Potysaraûáîa era uma mulher indígena da tribo Tupinambá originária do território atualmente conhecido por Brasil. Os índios sempre viveram livres, despojados de qualquer preconceito ou vergonha. Viviam intensamente e não reprimiam qualquer sentimento. Tudo isso se alterou com a chegada dos colonos. Os homens brancos haviam voltado, mas desta vez para arrancar o pouco que ainda lhes restava. Obrigavam-nos a usar tecidos para esconder os seus corpos, impunham lhes práticas e retiravam-lhes até o mais básico dos direitos, a possibilidade de amar e de escolher a quem amar. Os colonos não toleravam relações homoafetivas, a poligamia ou até mesmo a nudez. Consideravam-nas práticas selvagens que rompiam com os valores religiosos. A sua proibição eram uma forma eficaz de domínio e controlo deste povo. Assim, quem fosse flagrado a infringir uma destas regras, tinha a morte como consequência. Os homens brancos trespassavam corações apaixonados como se a demónios pertencessem. Mas afinal, era mesmo para isso que ali estavam, para salvar aqueles seres pecaminosos da ignorância que os conduziria às chamas do inferno.
Era também comum os homens brancos violarem as mulheres indígenas. Foi o que sucedeu com a mãe de Potyra, esta fora estuprada e forçada a fazer sexo por um colono. Esse trágico episódio deu origem ao nascimento de Potyra. Ao completar quinze anos, a sua mãe encontrava-se bastante doente, persentia que não iria viver muito tempo e, por esse motivo, decidiu contar à filha o porquê de nunca ter conhecido o seu pai.
Esta acabara por falecer e Potyra prometeu que não descansaria enquanto não tirasse a vida ao homem que fizera tal atrocidade à sua mãe. Tal promessa veio a cumprir-se anos mais tarde, mas embora se sentisse vingada, aquele episódio assombrava-a permanentemente.
Para além disso, o preconceito que fora plantado na mente da comunidade índia, pelos colonos, passou a influenciar as suas relações. Potyra gostava de caçar e andava sempre de arco e flecha em punho. Tinha uma tez morena acobreada e um olhar negro e penetrante. Era indomável, de espírito livre, mas com um coração meigo. Cendy era a sua companheira, com quem tinha uma grande relação de cumplicidade. Passaram a viver escondidas, mantendo o seu relacionamento em segredo. Mas o medo e a pressão que experimentavam diariamente, obrigou ao fim desta relação, permanecendo apenas uma grande amizade.
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Potyra
Roman d'amourUma índia brasileira e uma filha de colonos portugueses envolvem-se num amor impossível, separadas por barreiras culturais e preconceitos.