Acabei ficando nervosa à toa, já que ele não apareceu. Teresa não entrou em detalhes sobre o ocorrido e eu só fiquei sabendo que o carro já estava consertado e que o pai dele mal tinha tomado caso. Eu estava intrigada com a dinâmica daquela família e talvez tivesse muito, ou tudo, a ver com a personalidade aparentemente problemática dele.
Até quarta-feira ele também não apareceu e eu já estava com raiva, sinceramente. Sei que tínhamos ficado juntos dois dias e ele não me devia nada, mas poxa.
E então na porta da faculdade, quando eu estava saindo ao final das aulas, lá estava ele. Encostado em um carro tão lindo quanto o Audi do pai. Ele não estava de terno e as mangas da camisa pólo deixavam à mostra todas as tatuagens dos seus braços.
Percebi que algumas pessoas observavam curiosas e olhavam para saber quem ele estava esperando. Confesso que detesto ser o centro das atenções, mas senti uma pontinha de satisfação de vê-lo ali e ser por mim que ele esperava.
- Joaninha... – Miriam sussurrou no meu ouvido antes de atravessarmos a rua. - ... esse não é aquele cara que tava brigando no bar uma vez e derramou cerveja em você? – Que memória dos infernos tinha minha amiga.
- É ele? – Fingi que não sabia do que ela falava. – Não lembro. – Eu sabia que o olhar dele estava fixo em mim, porque o meu estava fixo nele.
- E por que ele tá olhando pra você desse jeito? – Ela me cutucou.
- Provavelmente porque está me esperando atravessar a rua.
- Pra quê? Te atacar? - Ela me encarou horrorizada e ficou mais chocada ainda quando atravessamos e andei na direção dele.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntei com um meio sorriso.
- Não é óbvio? – Ele me puxou pela cintura e deu um beijo que já me fazia falta.
- Sua ridícula, eu te odeio três vezes. – Miriam falou, me dando um tapinha na cabeça e saindo na direção do seu ponto. – Se não me contar o que está acontecendo, nunca mais falo com você!!!! – Ela falou alto, estando já meio distante. Eu ri, enquanto dava a volta para entrar no carro.
- Sério, o que você tá fazendo aqui? – Perguntei, já dentro do carro. – Você sumiu.
- Desculpa. – Ele pediu, enquanto ligava o carro e acelerava para sair dali. E não me disse mais nada. Aquilo me incomodou. Não é que ele precisasse me dar satisfações, mas caramba.
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Miriam não me deixou em paz um segundo até que eu contasse toda a história para ela. Ela ficou muito empolgada com os detalhes, mas preocupada com as atitudes de André. Ela tinha medo de ele ser alcoólatra ou briguento. Confesso que também tinha medo disso às vezes.
Mas eu estava gostando dele e não conseguia nem pensar em me afastar. Meu medo era me apaixonar de verdade e descobrir que ela tinha razão.
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Alguns dias antes do Natal, estávamos Miriam e eu na sua casa, comendo brigadeiro, de pijamas e maratonando a segunda temporada de “Os 13 Por quês”. Então como um choque para nós, vimos o personagem principal, Clay, fazer uma tatuagem de ponto e vírgula no pulso, em homenagem à Hannah, sua amiga que havia se suicidado na primeira temporada.
No mesmo instante nos olhamos e pausamos o episódio, começando a especular um dos mistérios que rondavam a vida de André. Procuramos no Google o significado real da tatuagem, algo que eu nunca havia pensado em fazer e fiquei seriamente preocupada que ele fosse depressivo. Se não fosse isso, alguém próximo a ele havia se suicidado e eu não fazia ideia de quem. Talvez uma namorada. Um melhor amigo.
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Quais segredos ele esconde? [CONTO COMPLETO]
Teen FictionNa primeira vez que Joana o viu, ela achou que fosse louco. Na segunda, um embriagado. Na terceira, ficou preocupada com a frequência dos encontros inusitados. Mas quando a quarta vez chegou e ela passou a ver André quase todo dia, a curiosidade foi...