Encontro

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Cap 1

A morte estava ali naquele momento, eu podia senti-lá, ou ao menos podia distingui-la do vento frio que vinha acompanhado da neve densa. Aquela manhã de inverno mais tarde seria dita como a mais fria do ano, e as pessoas nem mesmo saíam de casa.

Talvez seja o meu azar com relacionamentos, ou com a própria vida, mas nesta estupenda manhã, eu me encontrava no Parque da cidade observando o véu branco que cobria a vegetação ao redor.

Por que estava ali? Bem, essa é realmente uma ótima pergunta. Era um encontro, ou pelo menos o que deveria ser. Mas ela não apareceu, e eu amortalhado pela temível besta da esperança, permaneci ali, olhando para os lados como se esperasse o trem.

Lembro-me de estar com um pesado casaco negro e botas de neve, minha touca há muito já havia sido levada pelo vento. Se você observasse ao longe, eu seria como um ponto negro no meio de todo aquele mar branco.

Eu estava ali parado, me sentindo um idiota e me perguntando por que raios eu ainda não tinha ido embora, quando a senti. Era como se uma onda invisível de desespero me envolvesse por um segundo em meio ao vento frio, meu coração se acelerou e meus pelos se arrepiaram dos pés a cabeça.

Eu me lembro de olhar para o lado e avistar uma sombra negra disforme, que lentamente se dirigia para dentro das árvores, até que eu não pudesse mais vê-la. Pelo o que se pareceram minutos, eu permaneci ali paralisado, olhando para as árvores totalmente desacreditado.

Quando finalmente dei por mim, comecei a andar rapidamente em direção a saída do Parque, com meus pensamentos se embaralhando como cartas. Estava começando a me arrepender amargamente de se quer ter me levantado da cama de manhã, quando um som alto de galhos se quebrando ecoou por todo o Parque.

Com o susto, escorreguei e cai na neve. Procurei para ver de onde tinha vindo o barulho, mas tudo o que eu podia avistar era o mesmo mar branco. Até que, um movimento em meio às árvores fez com que o som de galhos quebrados fosse ouvido novamente, exatamente no mesmo lugar em que tinha se direcionado a sombra negra. De lá, saiu um homem alto com um casaco parecido com o meu, porém todo sujo de neve. Por um momento me senti aliviado, até perceber que o mesmo arrastava algo que parecia pesado no chão. Estreitei os olhos forçando a visão para conseguir indentificar o que poderia ser.

Era um corpo.

Milhões de coisas se passaram pela minha cabeça, mas além de todas elas, dominava o medo e a sensação de perigo era avassaladora. Ajoelhei na neve e tentei me levantar o mais rápido possível, porém o homem percebeu minha presença.

Nossos olhos se encontraram por um segundo e já pude sentir seu olhar pesado, tão gélido como a neve que cobria meus pés. Sua respiração estava ofegante e uma marca de sangue cobria-lhe o rosto, em questão de segundos o homem soltou o corpo imóvel de uma mulher desconhecida no chão. Desde então, tudo pareceu ficar em câmera lenta, foi no momento em que eu me virei e comecei a correr sentindo a adrenalina invadir minhas veias, que o homem retirou do bolso uma faca de cozinha, que parecia reluzir com o brilho da manhã. Olhei para trás e a vi novamente, a mesma sombra negra e disforme de antes parada em frente ao homem que me perseguia.

Os olhos dele se arregalaram, e sua boca se contorceu no que me parecia ser um grito angustiado. Ele também via a sombra negra, e tentava desesperadamente se freiar para não atravessá-la. Porém estava a toda velocidade, e o gelo escorregadio o impediu de conseguir parar. No exato momento em que ele a atravessou a sombra se desfez, deixando o homem estupefato e desacreditado caído ao chão. Enquanto eu me encontrava novamente paralisado, observando a cena.

Dizem que há certas coisas neste mundo, que só podem ser vistas por alguém que está perto do fim. Eu nunca acreditei muito nessas histórias, mas havia sempre algo que me incomodava. Talvez fosse pensar que um dia, nós todos encontraremos o nosso fim. Por isso eu sempre me perguntava o que eu veria quando chegasse lá.

Curiosamente, depois de caído, o homem não tinha percebido que corria em cima do velho lago Blue Tears, que estava congelado pela neve. Ou pelo menos era o que eu pensava.

A fina camada de gelo que cobria o lago, se quebrou com o peso do homem e abruptamente o jogou nas águas mortalmente gélidas. Ainda perplexo pelo o que tinha acontecido, permaneci ali parado por alguns segundos na expectativa de que o homem retornasse a superfície, porém nada aconteceu. Soltei minha respiração que nem sabia que estava prendendo, quando a sombra negra apareceu novamente, sobre o mesmo lugar em que o homem afundava. E desta vez, ela parecia ganhar a forma de um menino, que me encarava. Há muito eu já havia perdido minha sanidade, e um suor frio cobria minha testa. O desespero já havia consumido a minha alma, e antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa comecei a correr o máximo que pude, deixando para trás os dois cadáveres e a maldita sombra.

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