Parte 1

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- Venha! – ordenou puxando levemente minha mão enquanto sorria largo.

- Não, não vou! – a frase saiu um tanto quanto ríspida de meus lábios, enquanto me forçava a permanecer firme no lugar em que estava, e o encarava de forma desafiadora, ou era o que acreditava parecer.

Mas essas coisas não funcionavam com Jung Hoseok, não quando ele sorria daquela forma, e até aquele dia eu não me recordava de nenhum momento em que aquele sorriso não estivesse ali presente no seu rosto bonito.

- Se não vier por bem, virá por mal você sabe! – avisou-me arqueando a sobrancelhas, o sorriso travesso já me dava a garantias suficientes que eu tinha perdido para ele mais uma vez, mas eu seria orgulhosa até o último instante para assumir.

- Você não pode me obrigar.

- Ok.

Uma simples concordância enganosa e segundos depois eu nem mesmo fui capaz de esboçar alguma reação. Ele apenas se aproximou com todo seu gingado e me jogou em seus ombros. Meus gritos indiscretos poderiam ser ouvidos por qualquer um, exigia irritada que me soltasse enquanto esmurrava suas costas, ele apenas ria, ria ainda mais alto a cada nova ofensa e exigência escusa. Mas a falsa irritação era apenas meu método defensivo para disfarçar a maneira estranha e sem explicação lógica com que meu coração acelerava a cada vez que ele me tocava despretensiosamente.

Naquele ponto todas as pessoas que estavam na festa nos olhavam, eu já estava envergonhada, e deveria ter adivinhado que ele não se satisfaria com um espaço aberto qualquer, ele nos levava ao centro da pista improvisada, e demasiadamente visada. Desisti de relutar e outra vez encerrei meus protestos inúteis, eu sempre desistia e embarcava em suas aventuras constrangedoras, bem, para mim seria constrangedor, ele com toda certeza brilharia, como sempre, como em todos os dias. Mas tudo bem se fosse com ele, tudo bem se for ele sorrindo para mim. Senti meus pés tocarem o chão, estávamos no centro da pista de dança propositadamente mal iluminada.

- Se está pensando em sair correndo, saiba que eu irei atrás de você aos gritos e seu constrangimento será ainda maior.

- Você não faria isso! - Eu sabia que ele bem seria capaz.

- Pague para ver!

Não, eu não pagaria. Houve vezes em que quis enfrenta-lo, mas nunca tive o espirito tão livre como o dele, suas loucuras pareciam certas porque ele tinha algo em sua alma que transformava tudo ao seu redor. Era comum dançar no meio dos corredores da universidade e até em cima da mesa no refeitório, ele ainda seria aplaudido, porque ele e apenas ele sorriria daquela maneira encantadora que mostrava a todos a sua volta que a verdade que ele em si não era algo desejoso de reconhecimento ou de aparecimento. Era apenas ele, sua liberdade faceira e quase infantil que trazia sorrisos com um sorriso. Estaria tudo bem se Jung Hoseok sorrisse para mim, e ele sempre esteve sorrindo.

Sua mão direita envolveu minha cintura sem timidez enquanto ele começava a se movimentar a minha frente tentando fazer com que o acompanhasse.

- Já disse que não sei dançar! – cruzei os braços forçando a melhor inexpressão que poderia fazer.

O fato era que tudo em mim queria se expressar, meu corpo expressava que o seu toque já não passava despercebido, que meu coração e meus pulmões reagiam a cada nova aproximação, contudo eu lutaria até o fim para esconde-las e mantê-las presas, bem longe dos olhos e conhecimento do garoto a minha frente. Não era para ser assim, eu dizia para mim todas as noites nos últimos dias, '' ele é apenas seu melhor amigo, seu coração deve ser grato e não ansioso''.

- E eu já lhe disse que não existe isso de não saber dançar. - a mão livre foi levada aos meus braços os libertando de minha pose indiferente. - É só você se mover conforme a música... - deu um passo e aproximou nossos corpos, e eu tremi ao sentir seu hálito quente sussurrando em meu ouvido, como se tudo aquilo fosse costumeiro e natural. - Se deixe levar pelo ritmo, não há segredo nenhum nisso. – O ritmo do ar quente que saiu de sua boca e alcançou meus ouvidos, era o único que eu sentia, e esse me fez ficar estática. – Por favor. Por mim.

O último pedido saiu carinhoso, melódico e inegável, eu estava rendida e quando ele se deu conta da vitória alargou ainda mais o sorriso. Baixei o olhar e suspirei fundo, me perguntei outra vez porque não conseguia vencê-lo, será que eu era tão facilmente persuadida daquela forma, mas juro não me recordar de sê-lo até que ele entrasse em minha vida, tornou-se assim tão difícil resistir ao seu jeito de menino e ao seu sorriso? Sim, sim para todas as questões anteriores, me era uma tarefa quase que impossível também compreender o poder que aquele sorriso possuía em mim.

- Só uma música! – Como que para manter a postura eu exclamei, mas acabei por sorrir com ele dando-me completamente por vencida. No fundo ele sabia que bastava apenas que sorrisse e ele teria o que quisesse de mim.

No auge do meu último ano acadêmico, eu jamais poderia imaginar que alguém surgiria para alterar todos os meus planos, minha rotina e até a mim mesma. Jung Hoseok me mudou, e me mudou de um jeito bom, nada sutil e até mesmo enlouquecedor, do tipo de loucura que é libertadora, eu não poderia ser tão desprendida como ele, mas agora eu me enxergava mais sobre os meus próprios muros, e isso era maravilhosamente bom. Mas eu nunca disse isso a ele. Eu apenas torcia para que ele fosse capaz de subentender a importância que passou a ter para mim, tornou-se prazeroso vê-lo tentando me convencer a viver e consequentemente ganhando sempre que tentava, porque em todas as vezes que ele derrubava uma de minhas paredes ele sorria, e esse sorriso era a única coisa necessária para mudar o meu dia.

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Olhei pela janela do táxi, fora impossível impedir que um sorriso se formasse em meus lábios, no instante em que música que dançamos naquela noite começou a tocar no rádio. Meu amor, apenas a insinuação de sua presença basta para trazer alegria aos meus dias.

QUANDO VOCÊ SORRIUOnde histórias criam vida. Descubra agora