Capítulo 5- Peças do puzzle

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Certo dia, num dos seus habituais encontros, Potyra levou Camila para apanhar alguns frutos. Deitaram-se à sombra de uma imponente árvore, saboreando aquelas suculentas bagas que haviam colhido. Entre mordidas e beijos, perderam a noção do tempo. O sol já se havia posto e não havia sinal de Camila no acampamento, por esse motivo, o seu marido decidiu iniciar uma busca pela floresta na tentativa de encontrar a sua mulher. Preocupado, decidiu partir em primeiro lugar. Não conhecia bem aquela floresta e, por esse motivo, acabou por se perder. Quando já estava prestes a desistir, ouviu um barulho sibilante que se assemelhava à gargalhada de Camila. Seguiu o som e deparou-se com a sua mulher beijando os lábios de uma índia, enquanto esta lhe acariciava a face. Ao observar melhor reconheceu-a como a assassina do pai de Camila. Enfurecido, agarrou Camila pelo braço e arrastou-a uns metros. Potyra tentara socorrê-la mas fora travada pela chegada de dezenas de colonos armados. Tomado pela vergonha e medo da desonra, ordenou que matassem Potyra, apresentando como motivo ter sido ela quem havia assassinado o seu sogro. Ao ouvir aquilo, Potyra entrou em choque. Num rápido raciocínio percebeu que o homem que violara a sua mãe era, na verdade, o pai de Camila! Dirigiu o olhar para a sua amada, a quem os olhos se inundaram. Sentiu um aperto no peito. A mulher que amava era na verdade sua irmã... Mas o que mais a angustiava era saber que Camila viveria o resto da sua vida ostracizada pelo preconceito da sua comunidade, e que não poderia fazer nada contra isso.

A sua testa regelou em contato com o metal da ponteira do mosquete. O atirador colocou a pirita e rodou a chave. Potyra fechou os olhos. Estonteada, ouviu um grito asfixiado que parecia distante. O gatilho foi pressionado fazendo com que a roda começasse a girar alucinantemente e gerando as faíscas que ativaram a pólvora que trespassou, instantaneamente, a cabeça de Potyra. Assim embarcou numa viagem sem volta, permanecendo apenas viva na memória, de quem alguma vez tentara decifrar os enigmas do seu olhar.  

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