Nossa Alteza

Eu preciso ser forte

Rachel saiu daquela sala envolta em uma mistura de sentimentos. Ao mesmo tempo que estava alegre pelo encontro ter ido, em parte, bem, estava com medo do tom adotado pela Rainha. Havia sido, claramente e explicitamente, ameaçada pela mesma.

Por mais que pensasse no assunto, não conseguia entender o motivo da proibição em falar sobre a sogra. Perdida em seus pensamentos, aproximou-se de seu marido, segurando gentilmente em suas mãos.

Oliver conversava com seu irmão, Vicent, e sua esposa, Katherine. Rachel cumprimentou a mesma e pôs-se ao seu lado, batendo papos triviais, não aprofundando em muitos assuntos.

Katherine havia entrado na família oito anos antes, gerado, e dado a luz aos futuros herdeiros do trono. Também plebeia, era uma mulher inteligente, perspicaz, mas também era algo que Rachel se recusava a ser: submissa. Por um momento, a Duquesa de Sucesso pensou em perguntar à cunhada se também havia assinado o termo, se também tinha tido aquela conversa com a Rainha, mas se calou. Não sabia até que ponto eram próximas, e se aquilo poderia lhe acarretar problemas futuros.

A cerimônia seguiu bem, e ao fim da tarde, a Duquesa e o Duque, assim como seus cunhados, futuros governantes de Safeland, e alguns outros membros da família real foram para um espaço reservado, comemorar a sós, sem mídia ou outros governantes, o aniversário de Príncipe Joseph, marido da Rainha e motivo de tal compromisso.

Joseph era um homem reservado, quase não aparecia na mídia, e embora tivera bastantes escândalos conjugais, sempre fora o homem de confiança de Mary. Rachel percebera que nem Oliver e tampouco Vicent, se comunicavam muito com os membros mais famosos da família: A Rainha, Joseph, seu próprio pai, ou sua madrasta. Apenas lhes respondiam o trivial, e buscavam conversar entre em si, ou com seus primos e tios.

Em certo momento da noite, os outros membros foram embora, sobrando assim, só os mais a suscetíveis assumir a coroa. A sensação, o clima do ambiente, mudou drasticamente. Olhares desconcertados, conversas sem rumo e, para Rachel, olhares atentos. Os mais velhos a observavam, como uma torcida em uma partida de futebol, analisando cada movimento, mas invés de um gol, esperavam um erro. Mas a jovem, agora por honra, seguia calculando seus movimentos e dando um show de elegância. Oliver sorria para a amada, querendo demonstrar assim algum apoio, mas estava desconcertado, e queria ir embora do local, embora não pudesse. A morena por um momento ponderou subir para seu quarto, já que dormiriam ali aquela noite, mas lembrou-se que fazê-lo seria um grande erro, afinal teriam que esperar a Rainha recolher-se para fazê-lo.

Acabaram a refeição, mas Mary parecia enrolar para se retirar. Parecia que ela gostava de sentir o desespero vindo de sua nova "neta". Oliver já estava entendiado, e mais ainda, irritado com aquela situação.

Joseph saiu de seu lugar e, suavemente, aproximou-se da Duquesa. Disse, de forma autoritária que precisavam conversar, e a levou para um canto mais afastado. Oliver tentou intervir, mas ela o indicou, com um sinal negativo com a cabeça, que não precisava se preocupar. Ao chegarem ao local, o marido da Rainha, com a mão, indicou para que a mesma se sentasse em uma poltrona e sentou-se em uma outra, que ficava de frente para a mesma. Tomou em suas mãos um copo de Whisky e ficou analisando a menina, que decidiu, então, cortar o silêncio.

— Primeiramente, senhor, gostaria de lhe parabenizar pelo aniversário.

— Obrigado. — disse com um vasto sorriso. — O que achou da celebração?

— Maravilhosa, Alteza. — disse agora um pouco mais calma, o tom de Joseph parecia ser calmo e amigável.

Ledo engano.

— A senhora deve imaginar o motivo de eu tê-la chamado aqui, certo?

— Não senhor. — respondeu sincera

— Ora, Rachel, você me parecia uma mulher muito mais inteligente. Agora que está em nossa família, acredito que posso falar com a senhora o que venho me segurando a dizer a muito tempo. Desde já, digo-lhe que, se dependesse de mim, você não estaria sentada nessa cadeira, tampouco dentro desse castelo.— sua sinceridade lhe era cortante. — Eu não concordo com esse casamento, tampouco com o fato de que a senhora trará afrodescendentes para a linhagem. Então, lhe aviso. Sei que tens ideais muito nobres, que é feminista, e militante. Mas aqui não é assembleia da ONU, muito menos parlamento americano. Somos a família Real. Não cometa o mesmo erro que Francis.

A americana fez menção em falar, mas seu marido a interrompeu, com um tom ríspido, tocou os ombros de seu avô.

— Não é de bom tom falar sobre minha mãe, vocês mesmos disseram. Porque insistem em falar sobre ela com minha esposa? O senhor já está de idade, Joseph, acho melhor se poupar.

Rachel assustou-se. Nunca vira seu marido falar daquele jeito com ninguém, ainda mais se tratando de seu avô. Levantou-se, desconcertada e sentou-se no seu lugar de antes. Observou, com o canto de olho, o patriarca da família levantar-se e ir até a Rainha, que assentiu-lhe com a cabeça, e levantou-se.

— Receio que nossa adorável noite, infelizmente, tenha chegado ao fim. Irei me retirar agora, tenham uma boa noite.

A Rainha deixou o ambiente, e Rachel a observou a subir as grandes escadas do local, sendo seguida pelo seu marido. Olhou para Oliver com um olhar aliviado, quando viu seu sogro também deixar o recinto, sobrando apenas seu marido, Vicent, Katherine e ela. O cunhado lhe olhou com uma expressão amiga, serena e compreensiva.

— Como foi o primeiro dia? Provavelmente puxado, né?

— Não, imagina! Tem sido maravilhoso! — falou desconcertada

— Não precisa manter a cordialidade com Vicent, querida. Ele é meu irmão, e, além de mim, uma das únicas pessoas, juntamente a Katherine. — a mesma sorriu de forma meiga para a recém-chegada — que você pode confiar.

— Você assinou, não assinou? — disse lhe a cunhada.

— Sim... — disse intrigada — pensei em lhe perguntar se fez o mesmo, mas fiquei com um certo receio...

— Não precisa ter receios comigo. Serei sua amiga aqui nessa família. Pode conversar comigo sobre o que quiser. — Disse sorrindo de forma acolhedora

Rachel agradeceu com um sorriso. Despediram-se e foram, cada casal, para seu respectivo quarto. Os recém-casados preferiram não conversar sobre aquela noite, que abalara a jovem, e deitaram-se, em silêncio, com suas mãos entrelaçadas, pensando sobre o que lhes aguardava para o futuro.

Rachel sentiu um frio na barriga e uma vontade extrema de falar. Tomando coragem e fôlego quebrou então o silêncio.

— Porque não podemos falar sobre sua mãe?