Certo dia, Camila, uma mulher de um homem branco, conseguiu escapar da aldeia. Estava proibida de andar pela mata sozinha sob o pretexto de que poderia ser atacada por um selvagem qualquer. Contrariamente aos restantes que os consideravam seres inferiores, sem alma... Camilaadmirava o seu modo livre de viver.
Naquela floresta deslumbrante, a vegetação era diversa, bagas e frutos de todas as cores salpicavam a paisagem; tinidos estridentes de pássaros e uma incessante melodia de fundo das cascatas. Os odores misturavam-se e atropelavam-se: a terra molhada, a erva fresca, o cheiro das flores e o odor doce e simultaneamente ácido das frutas, despertavam as papilas gustativas de quem ali passa-se. Potyra encontrava-se no cimo de um rochedo, preparando-se para capturar um pequeno cervo. A agilidade e subtileza dos seus movimentos assemelhavam-se ao ritual de um predador na tentativa de capturar a sua presa. Potyra sentira-se observada. Uma delicada mulher de pele porcelana espreitava detrás de uma árvore, mas Potyra optara por a ignorar. De súbito, num só gesto, puxou a corda até à face e os seus dedos deslizaram ao longo da mesma, fazendo com que, num piscar de olhos, a flecha atingisse certeiramente o alvo. Potyra aproximou-se do animal e fez um corte no seu dorso. Impressionada, Camila soltou instintivamente um grito. Uma rápida troca de olhares provocou o pânico em Camila que permaneceu imobilizada durante alguns segundos. Iniciou uma marcha lenta em direção a Potyra, que a seguia com o olhar. A menos de um palmo de distância, Camila levantou os braços e fez um gesto simulando o lançamento de uma flecha. Potyra comtemplava-a perplexa. Repetiu o gesto e apontou para o arco que Potyra segurava, incitando uma resposta. As pupilas de Potyra dilataram e esta acenou com a cabeça, como que consentindo. Procedeu a uma demonstração e de seguida entregou-lhe o arco. Posicionou-se atrás de Camila, de modo a ter um maior alcance visual, e colocou os seus braços ao redor dos dela, posicionando-os estrategicamente. Com a mira no tronco de uma árvore fizeram várias investidas até que finalmente, a seta abandonou o arco. O impulso empurrou o corpo de Camila na direção oposta, desfalecendo nos braços de Potyra que estremeceu ao sentir o roçar da pele de Camila na sua.
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Potyra
RomanceUma índia brasileira e uma filha de colonos portugueses envolvem-se num amor impossível, separadas por barreiras culturais e preconceitos.