Carta a quem possa interessar

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 "Quer dizer que você ainda está aqui. Isso é surpreendentemente reconfortante. Porque eu tenho muito a dizer, e você está aqui para ler. Mas, mesmo que não houvesse uma pessoa sequer, eu ainda falaria. Então, espero que você se aconchegue, e trilharemos juntos o restante do caminho.

Eu me lembro muito bem do passado. Claro, não há outro jeito. É o que somos, é o que seremos. Entre idas e vindas, atrevo-me a dizer que consegui me sair muito bem, mesmo com todas as adversidades, e meu passado serviu de bússola para que eu não me perdesse no futuro. Contudo, neste instante, ainda que eu saiba, e ainda que eu espero, eu tenho medo. Eu já vi isso acontecer antes. Eu já senti todas essas dores, em minhas veias, em meu sangue, circulando por meus membros, transfigurando-me. Eu já cruzei esses limites.

Sabe, eu costumava ser alguém que não acreditava no perdão. Pessoalmente, eu tinha motivos para crer veementemente que as pessoas simplesmente não podiam se redimir pelos erros antigos, fadadas a conviver com o peso morto de suas escolhas pelo resto do tempo, amarguradas e atormentadas, como uma espécie de castigo divino. Ledo engano. Mal sabia eu que Deus tinha mais o que fazer do que sair castigando as pessoas – afinal, elas faziam isso sozinhas –.

Eu não acreditava em perdão, mas eu fui perdoado, e eu também perdoei. E, então, eu também não acreditava em destino – você já deve imaginar onde vamos parar com isso.

Eu conheci alguém. Não um qualquer alguém. Ah, não. Ele era especial. Nosso primeiro contato não foi dos melhores, mas, desde que pousei meus olhos sobre ele, cada célula do meu ser reconheceu sua existência, e eu estava fadado, atado. Prisioneiro, de grilhões e correntes, não a um lugar, não a um erro – a um par de olhos. E, Deus sabia, eu permaneceria preso com prazer por toda a eternidade, se fosse para tê-lo mais uma vez em meus braços. Nem que fosse preciso rever cada um dos pensamentos que regavam minha mente. E foi o que eu fiz.

Tenho orgulho de fazer parte de uma espécie com a capacidade sublime de evoluir sua própria entidade. Eu mudei, e graças a Deus por isso. Talvez nunca saberei se estava certo ou errado, e muitos dos erros que cometi estarão marcados em minha pele para sempre. Parando para pensar, doravante, não consigo me lembrar de tempos realmente de paz. Bom, eu seria incapaz de perceber – quando suas mãos estavam entrelaçadas nas minhas, não existia paz ou conflito. O mundo poderia ruir, eu não ligava.

Até que o meu mundo ruiu.

Posto a prova, uma nova vez. Mas o que seria a vida, se não uma sequência infeliz de acontecimentos ruins, cercados por instantes ínfimos de pura felicidade. O que eu sei, hoje, me ajudará no futuro, e uma estrada brilhante se abre para nós.

Você pode entender isto como uma oração. Uma prece, do mais profundo do meu ser, rogando para que minha fé seja renovada nos momentos de dificuldade, e que eu saiba agradecer as bençãos que me cercarem. Eu sou um pecador, e meu inferno pessoal é deliciosamente torturante. Ele é meu passado, presente e futuro. Ele é meu pecado e minha redenção. Ele é meu perdão e a expiação das minhas heresias.

Achou que tinha acabado? Não se engane. É pecaminoso, é impiedoso, é inesquecível. A aventura precisa ser lembrada, porque ainda há muito para se contar. E, se você não gostar da minha história, eu sinto muito – ela não foi feita para você."

Unforgettable (Larry Stylinson AU | Book III)Onde histórias criam vida. Descubra agora