::: Capítulo 3 :::

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: O Frio de Seattle :


"Não deixe que a vida te diga o que fazer, ela não sabe de nada e sempre faz merda."

×××

: 12 de maio de 2020 :

O dia amanheceu, mas nem mesmo parecia ter acontecido. O sol com certeza estava escondido naquela névoa cinza que cobria o céu. Aquele nem parecia realmente o céu. Ana nunca conseguiu se acostumar com o frio, e sempre odiou o inverno. Pode parecer idiota, mas a estação era importante. Era extremamente importante quando Ana tinha que ir para escola - que ela não fazia ideia de qual era - e ainda ter que cuidar de Teddy.

A babá eletrônica mostrava o rosto do bebê que mordia e apertava o ursinho de pelúcia no berço, enquanto o despertador tocava às 6h15min.

Ela se levantou rapidamente e desceu as escadas, ainda confusa e sem conhecer a casa toda, tentando se lembrar qual era o corredor que ia para a cozinha. Esquentou a mamadeira de Teddy e deu para o mesmo, o levou para seu quarto e o colocou no bebê-conforto enquanto tomava seu banho.

Felizmente a água era quente, se não teria morrido congelada.

_ Ba-ba-ba nanana - Teddy "cantava" enquanto babava em seu brinquedo.

A morena riu enquanto secava o cabelo com uma toalha. Ela era doida, sabia disso, quem é que lava o cabelo às sete da manhã numa cidade fria dessa? Mas não tinha escolha, a cascata castanha já estava oleosa, e de algum jeito não conseguia se livrar do cheiro de avião. Com o cabelo lavado parecia ter sido renovada por completo, seu corpo, sua mente, sua alma.

Era a melhor sensação.

Pegou o bebê-conforto com Teddy e o levou de volta para o quarto, pegou uma muda de roupa que achou adequada para a escola e se pôs a secar o cabelo com um secador.

Não foi uma boa ideia, Teddy se assustou com o barulho e abriu a boca num choro alto.

Mesmo tentando acalmá-lo imediatamente, o menino não parou de chorar, e a porta de seu quarto foi aberta com um estrondo.

_ Por que esse menino não para de chorar? - Jack foi firme, o tom rude e totalmente intimidante.

Já estava acostumada com a falta de privacidade, assim como estava com o jeito rude de seu tio, sempre mandão e intimidador.

_ O barulho do secador - ela respondeu, num tom baixo e sem desviar o olhar de Teddy, que agora soluçava com o punho na boca.

_ Eu já disse que não quero ouvir um pio desse moleque, é melhor que isso não se repita.

_ Sim, senhor, me desculpe.

Jack revirou os olhos e bufou.

_ Apenas esteja pronta logo, odeio atrasos e você ainda nem fez o meu café.

_ Claro, eu já estou indo.

A porta bateu com um baque alto, e Ana fechou os olhos com força enquanto passava a mão freneticamente pelas costas do bebê, tentando impedi-lo de chorar outra vez.

Quando viu que Teddy já estava distraído novamente com seu boneco já todo babado, ela o colocou no chão, deixando o bebê sentado no tapete felpudo, e tratou de calçar os sapatos. Pegou a mochila e a bolsa do pequeno, verificando se tinha tudo o que ele precisava.

Não sabia onde ele ficaria enquanto estaria na escola, mas torcia para que fosse em uma creche, não gostava de pensar em Teddy com um estranho durante cinco horas. O bebê de apenas um ano e dois meses não gostava de estranhos, e tinha muitas manias e era extremamente mimado. Não era qualquer um que aguentaria.

Ana não tinha intensão de mimar o pequeno, sabia que não era certo, mas Jack era firme em deixar claro que não queria ouvir o choro de Teddy e nem mesmo lembrar da presença dele. Era bem complicado fazer uma criança entender que não pode ter tudo e ao mesmo tempo não deixá-lo chorar.

Suspirando alto, ela saiu do quarto com o bebê-conforto nos braços, sua mochila e a bolsa de Teddy junto com o próprio.

Ela se sentia incrível quando conseguia fazer coisas daquele tipo.

Seu tio que estava pronto para descer as escadas pegou as coisas, sem nem olhar para o bebê.

Uma coisa sobre Jack é que ele não ficava rondando a garota a cada segundo do dia em casa. Ana agradecia por aquilo.

A morena já não tinha dificuldade em distrair Teddy enquanto fazia o café da manhã, ou qual fosse a refeição do momento, e se sentiu orgulhosa quando o garoto estava quieto olhando para a mesma enquanto mordia o punho novamente.

Ah, os dentes. Ela só sentia dó quando o pequeno resmungava frustado por não suprir a necessidade de coçar a gengiva.

_ Vai acabar ficando doente com esse cabelo molhado - Jack resmungou enquanto a garota o servia.

_ Eu já vou secar - assegurou, se sentando numa das cadeiras.

Mordeu o lábio inferior quando percebeu seu estômago embrulhado, sem o mínimo de vontade de ter qualquer coisa em seu estômago àquela hora da manhã. Mas precisava comer. Jack ficava extremamente irritado quando a garota dizia que não queria.

_ Onde Theodore ficará enquanto estarei na escola? - perguntou, tentando ao máximo usar palavras corretas e gramaticalmente certas.

Seu tio não tolerava gírias de qualquer tipo e muito menos coisas de adolescente.

_ Na creche - foi a resposta que recebeu após vinte segundos inteiros de silêncio enquanto o homem decidia se respondia ou não a pergunta.

A morena pressionou os lábios um no outro enquanto cortava a panqueca e levava o garfo a boca.

Sabia que não iria receber mais do que aquelas duas palavras, então nem mesmo tentou insistir.

Ignorando toda sua vontade de vomitar, terminou de comer e subiu para o andar de cima com Teddy nos braços.

_ Já está atrasada - Jack falou enquanto a garota descia as escadas depois de escovar os dentes.

_ Desculpe - sussurrou.

O homem virou as costas e saiu do seu campo de visão em direção a porta.
A morena fechou os olhos e suspirou pesado.

Quantos suspiros já tinha dado só naquela manhã? E quantos daria até o fim do dia?

Saiu da casa rapidamente com Teddy antes que seu tio voltasse ressaltando o atraso de forma mais específica.

A College Elite de Seattle ficava à vinte minutos da casa, e a creche à cinco da escola. Jack a encarregou de buscá-lo todos dias depois da escola e que ele os buscaria lá até que os carros chegassem da Inglaterra.

_ Sim, senhor - respondeu sem questionar como sempre e após um beijo na testa do pequeno no banco traseiro, saiu do carro.

O pequeno era esperto, Ana sabia, e também sabia que ele já havia percebido que não seria levado com ela e que ele choraria alto no momento em que o carro começasse a andar. E seria assim pelos próximos dias até que os carros chegassem.

_ Mama, mama - o bebê resmungou, já não gostando de ver a garota não abrindo a porta traseira para levá-lo junto.

Ela sorriu minimamente para o pequeno e se afastou do carro, logo o vendo virar a esquina, levando a única coisa que importava no mundo para ela: Teddy.

×××

Aaaaaah to nem bem... Feliz Natal 🤗😫

50 Tons de Uma CicatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora