Ele se negou a me dar seu endereço a menos que eu concordasse em dormir na sua casa, como eu neguei todas as vezes, acabei cedendo e deixando que ele fosse para o meu apartamento. Ele era teimoso e mimado pelo visto.
- Você vai dormir no sofá e tenta não roncar porque meu quarto é logo ali. - Entrei no quarto e voltei logo com um lençol e um travesseiro para ele. - Se quiser comer alguma coisa, pode ficar à vontade. Eu estou exausta e por isso tô indo dormir. Boa noite. - Fechei a porta e sequer dei a oportunidade de uma resposta da parte dele.
De madrugada eu precisava fazer xixi. Claro que não morava em um apartamento com suíte, então eu teria que passar pelo sofá para chegar ao banheiro.
Eu não estava conseguindo dormir direito, me revirando para todos os lados pensando no dia que tivéramos. André tinha um jeito meio grosso de falar, fora todos os demais defeitos que eu já reparara nele. Mas alguma coisa nele me fazia querer ficar perto. Algum tipo de vulnerabilidade e eu meio que entendi o que Teresa dissera sobre cuidar dele. Saí do quarto tentando não fazer barulho e reparei que ele havia tentado comer uma tigela de cereal, mas sujara a bancada com leite porque provavelmente ele era destro e sua mão direita encontrava-se indisponível. Morri de vergonha ao reparar que ele estava deitado somente de samba-canção, dessa vez de Toy Story. Andei rápido até o banheiro e quando saí tomei um susto enorme ao vê-lo parado perto da porta.
- Você só pode estar brincando. - Encostei no batente esperando meu coração desacelerar.
- Tô com fome. - Ele falou como se eu fosse a mãe dele e devesse alimentá-lo. - Não consigo fazer nada decente com a mão assim.
- Aposto que você não consegue fazer nada decente nem com as duas mãos boas. - Falei sem pensar e quase o soquei com o sorriso sarcástico que ele deu. - Idiota. Se vira. Quem mandou estourar sua mão no vidro do carro? Aliás por que você fez isso?
- Não quero falar sobre isso. - Seu olhar mudou em uma fração de segundos e de repente ele tinha aquele semblante triste e raivoso novamente. Passou por mim entrando no banheiro e fechou a porta na minha cara.
Quis socar minha cabeça na parede, mas quando ele saiu do banheiro, eu estava na cozinha fazendo uma omelete. Tentei me convencer que eu também estava com fome, afinal, não havia jantado, mas no fundo, sabia que estava fazendo por ele.
- Eu odeio ovo. - Olhei para ele com raiva e por pouco não acertei a frigideira quente na sua cara. Ele riu. - Tô brincando. Só gosto de te ver com raiva. Mas acho que já te disse isso. - Ele abaixou a cabeça um pouco envergonhado.
- Qual é a sua? Qual a sua história? Quem é você? E por que apareceu tantas vezes aleatórias na minha vida? Por que nunca falou comigo no escritório? - Eu saí cuspindo todas as perguntas que estavam entaladas há um tempo e de onde vieram essas, haviam muitas outras.
- Calma. Não vou responder tudo. Já nem lembro a primeira pergunta. - Ele riu e eu revirei os olhos. - Eu sou André, prazer. - Ele estendeu a mão para que eu o cumprimentasse.
- Joana. - Respondi automaticamente. - André, será que você poderia vestir suas calças, por favor? - Eu estava tentando não encarar, mas estava difícil. Ali na luz da cozinha, eu já tinha notado que não só os braços eram tatuados, mas o tronco todo também. Quase não conseguia entender quais eram os desenhos, já que eles se misturavam e francamente, nem tinha como ficar encarando seu torso até descobrir. Mas contrariando meu gosto pessoal e todos as primeiras impressões que tive dele, eu até estava gostando da visão.
- Ãh? - Ele olhou para seu próprio corpo como se só agora estivesse notando que estava quase pelado. - Tô bem assim. Muito calor. E pelo visto você também está sentindo calor, né? - Instintivamente olhei para baixo e lembrei que estava com calça comprida e uma regata comportada.
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Quais segredos ele esconde? [CONTO COMPLETO]
Teen FictionNa primeira vez que Joana o viu, ela achou que fosse louco. Na segunda, um embriagado. Na terceira, ficou preocupada com a frequência dos encontros inusitados. Mas quando a quarta vez chegou e ela passou a ver André quase todo dia, a curiosidade foi...