A mãe dele já estava de pé fazendo café quando acordei pela manhã. Pediu ao filho para buscar pão fresquinho na padaria. Agora ela me parecia bem mais simpática e agradável. Teresa Cristina, jovem, bonita, da pele clarinha, olhos castanhos, cabelos lisos tingidos com luzes, poderia facilmente se passar por irmã em vez de mãe. Trabalhava como vendedora em uma loja de calçados.
- Hoje eu não vou nem sair e beber que é pra acordar cedo amanhã e ir curtir a praia. – anunciou enquanto se sentava na mesa para comer.
- Então você vai folgar amanhã? - perguntei me juntando a ela.
- Ainda não sei. Mas eu vou pedir para eles lá na loja. Porque ah não, amanhã eu quero ir cedinho aproveitar a praia, quero nem saber.
Lembrei então do copinho de cerâmica que havia trazido de presente para o Rodrigo. Levantei e fui buscar na mochila. Talvez esse seja um curioso hábito meu, o de presentear pessoas. Em sua maioria homens, para ser franca, mas também o faço com muitas amigas e com quem me recebe como hóspede em sua casa. Nunca são presentes caros ou realmente úteis, como roupas, calçados e utensílios domésticos. São coisas feitas por mim ou que carrego comigo, desenhos, algum tipo de artesanato, um livro com dedicatória, uma carta ou um poema, um enfeite que trouxera de alguma viagem. Como se fosse uma parte minha que vai continuar na vida daquela pessoa mesmo depois que eu for embora. E desde que eu começara o curso de cerâmica, copinhos, pratinhos e outros objetos feitos em aula se tornaram ótimos presentes.
Entreguei o pequeno objeto nas mãos do Rodrigo sem nenhum embrulho.
- Foi você que fez? – olhou admirado.
- Aham! Fiz do zero, do barro. E esse foi o que achei que saiu mais bonito até agora, a combinação das cores do esmalte. – Tons de azul e caramelo casavam perfeitamente em duas faixas distintas ao redor do baixinho copo de cerâmica. Não tinha nada de especial, mas era bonito.
- Olha só Rodrigo, que coisa linda. Tem que guardar, heim? Não vai deixar quebrar. – observou Teresa sentada da mesa.
- Claro que não! Eu vou guardar. – Ele enfatizou olhando para a mãe.
Então se voltou para mim e agradeceu. Parecia muito contente com o presente, mas não consegui diferenciar se estava sendo sincero ou apenas educado.
Pouco tempo depois Teresa saiu para o trabalho. Antes ainda reparou que eu tinha comido apenas meio pão com manteiga. Insistiu para eu comer mais, perguntou se eu não queria que esquentasse o leite e serviu mais café na minha caneca. Diferente da noite anterior, parecia que ela apreciava minha presença ali.
Sem demora eu e Rodrigo começamos a organizar as coisas para partirmos rumo a Paraty e depois Angra. Apesar de nós dois já termos feito uma pequena compra para a nossa viagem, ele sugeriu que fôssemos ao mercado ali perto. Observamos o que tínhamos até então: macarrão, molho, bolachas, barra de cereal e miojo. Perguntou se eu achava que faltava alguma coisa. Instantaneamente pensei "alguma coisa alcóolica, por favor".
Troquei meu pijama por short e regata, calcei o chinelo e peguei a bolsa. Quando saímos pela porta reparei que o Rodrigo estava descalço. Ele percebeu:
- Ah eu estou na praia, certo? Então posso andar descalço. – Certo, assenti com a cabeça. Mas certo mesmo era que ele não tinha chinelo.
No mercado compramos mais molho e macarrão, bolachas salgadas e duas garrafas de Catuaba. Essa compra foi por minha conta. Voltamos até sua casa e terminamos de arrumar tudo. Rodrigo levava na sua mochila um cobertor, algumas comidas e suas poucas roupas, à parte carregava ainda uma barraca. Eu seguia com a minha grande e pesada bagagem cheia de roupas, toalha e cobertor nas costas, outra menor com comidas na frente e uma bolsinha de franjas com dinheiro e documentos pendurada no ombro. Partimos deixando a pequena Nuna sozinha no apartamento.
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Pepinos do mar e suas histórias
Non-FictionRelato da viagem de uma jovem pela baía de Paraty que toma rumos inesperados. Ela parte para encontrar um amigo caiçara e juntos aproveitarem o feriado em Ilha Grande. Mas no meio do caminho os planos mudam, ela acaba indo para Paraty e vivencia de...