Três | já erámos, antes de ser

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Sempre odiei essa sensação de medo constante dentro de mim. Como se algo ruim fosse acontecer se alguém ficasse perto de mim por muito tempo. Como se eu fosse uma bomba explosiva disfarçada com uma caixa de presentes bonitinha. Aliás, acho que nada me definia tanto quanto isso. Eu era uma caixa de presentes bonitinha, daquelas que você olhava de longe e dizia: "Me parece interessante!". Você se aproximava, me conhecia, e em outras palavras, abria minha caixinha; O que talvez você não esperasse era que dentro de mim houvesse uma bomba, eu era destrutiva, eu causava muito estrago onde passava.

Normalmente as pessoas se afastavam de mim.

Eu costumava acreditar que ninguém me amaria, porque as pessoas não me conheciam, as pessoas só conheciam essa minha casca, o que eu transparecia. Eu era a típica pessoa que todo mundo gostava, mas que ninguém chegava a amar. Era um defeitinho aqui, outro defeitinho ali, entende? Eu costumava decepcionar, eu costumava não corresponder às expectativas que eu mesma colocava em mim, como um personagem que eu escrevia em cima de mesma. Como uma farsa.

Eu gostava de impressionar pessoas. Fazê-las se encantarem por mim era quase como meu combustível. Era o que me fazia sentir bem, menos substituível. Eu era única, não haviam contradições. Mas minha baixa autoestima relacionada a minha aparência e o meu grande medo de falhar sempre foi algo que afetou grande parte da minha vida.

Eu sempre pensava demais sobre isso e chegava a ser idiota. Eu ensaiava o que ia falar uma, duas, três vezes e ainda falava com medo, receosa se as pessoas se agradariam ou não. Não por elas, por mim mesma. Eu me achava tão boba, tão ridícula que minhas preocupações eram de um nível irracional. Eu era tão insegura que chegava a ser engraçado, ninguém fazia ideia.

Particularmente eu fingia bem. Esse sempre foi meu dom. Fingir, forjar algo que não existia. Fazer as pessoas gostarem de mim por um papel. Todos tinham suas formas de manterem a saúde mental, e bem, essa era minha forma. Ser outra pessoa. Mentir, enganar.

Era sobre isso que eu estava pensando quando senti alguém se aproximar, enquanto eu estava no jardim da escola escrevendo minha última página.

— Está inspirada, hoje. Sobre o que é? — Paul perguntou, se sentando do meu lado na grama.

Ah, claro, Paul era um amigo antigo meu e grande amigo seu também. Podia perceber isso pela frequência de vezes que via vocês juntos. Vocês tinham um grupinho na escola, um quinteto constituído por Paul, o mais divertido. Erick, o mais bonito. Pabllo e Daniel, dois malucos machistas, e bem, você.

— Sobre nada. — eu retruquei fechando o livro. — Como vai você? Novidades?

— Nenhum importante, só queria ficar com você um pouco pra variar. — Paul disse, mas antes que terminasse a frase você caminhou até onde estávamos junto dos restantes dos garotos. Eu me iluminei de imediato. — Ah, não, cara. Vocês estavam brigando de novo? — a voz de Paul soou cansada. Só agora eu pude reparar em seu braço e no ombro descoberto de Erick, ambos estavam machucados.

Eu sabia que você era agressivo, Isaac. Mas não imaginava que era nesse nível.

— Ah, isso? — você perguntou sorrindo, e nossa, Isaac, eu quase desmaiei quando você olhou pra mim. — Isso foi só uma brincadeira nossa. Sabe, amizade. — você o socou de demonstração.

    Paul rolou os olhos.

Ele era realmente diferente de vocês. Mais tranquilo. Eu gostava de Paul, ele era um dos poucos amigos que ainda me restavam e eu morria de medo de perdê-lo.

EU, MEIAS BRANCAS E MEU "QUASE NAMORO" (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora