Terzo capitolo

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   Luccino estava furioso, queria descobrir quem fora que lhe entregara para Brandão e o outro homem. Ficou pensativo por um longo tempo, procurando em sua cabeça quem poderia ter feito e apenas uma pessoa apareceu em sua mente: Randolfo. O amigo provavelmente havia sido recrutado e então, também quis entregar o italiano. Luccino bufou, bateu sua porta e dava passos duros até a casa de Randolfo, batia alto e forte em sua porta, chamando a atenção do rapaz que estava lá dentro.

   — Sim? — o homem disse ao abrir a porta — Luccino? — ele olhou confuso. O italiano passou direto por ele e entrou dentro da casa, Randolfo fechou a porta e se virou, sua testa franzida.

   — Foi você que me entregou, né? — Luccino disse em fúria — Eu deveria lhe matar! — gritou.

   — Desculpa, mas, eu não poderia me ferrar sozinho nessa.

   — É, mas foram bater na minha porta e eu acabei atendendo-os de ceroulas. De ceroulas! — Luccino exclamava.

   Randolfo gargalhou alto e viu Luccino ficar vermelho de fúria.

   — Meu Deus, Luccino, de ceroulas?! — ele riu — Me desculpe, meu amigo, mas agora estamos nessa juntos.

   — Que raiva eu tenho de você, Randolfo!

   Luccino bateu seus pés, cortando caminho por Randolfo batendo em seu ombro e fechando a porta durante assim que saiu. Bufava e sabia que se não se distraísse iria acabar fazendo uma loucura contra o amigo. Ele foi para sua oficina, iria passar algumas horas lá se caso fosse preciso. Precisava ficar sozinho e ter sua mente ocupada.

   Otávio andava pelo quartel, olhava para todos os cantos, vendo cada mísero detalhe. Seguiu seus passos até o jardim e logo depois entrou pela grande porta, observando a grande escada que levava para o segundo andar e os extensos corredores cheio de portas. Procurou por seu quarto, iria ter um apenas para si, diferente de qualquer outro homem do quartel. Desfez o resto de sua mala e arrumou suas roupas em uma cômoda próxima.

   O quarto tinha um leve cheiro de madeira e Otávio gostara. Deitou-se em sua cama por alguns minutos e ficava pensativo olhando para o teto, pensara em tudo que iria passar na pequena cidade e se poderia achar alguém para um compromisso. Otávio esteve em poucos relacionamentos, sua vida no Rio de Janeiro era muito acelerada, assim como a vida de qualquer cidadão morador da capital. Ele queria um lugar mais calmo para viver e assim que recebeu o convite de Victor, não pensou duas vezes antes de aceitar.

   O Vale realmente era um ambiente agradável, as pessoas pareciam ser gentis e algumas eram bem afeiçoadas. Otávio notara as mulheres que haviam lhe cortejado e algumas eram realmente atraentes. Brandão avisara para Otávio tomar cuidado com as messalinas, pois estas estavam sempre se fazendo de boas moças para arrumar maridos bem resolvidos. Otávio olhou pela pequena janela de seu quarto e notou como o dia estava lindo, ele ainda não conhecia o local por completo e estava curioso para fazer.

   Otávio desceu rapidamente a escadaria, chegando novamente no pátio, seguiu seus passos para o grande estábulo e montou em um dos cavalos, galopando por todo o Vale. Otávio seguiu o caminho por um pequeno caminho de terra, cercado pela alta mata e por belas árvores de Figueira. Era um espaço estreito e que provavelmente era despercebido por todos, assim Otávio pensara.

   De longe, Otávio observou o que parecia ser uma pequena cabana feita de madeira, o mato era bem cortado em volta e ela parecia ter ganhado uma mão de tinta a pouco tempo. Era uma pequena oficina, Otávio percebera assim que se aproximou, amarrando seu cavalo em uma árvore qualquer.

   — Olá? — Otávio proferiu assim que chegou na grande porta, não houve nenhuma resposta, então repetiu — Olá? Com licença — ele adentrou o local, levando um susto quando o corpo de um homem começara a sair debaixo de um dos veículos.

   — Capitão? — o homem proferiu, ele tinha sua pele completamente suja pela graxa, e era perceptível o suor em sua testa, segurava suas pequenas ferramentas nas mãos.

   — Sr. Pricelli — o capitão disse assim que reconheceu Luccino.

   — O que faz aqui? Como achou este lugar? — Luccino limpava suas mãos em um pequeno pano.

   — Estava andando com meu cavalo quando achei uma pequena estrada, ela acabou a me levar a este local.

   Otávio dava pequenos passos para dentro da oficina, observando cada ponto específico como sempre gostava de fazer. Uma teia de aranha aqui, um buraco que provavelmente dava goteira ali.

   — O senhor trabalha como mecânico? — Otávio perguntou quando olhou para Luccino, suas mãos atrás de suas costas.

   — Sim, considero um passatempo também. Teria interesse em algo? Estou concertando este carro aqui, por enquanto.

   — Ah, não... — Otávio recuou — Não sou bom com veículos motorizados, prefiro meus fortes cavalos.

   — Eu poderia lhe ensinar — Luccino disse animadamente, logo mudando seu tom —, claro, se o senhor concordar.

   Otávio ficou pensativo por um tempo, andou mais alguns centímetros e logo expeliu uma enorme quantidade de ar pelas narinas, fazendo um alto som.

   — Creio que não, porém, obrigado pela oferta. Pensarei com cuidado.

   Luccino sorriu de canto, seu rosto corou por alguns segundos pela vergonha de ter parecido tão animado, e de ter lembrado do acontecido algumas horas antes, quando pelo acidente, atendeu o capitão apenas de ceroulas.

   — Bem, tenho que continuar minha jornada. Adeus, senhor Pricelli — Otávio disse ao sair e montar em seu cavalo.

   — Adeus…

   Luccino respondeu praticamente sozinho, Otávio já havia saído e provavelmente não ouvira as palavras do italiano. Luccino bufou. Limpou o suor de sua testa e se pôs novamente debaixo do automóvel. Seria uma longa temporada no Vale e ele queria sumir antes que fosse recrutado, o mais rápido possível.

CAPITANO | LutávioOnde histórias criam vida. Descubra agora