Cap 4
Um desespero corria por minhas veias, ecos de vozes invadiam minha cabeça.
A velha a me encarar.
ーArrependa-se! Arrependa-se de seus pecados...
ーComo você pôde vê-la? - As palavras saíam de meus lábios fracas e quase inaudíveis.A mulher apertou a cruz do rosário, os olhos trêmulos e assustados refletiam a residência do outro lado da rua.
Minha casa.
ーO povo das sombras. Espíritos malignos que perseguem àqueles que não respeitam as leis de Deus.
Por um segundo, em meio aquelas palavras tive uma sensação estranha. Como se sentisse que algo estava para acontecer. O silêncio se aponderou de nossas palavras, e os olhos famintos encaravam o relógio de madeira. O tic-tac continuava. Virei a cabeça devagar em direção a janela.
O corvo.
Aquele maldito corvo, se encontrava pousado em um mini cercado. Nos observando. A velha, ao se deparar com o pássaro enlouqueceu. Gritando, ela retirou uma grande cruz de madeira ao lado do relógio.
ーCRIATURA MALIGNA!!! Não ouse adentrar esta casa!
O corvo encarou a velha, parecia zombar e se divertir. Meus nervos à muito já estavam aflorados, e a cada segundo eu sentia que seguia para um terreno sombrio e escasso dentro de mim mesmo.
ーCALA A BOCA! - Gritei para a velha, que em resposta se ajoelhou no chão em seus sussuros. Ou seria melhor dizer 'soluços'?
Suas mãos tremiam e sua respiração era pesada, seus olhos cinzas estavam cheios de lágrimas. Seu coque alto, já se encontrava despenteado. Uma mecha caía sobre sua face.
Quando voltei o olhar novamente para a janela, o corvo havia desaparecido. O relógio começou a tocar. Aquele som tenebroso que engolia o silêncio, assim como o crepúsculo engolia a tarde. Mas por que ele tocava? Mal havia se passado uma hora.
A cada soar os sussuros da mulher ficavam mais altos, desviei meu olhar para o lado e meus pelos se arrepiaram quando foram de encontro a minha casa.
Em uma janela no andar de cima, parada a me encarar se encontrava a maldita sombra. E ela se manteve por lá até que o tic-tac habitual retornasse. Arregalei os olhos assustado e encarei a velha, quando o telefone na cozinha começou a tocar.
Nos entreolhamos por um instante, até que com passos pesados fui até o telefone e o atendi. Mas estranhamente, não importava o quanto perguntasse tudo o que eu podia ouvir do outro lado da linha era um chiado forte. O identificador de chamadas mostrava o número da minha casa. Como raios isso poderia ser possível?!
Foi então que de repente uma batida pesada veio da porta dos fundos, com o susto deixei o telefone cair no chão. A velha com os olhos arregalados correu até a porta gritando:
ーDelegado Rogers!!Porém quando a abriu tudo o que encontrou foi um amontoado de corvos, que grasnavam e invadiam a casa como se fugissem de algo. Os pássaros faziam um alvoroço, voando em círculos como se ensaiados. Alguns batiam com força entre si mesmos, outros nas paredes, fazendo com que caíssem ao chão.
Agachado pude ouvir um grito rouco vindo da porta aberta, pelo o que me pareceram alguns segundos a confusão se silenciou, e só o tic-tac era ouvido. Ao chão se encontravam alguns corvos que tinham seu pescoço quebrado, enquanto os outros tinham saído pela porta.
Olhei ao redor assustado. Além dos pássaros mortos que se espalhavam por todo o cômodo, havia vários objetos de vidro estilhaçados. A mulher retornou com um olhar de desespero, andou até um canto da parede e lá permaneceu com o rosto a centímetros do cimento frio. Parecia perturbada. E aquela reação estranha me assustava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SOMBRA
Mystery / ThrillerEm um dia frio de inverno, você pode acabar se encontrando com quem menos espera. • Inspirado nas obras de Edgar Allan Poe • Com referências PLÁGIO É CRIME