Capítulo 12

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Quando aquele tipo de pais corujas insistem em dizer “crescem tão rápido”, ou ainda, “podiam ser bebês para sempre”, pessoas comuns podem até imaginar que seja bobagem, mas, é quem passa por esse tipo de coisa que realmente vai entender. Eu já não tinha tempo para absolutamente nada, e o que me parecia algo distante ficou tão perto quanto fosse possível.

Realmente muito perto.

Os anos foram passando e como se o universo confiasse muito em mim, nossa família recebeu um apelido peculiar: A casa das sete mulheres. Esse acabou sendo um título de novela algum tempo depois, mas eu posso garantir que fomos nós que começamos essa fama. Sim, eram seis filhas, era muito trabalho, mas, eu nunca estive tão agradecida. Era como finalmente realizar um sonho que nunca sonhei. Eu nunca aceitei o conceito de que mulheres são criadas para determinado motivo, e homens para outro completamente diferente, somos todos livres, então porque não escolher o que realmente fizer bem? Contudo, foi provando da experiência de ser mãe que eu entendi a essência de amar incondicionalmente, entendi o que é se doar, entendi o que é colocar seus desejos em segundo plano e ainda assim se sentir satisfeita.

— Mamãe, a Nice tá cholando de novo... — Edimar aprendia coisas novas a cada dia e ainda se perdia um pouco com as palavras, mas, me ajudava com suas irmãs.

— Vou cuidar dela agora, meu anjo. Quer brincar um pouco aqui com a Eddy?

— Tá bom! — A pequena garota respondeu com um grande sorriso no rosto e assim que apertei a sua bochecha fui até uma das menores que acabara de acordar e choramingava.

A acolhi em meus braços onde ela passou apenas a soluçar devagar e foi se acalmando aos poucos. As duas ainda mais novas dormiam tranquilamente. Andei pela casa apreciando a brincadeira das três maiores e percebi que, segundo a sua imaginação, estavam numa espécie de lugar encantado.

Nossa região começava a atrair cada vez mais moradores, pois a seca que assombrava as redondezas era severa e ficava cada vez mais difícil permanecer vivendo daquela forma. O lugar onde estávamos ainda possuía uma grande represa que conseguia abastecer nossos lares. Mas, por quanto tempo isso seria possível se tanta gente começasse a aparecer?

Era meio de tarde, o calor era intenso, então abri as portas e janelas e aguardei a brisa fresca que demorou a chegar. Minha mãe não viria hoje então apenas me sentei junto com minhas filhas no chão da sala e adentrei no seu mundo mágico. Elas logo se decidiram por me tornar rainha do lugar e acharam que seria muito bom me preparar para um tal evento real que aconteceria — evento esse que dizia respeito à alguma coisa com biscoitos de goma que a própria rainha teria que preparar.

Minha cabeça ia de um lado para o outro com as pequenas mãozinhas que trabalhavam juntas em meus cabelos, e eu fingia não perceber que teria nós e mais nós para desembaraçar mais tarde. Qualquer coisa para ouvir suas risadas sinceras.

— Isso vai dar um trabalho depois — Laura apareceu na porta.

— Nem me fale... — Respondi acenando com a cabeça para que ela se juntasse a nós.

— MADRINHA! — Nal correu ao seu encontro e a abraçou pela cintura. Ela era a terceira filha pela ordem.

— Ei pequena! — Laura a pegou no colo e se sentou ao meu lado — Dia da beleza? — Ironizou.

— Na verdade... — Tentei dizer.

— Ela é a rainha, tia Laura! — Edimar foi logo explicando o que estava acontecendo.

— Humm... Acho que entendi! Vocês estão fazendo um bom trabalho — Ela olhou para o tal penteado enquanto prendia uma risada.

— Que tal a tia Laura ser uma princesa e vocês deixarem ela bem bonita enquanto eu vou buscar o nosso lanche? — Propus e recebi um olhar indignado de Laura que seria alvo das cabeleireiras reais.

Inconstante e BorboletaOnde histórias criam vida. Descubra agora