— Jauregui... — Era a voz de Miranda, bem atrás de mim. Virei-me sorrindo amarelo, tensa. — Por que eu não estou surpresa por ter uma mulher enfurecida na recepção reclamando de você e da sua conduta?
— Miranda... Eu estava mesmo indo falar com você — menti. — Temos um caso de conselho tutelar e polícia!
— Outra vez isso, Lauren? Nós já conversamos sobre isso! — Respondeu-me aflita.
— Eu sei, mas agora nós estamos com a menina no hospital por uns dias, ela foi traqueostomizada, então não está podendo falar por enquanto, mas, assim que ela tiver podendo, teremos todas as provas necessárias e o mãe dela já está a par de tudo. Se você tivesse me dado um pouquinho de confiança e tivesse ido investigar o que eu disse, veria com os seus próprios olhos o corpo da menina e saberia que isso não é coisa da minha cabeça. — Respirei fundo. — Eu entendo que errei diversas vezes e que eu tinha deixado a morte da Francesca me afetar, mas você precisa entender que dessa vez eu tenho razão.
— Okay, Jauregui. Mas e a mulher irritada na recepção?
— Ela é quem eu suspeito ser a agressora e a outra mãe aparentemente não sabia de nada, mas... — Ía concluir, entretanto Miranda me cortou.
— Eles nunca sabem de nada... — Disse irônica. — Acreditou mesmo nisso?
— ela parece estar bastante afetada e em choque com toda a situação, até quis ir atrás da mulher. — Conclui. — Gostaria que você viesse no quarto de Girassol comigo para analisar a situação e depois fazer a denúncia — pedi.
— Vamos lá! — Ela disse dando-se por vencida.
Caminhamos juntas até o quarto e lá eu mostrei para ela todas as marcas que eu havia encontrado e conversamos um pouco sobre o caso antes que ela decidisse contatar a polícia e o conselho tutelar. Camila sentou-se na poltrona ao lado da cama da filha e me surpreendeu ao começar a despejar lágrimas pelos olhos.
— Não era para isso estar acontecendo! — ela disse transtornada enquanto eu e Miranda a encarávamos. — Girassol foi morar comigo fazem dois meses porque a mãe dela se suicidou... — Ela disse se levantando. — Foi muito inesperado, Girassol foi quem a encontrou jogada no chão da cozinha e ligou para a emergência. Desde então ela é outra criança... — Passou a mão pelo cabelo. — Girassol foi morar comigo no dia seguinte e teve que se adaptar a nova vida, mas eu não podia estar muito presente; com quatro restaurantes eu saía pela manhã e só chegava a noite... Ela ficava com a governanta da casa e com a Fernanda. Sempre que eu chegava ela já estava de pijama, como o quarto tem ar, sempre agasalhada. Por isso ela estava tão quieta... Como eu pude não perceber? — Ela me encarou, com aqueles intensos olhos chocolate e eu não sabia como a responder ou o confortar. Eu entendia a sua dor de se sentir impotente; eu sabia como era se sentir culpada por algo que fugia do nosso controle.
— Você ainda pode fazer alguma coisa... — Eu disse. — Ainda está em tempo! Nós vamos acionar o conselho tutelar e a polícia, mas você pode fazer a denúncia. — Sugeri.
— Eu não acredito que as coisas estão acontecendo dessa forma. — Ela suspirou. — Quando Girassol acorda?
— Amanhã ela já deve estar acordada, mas ainda não poderá falar, temos que fazer a decanulação primeiro. — Informei. — O processo deve demorar uma semana.
— Ela vai demorar a poder falar depois disso? — Perguntou.
— Não. — Miranda respondeu. — Dias depois a fala já se normaliza. Mas agora precisamos nos focar no que faremos a seguir. — Virou-se para mim e ordenou: — Jauregui, você vai pra casa e só volta amanhã! Nem estava de plantão, não deveria estar aqui e eu não vou falar outra vez! — Virou-se para Camila. — Você vai ficar aqui com a sua filha e esperar que o conselho tutelar e a polícia cheguem para fazer a denúncia. — Disse antes de sair do quarto.
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Girassol • Camren
FanfictionLauren Jauregui, médica. Ela sabe o que é sentir a dor, tão pura e tão pesada que chega a ser visceral. Ela perdeu tudo o que tinha de mais precioso e se afundou em um mar de tristeza, angústia e culpa tão grande que precisou ser afastada de sua pro...