o doutor não estavam noivos!

— Ai que droga!! – afundei ainda mais a cabeça no travesseiro, minha mentira tinha ido para o ralo.

— Mas o bonitão não desmentiu e ainda proibiu visitas – fiz uma anotação mental para agradecer Isaac mais tarde.

Logo meu café da manhã chegou, minha barriga roncou alto como se tivesse um trator dentro de mim. Rebeca e eu tomamos café juntas e conversando amenidades, recebi flores da academia no buquê havia um bilhete e nele dizia que estavam ansiosos pelo meu retorno, era o que eu mais queria, pois ficar deitada nessa cama já estava me dando calos.

Mais tarde doutor Wagner passou para fazer sua visita e disse que tudo tinha corrido bem e que eu poderia ir para casa, recomendou uma série de cuidados, mas antes de ir eu precisava fazer só mais alguns exames, apenas para garantir que tudo ia bem. Rebeca foi na frente para ajeitar o apartamento, já que faziam dias que ninguém pisava por lá, quando eu estava absorta em um livro, Isaac apareceu.

— Boa tarde dona moça! Como se sente? – ele abre aquele belo sorriso, ok, isso é novidade.

— Bem doutor, obrigada.

— Pronta para ir pra casa?

— Com toda certeza! – rimos.

— Queria agradecer novamente pelo que fez por mim, Beca me contou sobre o episodio com Jason.

— Eu não desmenti você, mas precisa conversar com ele, ele parece se preocupar e pelo que notei não pretende se afastar – notei certo desconforto em suas palavras.

— Eu não quero, já sofri demais, passo a vez! – eu não me aguentava de saudades das crianças e essa espera para poder sair estava me matando, quando aproveitei a deixa — Posso te pedir um favor, mas você tem que prometer que não vai ficar carrancudo e nem fazer brotar o mau humor que vive ai dentro – olhou surpreso, e ergueu uma das sobrancelhas — queria ver minhas carecas, tem jeito?

— Achei que ia me pedir algo absurdo pelo jeito que falou! Vou buscar uma cadeira e te levo lá, mas já aviso que não podemos demorar.

— Aii obrigada.. – fiquei eufórica, só não sai pulando da cama pois eu não podia fazer movimentos bruscos, logo ele saiu e voltou com uma cadeira de rodas, me ajudou a levantar da cama e me acomodar na cadeira, saímos por aquele hospital adentro e pude notar olhares pra cima do doutor, mas não era para menos, o cara é um deus grego de jaleco, e não conseguindo manter a língua dentro da boca deixei soltar.

— Hum doutor, vou ter que comprar um carregamento de babador para trazer para esse hospital na próxima vez que eu vier.

— Por que? – ficou confuso.

— As enfermeiras e todas as outras mulheres não param de te admirar.

— Fique você sabendo dona Raíssa, que eu não estou interessado em mulher nenhuma, e quero passar bem longe de problemas, mulheres são apenas diversão! – foi irônico, mas não conseguiu esconder o desconforto em seu tom de voz, diante da sua reação não falei mais nada.

— Me desculpe. – fui em silencio até chegarmos a ala da oncologia pediátrica e quando adentrei na sala foi aquela festa, expliquei a elas que ficaria afastada por uns dias mas que logo estaria de volta com as aulas, que era só o tempo de eu me recuperar bem e poder voltar, o tempo que passei ali foi precioso, Isaac não entrou na bagunça mas ficou a todo momento observando de longe e rindo de uma coisa ou outra que as crianças faziam, ali pude observa-lo melhor, parecia que algo havia o magoado e que por isso se fechava em sua carranca as vezes, parecia que esse seu jeito era um mecanismo de defesa, mas não era de todo uma pessoa fechada, era amável e carinhoso, preocupado e responsável. 

Logo veio ao meu encontro informando que Wagner já tinha o resultado do exame e que eu estava liberada e podia ir para casa, me levou de volta para o quarto,  logo foi chamado para atender uma emergência.

— Preciso ir, mais tarde se der tempo passo na sua casa.

— Tudo bem doutor, obrigada por tudo!

— Até logo maluca – e saiu pela porta.

Logo Rebeca voltou para me levar para casa, aquele cheirinho de lar e de conforto foi o suficiente para me fazer relaxar, tomei um banho e fiquei ali no sofá enquanto Rebeca preparava o jantar, logo a campainha tocou devia ser Isaac, atendi a porta e fiquei surpresa com a visita. Realmente foi inesperado.

— Jason! O que faz aqui?

— Vim te ver, não pude visitá –la no hospital, e eu não podia deixar de vê-la.

— Entre – convidei por pura educação, não estava disposta a dar explicações e muito menos ficar inventando desculpas, mas por sorte ele não perguntou nada sobre o assunto e muito menos pediu explicações. Ele jantou conosco, ajudou Rebeca a limpar a cozinha e logo os dois vieram até a sala comigo.

— Na próxima semana começam os testes, acha até lá está liberada para voltar pelo menos para acompanhar?

— Acho que sim.

(...)

Passamos horas agradáveis conversando sobre o ballet ele contou muita coisa sobre como foi na Rússia, quando me dei conta já era tarde da noite, notei que ainda tínhamos alguma ligação, mas não era carnal, era amizade, uma ligação pura e sincera, pelo menos era o que ele demonstrava, não podia negar que sua visita foi agradável, na hora de ir embora o acompanhei até a porta, e Jason se despediu de mim com um beijo no canto da minha boca, foi uma coisa totalmente imprevista, eu realmente precisava ser mais cautelosa em relação a ele, não quero dar esperanças onde tudo o que eu posso oferecer é minha amizade.

Quando me deitei lembrei que Isaac disse que viria e não apareceu, era como se a necessidade de sua presença fosse imposta de tal forma que eu não saberia distinguir como e nem o por que.

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Até o próximo capitulo