Não há lugar melhor que o lar

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Capítulo II–

Louis sentia-se entediado, esquadrinhando os olhos pelo quarto. Já conhecia seus pormenores, como os varões de cortina não-utilizados, que foram instalados ligeiramente tortos; ou as manchas no rodapé, como marcas de cigarro, que contrastavam na parede límpida cor de gema. A janela estava aberta, mas pouco vento entrava por ela, assim como os primeiros raios solares que não eram suficientes para aquecer alguma coisa. Depois de analisar os cantos, o piso e as macas abandonadas, ele voltava, inevitavelmente, para o único resquício de beleza que ainda restava naquele cômodo.

Harry cochilava inquieto, apoiado contra a cama, as costas curvadas para longe da dura cadeira dobrável. Não deixavam que ele ocupasse uma das camas, e o homem tampouco aceitava ir para casa dormir. Dessa forma, a única solução foi o assento, que permanecia invariavelmente perto da beirada, de maneira que suas mãos pudessem se tocar embaixo dos lençóis que sempre cobriam Louis. Desejou que pudesse afundar os dedos contra o cabelo que escorria contra os panos brancos, a cor chocolate se destacando entre tantos tons pastéis. Seu rosto estava apoiado no antebraço esquerdo, mas Louis sabia que Harry acordaria com um torcicolo mais tarde. Suas horas de sono se resumiam a rápidos cochilos, quando o ambiente estava silencioso, mas nem mesmo assim ele conseguia descansar o suficiente. Louis sentia-se culpado por isso, todavia, nada do que argumentava era ouvido por ele – teimoso como era.

Ficava, apenas, a observá-lo. Louis não podia ver seu reflexo, mas, se pudesse, o que veria seriam olhos brilhantes, ainda que envoltos por um rosto magro e pálido. Não importava, sempre que seu olhar pousava sobre Harry, era inundado por um sentimento cálido, aquecido. Sem o rosto endurecido, o semblante irritado, a mandíbula sempre travada e os braços cruzados que saltavam os músculos sobre a camiseta, Harry não passava de um garoto – a boca rósea entreaberta deixava escorrer um filete de baba, e os cílios longos e invejáveis uniam-se, espessos. Suas pálpebras tinham pequenos espasmos, que faziam Louis pensar se ele estava tendo pesadelos. Desejava poder acariciá-lo enquanto dormia, mas seus braços estavam presos por agulhas e soros.

Suspirou. A posição era incômoda, mas ele se recusava a se virar. O monitor emitia bipes constantes, e, no silêncio, conseguia ouvir gota após gota caindo no tubo conectado à sua veia, alimentando-o. O cansaço físico e mental eram grandes, e, por este motivo, ficava sonolento quase todo o tempo. Mas não queria dormir. Dormir o levava para lugares onde não podia controlar os próprios pensamentos, e era ruim o suficiente quando estava acordado. Gostaria de parar de pensar, ao menos por algumas horas, porém sua mente era incansável, repassando vez após vez cada acontecimento.

Louis sequer se lembrava de sentir dor, mas ainda estava internado. Ele odiava hospitais. Quando ouviu os gritos, e sua visão localizou o carro em alta velocidade, vindo em sua direção, pensou que sentiria o impacto, e teve medo de que aquela fosse a última coisa que sentiria. No entanto, os braços de Harry puxaram-no para o chão, o tirando do caminho. Chocaram-se contra o meio-fio, no concreto duro, e ele perdeu a consciência, acordando já na clínica.

Por um momento, por um pequeno momento, não se importou com as agulhas enormes, os travesseiros incômodos, as máquinas barulhentas e as enfermeiras entrando e saindo. Não se importou, porque, pela primeira vez em tanto tempo, Harry estava ali. Do seu lado, segurando sua mão. Louis se lembrava de ter se surpreendido com os traços cansativos em seu rosto, e como ele parecia tão mais velho. O cabelo, maior e mais ralo; os olhos, mais opacos; o sorriso, mais contido. Contudo, aquele ainda era seu Harry, e suas mãos ainda se encaixavam naturalmente. Durou um instante, mas Louis não se lembrou de Nicholas Grimshaw, das brigas, do sofrimento, da mágoa. Eles estavam juntos, depois de anos – não importava para quão longe corresse, ele sempre voltaria para Harry –.

Unforgettable (Larry Stylinson AU | Book III)Onde histórias criam vida. Descubra agora