CAPITULO 1 - Palestrante

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Era como um ritual.

Às sete em ponto as persianas do quarto de James se abriam, irritando os olhos extremamente verdes que ele tinha com os raios de sol. Ele se levantava sem se importar muito com quem quer que fosse que estivesse deitada nua na sua cama e seguia para o banheiro tirando os resquícios de perfume barato e sexo que estivesse impregnado em sua pele. O café era servido às sete e quinze pela senhora Jackson e às sete e dezesseis ele se sentava com sua roupa esportiva na mesa de vidro e comia suas frutas com seu hiperproteico, sem passar um dia que fosse sem fazer aquilo.

Aos 28 anos, Stark — como ele gostava de ser chamado — tinha um rostinho de dezessete, um corpo de dezoito e uma fortuna incapaz de calcular levando a idade em consideração. Os olhos verdes eram o que mais chamavam a atenção: duas esmeraldas brilhantes capazes de hipnotizar qualquer um que se aproximasse o suficiente. Os cabelos escuros eram lisos e revoltos e a barba por fazer o deixava com uma cara mais séria, mas só era usada em momentos oportunos.

— Bom dia, James. — Violet Jackson, a governanta e sua terceira avó, disse enquanto empurrava um copo de limonada para ele. Stark olhou para aquilo com certo desgosto ao ver que, como o recomendado, estava sem açúcar e mais azedo do que ele gostaria. — Notei que sua noite foi bem animada.

As bochechas de qualquer rapaz iriam corar com uma observação daquela sendo feita por uma senhorinha de meia-idade que batia abaixo do seu ombro, mas os cabelos brancos de Violet não o intimidavam, muito menos quando ela sorria de forma inocente como se não quisesse desovar o menino.

— Violet — ele disse pausadamente —, juro para você que ela é o melhor que o dinheiro pode comprar. — respondeu com um sorriso e ela revirou os olhinhos azuis antes de tentar lhe dar um tapa no braço, mas ele se esquivou.

Antes que Stark ou Violet pudessem dizer mais alguma coisa, a porta principal do apartamento se abriu e um furacão veio pela sala. Stark revirou os olhos e Violet se afastou com um sorriso nos lábios.

— James! — Margaret Stark disse aos berros. Sua mãe era bonita para a idade, seus olhos azuis, diferentes dos do filho, brilhavam em fúria enquanto parava com seu coque perfeito e a bolsa a tiracolo na frente dele. Stark filho não se importou muito com a intromissão, que infelizmente também estava se tornando rotina e continuou enfiando as frutas na boca. — Eu te disse, milhões de vezes, o quanto é importante para mim que você esteja presente hoje! Você é totalmente irresponsável, rapaz! Totalmente! Faz meses que eu conversei com a sua secretária e contigo, pessoalmente! E pedi para que marcassem a conferência com prioridade. Eu não sei o que se tornou desde que cresceu, mas eu tenho certeza que é um ingrato! Anos de dedicação, meses contigo dentro da minha barriga, mamando no meu peito para não receber um mísero do seu tempo! Quando eu morrer... — ela não pôde terminar a frase, já que a garota da noite anterior foi descendo as escadas descabelada, arrumando o batom e com os saltos na mão, o que foi o suficiente para a calar.

— Até mais, senhor Stark. — Ela deu um tchauzinho com a mão e se enfiou no elevador.

— O que significa isso? — esbravejou, batendo os Louboutin com força contra o mármore do piso. Stark se ergueu, limpando os lábios e tomando o suco azedo de uma vez só.

— Bom dia, mama. — falou se aproximando e beijando a testa dela. — Se lhe consola dizer, é o melhor que o dinheiro pode pagar. — Piscou para ela e Violet atrás de Margaret deu um risinho, enquanto o rapaz se afastava.

— James! — berrou, mas foi interrompida por uma piscadela e ele sumiu de seu campo de visão. — Não é só porque você é dono da cidade que eu não arranco sua orelha, garoto! — Foi a última coisa que ele ouviu antes de sair de casa.

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