Secondo capitolo

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   — É um bonito lugar, coronel Brandão — disse o rapaz andando pelo pátio do quartel.

   — Fico feliz que tenha gostado, Otávio. Sinto que terá bons momentos aqui, até as mulheres já estão lhe cortejando — Brandão disse com um sorriso malicioso e uma sobrancelha arqueada, Otávio riu tímido — Bem, ainda preciso fazer a recruta para novos soldados hoje, alguns estão prestes a completar 20 anos e serão essenciais no quartel — o homem andava em círculos, dizendo para si mesmo — Gostaria de vir junto, Otávio? Seria uma melhor oportunidade para conhecer o Vale e as pessoas daqui.

   — Claro. Iria adorar, obrigado — respondeu o rapaz.

   Ambos saíram novamente do quartel, andando pelas ruas da cidade, batiam de porta em porta atrás de novos recrutas, mas estava sendo uma procura falha. Haviam conseguido apenas um rapaz, cujo nome era Randolfo, lhe perguntaram se ele conhecia outros homens com a mesma idade e ele disse que talvez seria possível na residência dos Pricelli.

   Luccino estava em seu banho quando ouviu o bater na porta, gritou em forma de espera, pegou sua toalha e se secou imparcialmente, vestiu suas ceroulas e foi a porta para atender. Seu corpo estava quase completamente molhado, seus pés deixavam marcas dos seus passos no chão e seus cabelos negros caíam pela testa.

   — Sim? — o rapaz disse ao abrir a porta — Oh, céus, coronel! — possuía um tom de apavoro.

   — Oh... — Otávio disse ao ver o rapaz de ceroulas, virou-se e pigarreou.

   — Luccino, por favor, se recomponha, homem.

   Otávio ouviu de relance, soube no momento que o rapaz se chamava Luccino e que pelo visto, ele e o coronel eram próximos. Uma batida de porta e um pedido de desculpas também foi ouvido, Luccino havia entrado para se trocar, ele procurava roupas quase que como um louco, colocou-as rapidamente e voltou para a porta. Ele estava envergonhado, havia aparecido somente de ceroulas para o coronel e o novo homem do Vale, bateu a porta na cara de ambos, ele apenas queria fugir pela sua janela e sumir.

   — Me desculpe, coronel — Luccino se desculpava envergonhado —, senhor — dirigiu a palavra a Otávio que apenas acenou a cabeça em forma de entendimento.

   — Está tudo bem, lhe pegamos desprevenido — Brandão lhe confortou — Podemos? — fez sinal para dentro da casa e Luccino abriu caminho para os dois homens.

   O italiano estava curioso de o porquê deles estarem ali, estaria o tal capitão se apresentando em cada casa? Não, aquilo não fazia sentido, e se fizesse, Luccino já havia estragado tudo, havia praticamente ficado nu na frente de um homem. Seguiram pela casa e se sentaram no sofá, Luccino ofereceu alguma coisa para beberem mas ambos recusaram. O italiano percebera que o novo homem ainda lhe olhava envergonhado com o que acabara de ocorrer e isso fazia Luccino corar intensamente.

   — O que posso ajudar os senhores? — Luccino perguntara sentando em uma poltrona, de frente para ambos.

   — Bem, eu e o capitão Otávio estamos saindo pelas ruas procurando por novos recrutas para o exército, e fomos informados que você poderia estar apto. Suponho que já tenha quase 20 anos, não?

   Luccino sentiu um suor frio descer pelas suas costas. Ele teria que virar um soldado? Luccino certamente não queria aquilo. E além dessa preocupação ele prestou atenção em outro detalhe, no nome do novo homem. Otávio. Ele realmente era um capitão. Aparentava ser um forte capitão. Ele estava ali, apenas acenando com a cabeça para cada palavra que Brandão ditava.

   — Eu tenho 19 — Luccino respondera a pergunta — Isso realmente é necessário, coronel?

   — Estamos com pouca demanda de soldados, você tem um bom porte, achamos que seria uma boa ideia — Brandão respondera — Concorda, Otávio?

   — É, sim, você possui um bom porte, Luccino. Tem um bom físico, acho que funcionaria muito bem no quartel — disse o rapaz. Ele possuía uma voz ríspida, intensa e rouca em alguns momentos. Uma bela voz. Uma voz de um comandante.

   — E-eu tenho que ver isso com mais cuidado — Luccino gaguejava.

   — Tudo bem, Luccino. Mas não é como se você tivesse uma opção afinal. Eu vou lhe deixar em paz e depois podemos conversar com mais calma — disse Brandão, direto.

   — Tudo bem. Bem, obrigado, coronel — Luccino o cumprimetara —, capitão — ele ergueu sua mão ao rapaz e demorou para ter uma resposta, Otávio retribuiu o aperto, suas mãos eram suaves, apesar de possível ser sentido alguns calos — Levo vocês até a porta.

   Luccino seguiu os homens, abrindo a porta para os mesmos e esperando-os sair para fechar. Ele estava apavorado, não queria fazer parte do exército, isso nunca havia passado por sua cabeça, não sabia que seria necessário, Ernesto nunca havia precisado, ele pensou que o mesmo se aplicaria a ele. Amaldiçoou a si mesmo por ter um porte necessário, nunca havia feito algo sequer para ser assim. Odiou Otávio por concordar com Brandão e elogiar seu físico, tudo o que não precisava era algum capitão falando que ele se encaixava perfeitamente nos padrões do exército. Quem ele pensava que por um acaso era?

   Do lado de fora, Otávio e Brandão procuravam por mais rapazes para recrutar, mas não acharam mais nenhum. Perceberam que Randolfo e Luccino eram os únicos do Vale a se encaixar perfeitamente e não poderiam deixar nenhum dos dois escaparem.

   — Este Luccino parece que dará um bom soldado — disse Otávio no caminho de volta ao quartel.

   — Sim, ele é perfeito para o cargo. Além de um grande amigo, Luccino é bom em suas atividades, o vejo trabalhar às vezes e ele não para até tudo estar completo e perfeito — Brandão ditou.

   Otávio percebera que realmente os dois pareciam ser íntimos, não imaginava que Brandão tinha muitos amigos aqui mas concluiu que Luccino era um deles. Pelas palavras do coronel, o rapaz parecia possuir muitas qualidades, o que instigou o capitão. Ele certamente faria de tudo para colocar o rapaz dentro do exército, queria saber realmente se ele possuía toda esta perfeição, pois ele duvidava.

CAPITANO | LutávioOnde histórias criam vida. Descubra agora