Arrependimentos

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    Eduarda acordou sem saber onde estava, sentiu um cheiro genérico e um frio que congelava até a espinha.
Estava com o corpo dormente, por isso não conseguia se mexer.

– Será assim o inferno? - pensou.

Aos poucos seus sentidos foram voltando, estava com os braços enfaixados e os punhos foram atados a barra da cama,tinham conseguido salva-la de si mesma. Uma enfermeira adentrou o quarto.

– Que bom que despertou! Vou chamar sua família,logo o um médico virar vê-la.

– Ótimo. - respondeu Duda sarcasticamente.

Rapidamente suas duas irmãs,Luíza e Elizabeth, e seu pai chegaram. Luíza, a mais nova, lhe trouxe uma flor para alegrar o ambiente.

Não comentaram nada sobre o ocorrido, apenas perguntaram se estava melhor.

– Sim.-mentiu.

Por dentro sentia um vazio profundo,como se a felicidade não existisse,e o seu corpo fosse apenas uma casca sem conteúdo.

– Meninas,por favor vão para cafeteria e comprem chocolates para a Duda, vocês sabem como ela adora eles não é? - pediu o pai.

– Sim papai.- respondeu Luíza.

Um silêncio reinava no ar. Aquele silêncio de seu velho pai, Arthur Lemos, lhe incomodava,ele era um homem falante. Era alto,bonito,olhos castanhos profundos que agora estavam cercados por rugas por causa da idade, e tinha um sorriso atraente, não entendia como um viúvo daquele ainda estava solteiro.

– Seriamente como está se sentindo? - perguntou quebrando o gelo.

– Como se tivesse sangrado até a morte. - retrucou Duda.

– Como pôde? - Arthur questionou a filha.

– Eu não sei. - respondeu Duda.

– Sabe o quão traumatizante foi para a Lizzie chegar em casa e encontrar a irmã naquele estado? Você não pensou em nós?Ou em Você? - Sr. Lemos começava a ficar furioso.

–Eu...err... -Eduarda não conseguia encontrar respostas.

– Eu não ia suportar,elas não iriam suportar. Não depois que perdemos a sua mãe. - o homem pensava em sua falecida esposa.

– Não envolve a mamãe nisso. - disse a garota furiosa

– Você foi a que mais passou tempo com ela,deveria sabe que se valorizava e que não criou as filhas para que elas jogassem a vida no lixo sem nem pensar nas consequências.

–Não tinha motivos para ficar. - a menina disse tristemente.

–Os motivos para ficar sempre vencerão os motivos para partir. - falou seu pai tentando fazê-la se arrepender.

– Eu estou morrendo,qual a diferença de me deixarem partir antes ou depois? - questionou Eduarda.

–Todos estamos morrendo. Você está doente,ainda não sucumbiu. - disse Arthur.

–Eu não estou doente.- respondeu, não queria admitir.

–Está sim, já se olhou no espelho?Está só o osso,perdeu mais da metade do seu peso. Não tem brilho, não tem cor, seus olhos perderam a vida. Onde está a garota forte, determinada e alegre que eu criei? - Indagou o Sr. Lemos.

– Não me lembro em esquina se perdeu,ou em que mundo se enfiou. - respondeu Duda.

– Você precisa de ajuda. - disse Arthur.

– Eu já disse que não preciso.-gritou,atirando a jarra de água que estava em cima do criado mudo na parede, quebrando em milhões de pedaços.

Eduarda estava ofegante e nervosa. Fitou os cacos de vidros e viu a si mesma rindo daquela situação,mas quando percebeu já tinha desabado.
Chorava como uma criança que perdeu seu brinquedo favorito,essas eram lágrimas verdadeiras que lavavam e purificavam a sua alma. Seu pai a abraçou,deixou que apoiasse a cabeça em seu peito e acariciou seus cabelos, assim como fazia quando era apenas uma menininha e se machucava.

–Por que as coisas tem que ser assim? -questionou Duda.

– O mundo é um lugar cruel,mas ele também oferece felicidade,basta procurar. Pode chorar,eu estarei sempre aqui para juntar os seus pedaços. - falou seu pai tentando consola-lá.

Eduarda pensou em tudo que tinha vivido até agora,tinha arrependimentos,mas não podia voltar atrás.

–Tem um internato experimental que seu médico me falou,fica nos USA. Lá oferecem apoio e ajuda a jovens que passam pelos mais diversos tipos de problemas.

–Eu vou, não tem mais nada aqui para mim.-respondeu Duda.

– Não fale isso. Eu sei que não é uma das que você queria,mas aqui está.-o pai lhe entregou um pacote.

Duda abriu apressadamente,leu o que estava escrito e começou a chorar novamente,mas desta vez era de alegria.

– A faculdade de desenho vai estar esperando você voltar,renovada e recuperada. -disse Arthur sorrindo.

– Quem sabe o universo ainda queira me ver bem? Quem sabe se ainda vou encontrar meu lugar no mundo? -perguntou Duda. 

– Você vai e eu e suas irmãs vamos estar aqui para te ver pintar seu sol,lua e estrelas.- disse o pai.

– E se eu não conseguir?-ela estava com medo.

– Vamos estar aqui para te reerguer. -falou seu pai alcamando-a.

– Obrigada. - agradeceu.

–Como diz George R. R. Martin: "Quando a neve caí e os ventos brancos sopram...- começou o pai.

–O lobo solitário morre,mas a alcatéia sobrevive." - completou.

–Somos a sua alcatéia e vamos lutar por você como lobos. - disse o pai.

Suas irmãs voltaram com os doces e viram a irmã mais velha chorando.

–Por que está assim guria? - questionou Luíza.

– Vou ter que me distanciar de vocês por um tempo. - respondeu Duda.

–Você vai embora?- perguntou Lizzie.

–Eu não vou demorar. - disse Duda.

–Promete que não vai mais fazer isso?- perguntou Lizzie preocupada com a irmã mais velha.

–Prometo que vou tentar melhorar.-respondeu Eduarda.

–Quem bom,porque se você morrer eu te mato.-disse Lizzie com um sorriso no rosto.

Eduarda se virou para seu pai e resolveu dizer uma coisa que sua mãe falaria naquele momento,baseada em livro que ela adorava quando era menor.

–Te amamos até a lua.

–Eu também amo vocês até a Lua,ida e volta.-disse o pai

Todos se abraçaram.

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