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Isaac Hale

— Raíssa está me ouvindo? — pergunto, pois ela parece estática.

— Acho que por hoje chega! Não é uma boa ideia, estou cansada — Diz, e pela primeira vez vejo que fica sem graça perto de mim. 

— Bom, se está com medo de se sentir mal novamente, lembre-se que sou médico e posso prestar os primeiros socorros — O que eu acabo de dizer? — Desculpa, não quis ser inconveniente — ela me olha incrédula, como se eu tivesse falado qualquer bobagem, e começa a rir — "Tá" de brincadeira, né?! — Meu mau humor mais uma vez toma conta — Ah, esquece!

Tiro o envelope do bolso e entrego a ela, que olha fixo nos meus olhos. Ela ainda emana a mesma energia positiva e alegre, o que serve para me deixar ainda mais desconcertado. 

— Obrigada — guarda na bolsa. Quando vou me despedir, ela diz: — Eu aceito acompanhar você em um jantar, mas fique sabendo que não vou rachar a conta com ninguém, é por sua conta — e em nenhum momento perde o brilho no olhar.

— "Tá" bom! Essa eu pago, que seja um bom restaurante, porque estou realmente faminto! 

— Então vamos! Vou na frente, nos encontramos lá.

Quero oferecer para ir no meu carro, mas não forço a barra. A sigo pelo caminho e logo estaciono em uma praça com ar caseiro, várias lanchonetes simples pelo calçadão. Desço do carro e vou de encontro a ela, enquanto a vejo descer do carro.

— Que lugar é esse?

— Dr. Simpatia, te apresento o melhor cachorro quente de Washington — fecho a cara. Ela não pode estar falando sério! Eu pedi um restaurante e ela me trouxe em uma barraquinha de hotdog. 

— Raíssa eu disse que quero comer em um restaurante!

— Para de reclamar! Você vai gostar do cachorrão do Sr. Lió, é o melhor da cidade!

Tenho que me conter para não revirar os olhos, minha vontade é virar as costas, entrar no carro e ir para a minha casa. Antes não tivesse chamado ela para me acompanhar, e agora vim parar em uma barraquinha nesta praça. 

— Eu mereço — Resmungo, enquanto caminhamos.

— Aconselho você a pedir o dogão duplo, é uma delícia!

— Pode ser – falo mau humorado.

Não demora muito e o pedido fica pronto. Sentamos em um dos bancos, e tenho que confessar que o lanche está ótimo. Mesmo assim sinto falta de uma mesa, em um lugar fechado. Mas a simplicidade do momento e de Raíssa me fazem pensar que as coisas simples da vida também podem ser prazerosas. Comemos em silêncio, e sua pergunta veio logo após terminar o lanche:

— Gostou?

— É bom! — Não quero dar o braço a torcer. Ela faz bico e eu sorrio. 

— Ah fala sério doutor! Diz que adorou, é o melhor cachorro quente da cidade — argumenta.

— "Tá" bom! É ótimo, mas não posso afirmar que é o melhor da cidade, até porque não provei todos os cachorros quentes de Washington.

— Ok, espertinho — Raíssa pega os lixos das minhas mãos sem eu ao menos pedir, levanta-se e joga na lixeira do lado da barraquinha. Em seguida, volta a se sentar do meu lado — Você é novo por aqui? Faz quanto tempo que está em Washington?

— Faz uns quarenta dias, sou o novo chefe de cirurgia cardíaca do hospital — noto que ela me olha firme e engole em seco. 

— Que bom, Dr. Simpatia. Só espero que esse mau humor não afete seus pacientes! Devia sorrir mais vezes, ia alegrar muitas enfermeiras do hospital — esboça um sorriso contido. 

— Por que você me chama de Dr. Simpatia? Não sou sempre mau humorado, pelo menos não desse jeito que você fala — pergunto levemente irritado com sua implicância.

— "Tá" vendo só, você mesmo assumiu — Raíssa sorri — Te chamo assim porque nas primeiras vezes que, literalmente nos trombamos, você foi um grosso, de cara fechada e sem um pedido de desculpas. Me esborrachei no chão e você saiu como se nada tivesse acontecido. 

— Me desculpe então, Raíssa — fico sem graça. — Realmente, aquele não foi um bom dia. 

— Está desculpado! Vamos dar uma volta no parque? Adoro vir aqui durante a noite, as luzes dão um contraste lindo com as sombras das árvores.

Nos levantamos e fomos sentido à pista de caminhada em volta do belo lago.

— Você me disse que é voluntária no hospital, o que você realmente faz? — Lembro que ela me disse o que fazia, mas eu não conseguia me recordar.

— Dou aula de dança para as crianças da oncologia, elas não podem sair do hospital, então procuro levar um pouco de alegria. 

— Admirável! Algum tipo específico de dança?

— Sou bailarina, mas ali fazemos de tudo um pouco, claro que tudo respeitando as limitações de todos. 

— Assisti a um espetáculo de ballet uma vez, mas já faz muito tempo! – Meu telefone começa a tocar no bolso, quando o pego vejo que é do hospital, enquanto eu atendo continuamos a caminhar — Hale... Sim! Já estou indo! — Desligo encarando-a — Raíssa preciso ir, é uma chamada de emergência do hospital.

— Bem, eu também preciso ir doutor, amanhã será um dia cheio.

— Vamos! Te acompanho até seu carro — fomos em passos mais rápidos até o estacionamento.

— Até mais Dr. Hale!

— Até Raíssa! Boa noite — ela abre um belo sorriso, entra no carro, dá partida e sai. 

Pego meu carro e vou em disparada para o hospital. Parado em um sinal vermelho um sorriso brota em meu rosto, ela me chamou de Dr. Hale e não de Dr. Simpatia como de costume. O sinal abre e eu continuo o caminho para o hospital, sem parar de pensar no quanto a companhia de Raíssa foi agradável, e que desde moleque eu não comia em uma barraquinha de cachorro quente. Ela tem algo que me chama a atenção, e eu não sei dizer o que. Há muito tempo não me envolvo com ninguém, porque o golpe sofrido por Vivian e pelo meu próprio irmão, me fecharam para o mundo, e então não me relaciono mais. Minha ex destruiu o meu coração e levou com ele a vontade de ter alguém, e mesmo assim, Raíssa com seu jeito diferente me faz pensar diferente. 

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Até o próximo capitulo

Frágil Coração ( Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora