A Humana

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Victor Price

Estávamos nos mudando de novo. Já estávamos tão acostumados a mudanças, que não ficamos surpresos quando Gaill - Meu pai - e Emilly - minha mãe - anunciaram que iríamos mudar. De novo.
- Está tudo pronto? - perguntou Emilly.
- Bem, já organizei todas as minhas roupas para a mudança. Então sim, já estou pronta! - disse Jeice.
O resto de nós não respondeu. Jeice era a única que ficava animada com as mudanças. Principalmente quando íamos voltar para nossa confortável e elegante casa que ficava escondida pela floresta em Curitiba.
Queria tomar um pouco de ar, então sai próximo às 22h e fui até o bairro onde íamos morar.
Conhecia todos os cheiros humanos dali, mas então, um cheiro diferente, doce e irresistível passou pelas minhas narinas. Vinha de um quintal grande, onde havia árvores e flores, delicadamente balançando com o vento.
Precisava controlar minha sede.
Estava prestes a ir embora dali quando ouço alguém pensando.
- Tenho que preparar tudo para Leah ir para a escola semana que vem. Será que o Estadual do Paraná é bom mesmo? Temo que Leah não vá gostar.
A mãe dela pensou. Conseguir ler as mentes das pessoas era meio ruim. Mas às vezes era de bom uso. Às vezes.
Logo percebi que o cheiro doce que tinha sentido não era da mulher que havia pensado, mas sim de Leah.
Fiquei surpreso com minha reação quando ela falou o nome Leah. Me senti tão encantado e atraído pelo nome que, se meu coração batesse, estaria acelerado.
Sai do quintal da casa e fui direto para a minha. Entrei sem dizer nada a ninguém e fui para meu quarto.
Quando Amanheceu, já estávamos prontos para ir para a casa.
- Victor está muito quieto. O que será que ele fez ontem a noite? - pensou Emilly, preocupada. Ela se preocupava com o fato de eu ser o único que não tinha ninguém. Gaill tinha a Emilly, Derick tinha Sophia, Mitchell tinha Jeice, Robert tinha Kristen e eu, eu não tinha ninguém. E eu não me importava mesmo com aquilo.
- Nada. - Respondi aos pensamentos dela.
Chegamos na casa e arrumamos tudo por lá em menos de uma hora. Um dos benefícios de ser um vampiro era que nós tínhamos uma velocidade extrema. Todos pareciam felizes, menos eu.
.....
Os dias se passaram e o primeiro dia de aula chegou.
Eu estava ancioso por ver Leah. Pera, o que? O que estava acontecendo comigo? Eu ancioso para ver uma humana? Se eu perder o controle perto dela pode ser fatal!
- O que foi, Victor? Está muito agitado. - Gaill perguntou, preocupado.
- Uma noite antes de vir para cá, saí e passeei pelas ruas daqui. E então senti um cheiro diferente, doce e atraente. Era de uma garota, Leah. Vou vê-la hoje no colégio, mais estou preocupado de não conseguir me controlar. - eu disse, angustiado.
- Filho, você se controla a cem anos. Sempre se controlou. E não vai ser agora que não vai. - meu pai disse, um tom encorajador.
- Eu sei. Mas mesmo assim vou manter distância. - eu falei, triste com a idéia.
- Faça o que achar melhor. Você já viu ela? - ele perguntou, curioso.
- Só nos pensamentos da mãe dela - eu disse.
- E ela é bonita? - perguntou ele, sorrindo.
- Pai! Bem, sim, ela é bonita. Mas nada a ver! - eu respondi, constrangido.
- Está bem. - ele disse, ainda sorrindo.
Quando ele disse isso, todos desceram do quarto. Estávamos prontos para ir.
......
Quando chegamos a escola, comecei a vasculhar os pensamentos de todos, procurando pelo rosto dela. Pelo jeito, ainda não havia chegado.
Entramos e ficamos no corredor conversando por algum tempo. Até que a vi. Ela estava com uma calça preta e uma camiseta vermelha. Linda.
Ela parou e começou a nos encarar. Senti algo no meu peito, era quente e bom. O que foi aquilo? Não importa.
Continuamos nos olhando, o cheiro dela era ainda melhor de perto. Controle-se Victor. Pensei comigo mesmo enquanto a olhava.
Escutei o coração dela acelerando e suas bochechas corando. Então ela se virou e subiu as escadas.
Imediatamente fui para sala, por outro caminho, evitando me encontrar com ela. Entrei e sentei na terceira fileira, torcendo para que ela não fosse da mesma sala que eu.
Então, escutei o mesmo coração batendo. Ah não. Pensei. O que eu ia fazer agora?
Ela entrou e parou abruptamente quando me viu. Me encarou alguns segundos e caminhou em direção ao lugar vazio do meu lado. Sentou me observando e eu a encarava.
Eu fiz o que pude, mas era impossível ler seus pensamentos. O que ela tinha? Continuei a encarar até que o professor entrou na sala.
- Muito rostos comuns do ano passado, me lembro de todos! Mas espere... Tem dois aqui que eu não conheço... - ele pensou, olhando para mim e Leah.
- Vocês devem ser os novo alunos da sala. Victor Price e Leah Masen, não é? Venham até a frente da turma e se apresentem. - o Sr. Roland disse, apontando para mim a para a garota ao meu lado.
Vi que ela me olhava do canto do olho. Estava tremendo e com o rosto vermelho. Estava nervosa.
Nos levantamos e fomos para a frente da turma.
- Bem, eu sou Leah Masen, tenho 17 anos e vim da cidade de São Paulo. - Leah disse, com a voz meio tremida.
- Eu sou Victor Price, tenho 17 anos e sou daqui mesmo, só mudei de colégio. - eu disse, calmamente.
Voltamos para nossos lugares e o Sr. Roland anunciou que iríamos a quadra jogar futsal. Leah parecia não gostar muito da idéia.
Fomos para a quadra e observei Leah jogando, ela era horrível! - eu ri desse pensamento.
Quando estávamos saindo da quadra, quatro pessoas se aproximaram de Leah. Uma delas era Daniel. O loiro alto que se achava o dono das garotas  daqui. Que perca de tempo!
- Nossa! Leah Masen é mesmo linda.
Pensou ele. Uma onde de raiva passou pelo meu corpo. Mais por que?
Daniel continuava olhando ela como se fosse cair em cima. Argh! Fiquei com vontade de ir lá e tirá-la dele. Estava com muita raiva dele.
Enquanto voltavamos para a sala, percebi que eles continuavam conversando.
- Acho que vou pedir o número dela.
Pensou Daniel. Rangi os dentes num rosnado baixo que só eu ouviria e entrei na sala.
As aulas passaram e fomos para o refeitório.
Os quatro novos amigos sentaram com Leah, e Daniel continuava a olhando sem parar. Minha raiva aumentou.
- Olhando a novata, Victor? - perguntou Derick em seu pensamento, sorrindo de lado, sem vergonha.
- Não importa o que eu estou olhando. - respondi ao pensamento dele, áspero.
Os outros me olharam sem entender o motivo de ter dito aquilo, eles não precisavam saber.
Continuei observando a garota.
- Quem são aqueles que estão com o Victor? - perguntou Leah, curiosa.
- Ah! Eles são novos aqui também. - Disse Stence. - mais já há rumores de que eles são filhos adotivos do Sr e Sra Price. A morena com olhos castanhos é a Sophia, o cara com ela é o Derick. A loira de olhos azuis é a Jeice, ela está com o Mitchell, ele também é loiro dos olhos azuis. A morena de olhos verdes é a Kristen, o cara com ela é o Robert. Eles são estranhos, nunca se largam e só se falam entre si.
- Super fora do normal. Principalmente o Victor - Olhei Mia quando disse meu nome, ela virou o rosto meio constrangida.
- O que foi aquilo? Parece que ele me ouviu quando disse seu nome. Mas ele está longe para ouvir. Ah, talvez foi só coincidência. Ou ele está reparando a minha beleza! - pensou Mia. Eu ri quando ela disse 'Minha beleza'.
Voltei a prestar atenção em Leah.
- Ele agiu estranho comigo desde que o vi. Ele tem me olhando o tempo todo, acho que ele me odeia. - Leah disse, parecia triste com a idéia de que eu a odiasse. Eu não a odiava, só a estava evitando para não cometer uma fatalidade.
- É, parece que o Price não para de te olhar. - Eu sorri sombriamente quando Stence disse isso e virei para meus irmãos novamente.
Eles me olhavam confusos.
- O que está fazendo, mocinho? Tá rindo de que? - pensou Kristen.
- Nada, nada. - eu falei, ainda sorrindo.
......
