Capítulo 5

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— Desculpa, mas isso é da sua conta? — A mulher perguntou bufando e cruzando os braços. Eu sentia o meu sangue ferver e uma vontade louca de os colocar contra a parede, de os fazer confessar.

— É a minha paciente, então, sim, é da minha conta! — Respondi de volta ficando de pé também. — Ela tem seis anos e foi achada com fraturas na costela em uma praça, sozinha, depois assinaram um termo de responsabilidade por levarem ela para casa antes do aconselhável, e agora, ela ainda nem se recuperou das fraturas nas costelas e já está aqui de volta por choque anafilático! — Eu dizia irritada olhando para eles com revolta. — Vocês tiveram sorte que o chamado foi para o mesmo hospital, porque se vai para outro e os paramédicos não sabem que ela tem fraturas nas costelas e acabam tendo que fazer massagem cardíaca o problema ia ser muito maior! Eles poderiam deslocar uma das fraturas e causar perfuramento de um pulmão ou do coração... Vocês têm noção da gravidade disso? — Eu precisava falar, eu precisava jogar toda a minha indignação na mesa, ou eu surtaria.

A mulher desconhecida apenas ficou me olhando, com os braços cruzados e uma cara de raiva. Camila bufou passando as mãos pelo cabelo e respirando fundo.

— Eu quero outa médica! — A outra mulher disse irritada, e Camila a olhou com os olhos soltando faíscas.

— Você não quer porra nenhuma! — Ela disse em um tom bem alto, com a voz estridente me causando um susto. — Caralho, Fernanda, porra! Será que você não está vendo a merda que etá acontecendo aqui? — Disse, submersa em raiva e se aproximando da esposa enquanto gritava. Senti meu corpo travar e meus músculos ficarem tensos, em alerta. Camila parecia explosiva e agressiva.

— Camila, é melhor você abaixar esse tom! — A outra respondeu, também irritada.

— Fernanda, eu juro que para eu não acabar com você, eu vou lá pra fora! — Respondeu se aproximando bem dela e a encarando com firmeza. — Essa é a porra da médica que Girassol tem e essa é a porra da médica que vai ficar com a porra do caso! E você não se meta! — Disse, ríspida, e saiu batendo a porta com força, dando-me outro susto.

A outra, que descobri ser Fernanda, me encarou, seus olhos pareciam capazes de me incendiar, de tanto ódio. E então eles foram se apagando e se encheram de lágrimas, que começaram a rolar por suas bochechas antes que ela pegasse sua bolsa e também saísse dali batendo a porta com força, outra vez.

Olhei para a menina na cama tentando decodificar toda aquela cena, tentando adivinhar o que talvez acontecesse dentro daquela casa. Todas as alternativas me levavam a acreditar que a causa de toda aquela situação era Camila, que parecia ser tão irritável, insensível e exaltada em todas as situações.

Respirei fundo fui até o móvel ao dado da cama hospitalar pegando uma tesoura.

— Mas que merda, tudo está tão fodido que nem os procedimentos estou fazendo direito! — Disse irritada com tudo aquilo. Minha cabeça estava tão cheia e eu estava tão focada em descobrir o que estava acontecendo com Girassol que nem percebi que todo o processo havia sido feito e ela continuava com as suas roupas, o que era um erro grave, considerando que passamos por um processo cirúrgico emergencial de traqueostomia. Comecei cortando com cuidado o seu casaco e encontrando novamente as mesmas marcas pelo seu tronco e braços; o nó que se formou em minha garganta me sufocava pela intensa raiva que eu sentia. Depois, comecei a cortar a calça que ela vestia e assim que cheguei ao joelho da perna direita dela deixei a tesoura cair no chão e coloquei uma das mãos sobre a boca sentindo-me tremer com o que eu via.

— Lauren, que bom que te achei, está rolando uma discussão de um casal ali na recepção e eu... — Akira parou me encarando assustada e depois olhando para a menina. — Paola, o que houve? — Perguntou tensa e eu a olhei sentindo as lágrimas se formarem em meus olhos.

Girassol  • CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora