Primo capitolo

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Luccino Pricelli, o seu próprio nome sugeria, filho de imigrantes italianos do século XIX, o mais novo dos três filhos. Ernesto era o filho do meio, também havia nascido no Brasil como o mais novo, era um rapaz atraente e muito sagaz, tinha planos altos de se casar e enriquecer; Fani, a irmã mais velha, esta naturalmente italiana, amava suas raízes e nunca esquecia de Itália, apesar de suas poucas lembranças do país natal. Era uma moça alta e muito bem afeiçoada, trabalhava como governanta em uma mansão de uma família muito rica.

   Luccino diferente dos seus irmãos, trabalhava com o que gostava, não pelo dinheiro, era um simples mecânico, passava o dia arrumando seu velho automóvel e as incríveis motocicletas de alguns homens do Vale do Café. Pareciam futuristas, poderiam somente carregar uma pessoa, mas possuíam de certa velocidade.

   Luccino nasceu e cresceu no Vale do Café, já haviam se passado dezenove anos que estava naquele local, ele adorava, lhe traziam todo o conforto de uma pequena cidadezinha, mas ele queria se mudar. Sonhava com a nova São Paulo que estava sendo construída, com a antiga Bahia ou sonhava mais alto, queria o grande Rio de Janeiro, a linda capital que atraía atenção de todos os brasileiros.

   Luccino não sabia ao certo o que faria no seu futuro, imaginava que teria uma vida monótona. Logo teria que arranjar um emprego digno, se casar e futuramente ter filhos, mas não era isso o que sonhava para si, Luccino nem sabia ao certo o que realmente queria mas com a pressão de seus pais teria que rapidamente achar uma solução.

   O Vale estava movimentado, algo que dificilmente acontecia, Luccino ouvia risadas femininas vindo da rua e se inclinou pela janela do seu quarto para olhar. Era o batalhão. Luccino conhecia todos os soldados e o coronel, porém havia um homem diferente do lado do coronel, Luccino certamente não lembra de ter lhe visto, ele era magro e alto, estava usando uma bonita farda o que dificultava em ver outros detalhes de seu corpo, de perfil era possível ver um robusto bigode e ele sorria em meio a conversa que tinha com o coronel.

   Luccino pulou por sua janela e foi para rua descobrir mais informações sobre o que estava acontecendo e quem poderia ser aquele estranho homem. Ao chegar, Luccino encontrou Mariana, sua amiga desde longa data, Luccino nem lembra desde quando são amigos, mas lembra que foram criados praticamente juntos. Luccino sempre teve apresso pela família Benedito, ele os considerava uma segunda família e Seu Felisberto e Dona Ofélia consideravam Luccino como o filho homem que nunca haviam tido.

   — Mariana, o que está havendo? — perguntou o rapaz.

   — Ah, oi, Luccino! — a moça sorriu — Bem, eu não sei direito, mas, acho que é a chegada de um amigo do coronel Brandão. Parece que é um capitão.

   Mariana dizia com seus apaixonados olhos em reta ao coronel, Luccino sabia o quanto a amiga gostava dele e fazia todo gosto pelos dois, apenas esperava pelo coronel fazer algo a favor de ambos.

   — Vamos lá perto? — perguntou o italiano.

   — Claro! — a amiga se animou.

   Ao se aproximarem Luccino pode ter uma visão melhor do que estava acontecendo, realmente não conhecia o homem que estava logo a frente do batalhão, ele parecia ter uma postura firme e determinada. Ele tinha olhos castanhos, seguidos de longos cílios, sobrancelhas naturalmente bem desenhadas e um cabelo castanho que apesar de estar coberto pela boina, parecia ser penteado para o lado.

   O homem arrancava risadas de moças em suas janelas, ele sorria timidamente e escondia seu rosto ao olhar para o chão, mantinha sua conversa com o coronel e algumas vezes olhava ao redor do Vale. Seus olhos viajavam pela paisagem, admirando a beleza daquele pequeno lugar, deixou sua vista reta para olhar as pessoas que os cercavam e depositou seu olhos em Luccino por um momento que o fitava, ele se perguntava porquê aquele rapaz estava lhe olhando e porquê olhou para outro local quando seus olhares se cruzaram. Ignorou o fato e voltou sua atenção ao coronel, ambos seguiram o caminho com o batalhão e entraram no quartel, fazendo todos que estavam nas ruas voltarem a suas casas e a seus fazeres.

CAPITANO | LutávioOnde histórias criam vida. Descubra agora