As aulas da manhã finalmente acabaram e estávamos liberados para ir embora.
Mas ao invés de ir para casa, segui Leah.
Ela entrou na casa com uma expressão triste. Não sei porque mais fiquei preocupado com isso.
- O que foi, querida? Parece meio triste. Algo aconteceu na escola? - a mãe dela perguntou, preocupada.
- Não, está tudo bem mãe, só estava pensando. - Leah disse, mais ela parecia triste. Mas porque?
Eu tive vontade de entrar e abraça-la e fazê-la feliz, mas eu não podia, não podia me dar o luxo de que ela soubesse que eu estava ali. De jeito nenhum!
Ela passou a tarde em seu quarto, fazendo o dever.
Quando começou a escurecer, voltei o mais rápido possível para casa, tomei banho, e voltei para casa de Leah. Ela já dormia. Subi e fiquei na sacada, em frente a porta de vidro, a observando.
Ela dormia em paz, serena, tranquila, linda. Ela era linda quando dormia. Eu estava encantado e atraído por ela. Queria ficar ali para sempre e não sair de perto dela.
Passei várias horas ali, a olhando. Até que de repente, ela acordou e sentou na cama. Eu me escondi atrás da parede. Eu escutei ela falando sozinha baixinho.
- Como eu sonharia com ele antes se eu só conheci ele agora? - ela disse, a quem ela se referia? - E por que a palavra "Vampiro" no meu sonho? - quando ela disse essa palavra, parei, congelado. - Será que queria dizer que Victor era um vampiro? - Arregalei os olhos ao ouvir isso. Fiquei muito pasmo. Será que ela sabia de alguma coisa? - Ah, qual é? O que está acontecendo comigo? Vampiros não existem! - essas palavras dela me acalmaram, e descobri que ela só tinha sonhado e não acredita que eu, ou melhor, que vampiros existam.
Ela voltou a dormir em paz.
......
Quando quase amanhecia, voltei para casa, desesperado para falar a Gaill o que havia acontecido.
- Gaill, preciso falar com você. Em particular. - Falei, olhando para as outras pessoas na sala.
- Claro, claro - disse ele, me puxando para fora da sala - Diga, o que precisa, Victor? - ele perguntou.
- Eu sei que vai parecer estranho mas, ontem passei a noite toda na casa de Leah, a observando - eu disse, cauteloso. Gaill me olhou com surpresa. - só que, uma hora ela acordou e começou a falar sobre o sonho dela. Ela perguntava a si mesma por que a palavra 'Vampiro' sempre aparecia em seus sonhos. Ela disse também que havia um garoto no sonho dela. E o garoto era eu! Eu!. Sabe o que significa?
- Eu não sei. - disse Gaill, pensando. - Ela acha que você é vampiro por causa do sonho?
- Acho que não. Ela também disse que vampiros não existem. - eu respondi.
- Bom, deixe ela pensar que é só sonho. - Gaill disse, me orientando. - Victor, você gosta dessa garota? - ele me perguntou, sorrindo.
- Eu não sei, pai. Sinto algo diferente em relação a ela. Sinto de devo estar por perto e que devo protegê-la. - eu disse.
- Victor, olha só você. - ele disse, apontando em minha direção. - Você nunca quis passar a noite na casa de alguém, nunca teve essa necessidade.
- Eu sei pai. Por isso estou preocupado. - eu disse, triste.
- Não se preocupe, filho. Estar apaixonado por alguém é um sentimento bom e único. - ele disse.
- Hoje, um garoto chegou perto dela, com pensamentos que me deixaram com muita raiva! Não sei por que. - eu disse.
Ele riu.
- Você gosta dela. Isso se chama ciúmes.
Ciúmes? Fazia sentido aquilo.
Será que eu, Victor Price, estava mesmo gostando de Leah Masen? Talvez.
- Eu nem sequer falei com ela - falei triste, dando de ombros.
- Tudo na hora certa, Victor. - Gaill disse. Como ele conseguia ser tão amável e sábio? - Você vai falar com ela e vai ser uma experiência muito boa.
- Obrigado, pai. - eu disse. Eu tinha sorte de ter Gaill como pai. Nós realmente éramos amados naquela família.
Fui para meu quarto e fiquei o resto do amanhecer pensando em Leah, e em como eu gostava da ideia de que ela sonhava comigo.
Aquele rosto não saia da minha cabeça. Ela era linda.
......

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