Uma competição se inicia

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— Cortem-lhe a cabeça! – gritou o rei e a lâmina da guilhotina desceu veloz, decapitando o pobre rapaz que ali estava. Jéssica estava aos prantos, chorando como uma criança enquanto Bianca a consolava.

— Calma Jéssica, tu precisas se acalmar... Eu sei o quão péssimo és escutar isto agora, mas tu tens que se recompor. Estamos na frente de quase todo o reino – Bianca tentava ajudar a irmã, enquanto a abraçava para esconder sua cara de choro.

Carlos, o antigo Bobo da Corte que acabara de ser decapitado, estava tendo um caso com Jéssica havia um tempo. Cedo ou tarde seu pai iria descobrir, e descobriu. Logo que soube, mandou o rapaz para a morte. O rei usou como desculpa a de que o moço não havia o feito rir, como era de se esperar de um Bobo da Corte, e que por isso iria receber severa punição. Os plebeus jamais deveriam saber que a sua própria filha estava tendo um caso com um mero funcionário do castelo.

— Atenção, plebeus! – bradou o rei. — A partir de hoje, abrirei as inscrições para o novo Bobo da Corte! Serão enviadas cartas para todas as casas com as regras e apenas um formulário de inscrição, que deverás ser devidamente preenchido e entregue ao castelo.

Após o anuncio, o rei voltou para o castelo juntamente da rainha e suas filhas. Ele estava tremendamente nervoso e bravo. Jéssica subiu as escadas e foi direto para o seu quarto, e Bianca foi atrás de seu pai.

— Oh meu pai, não precisavas ter feito aquilo... – falou enquanto se aproximava da beirada da cama.

— Por favor, filha, agora não – ele dizia enquanto massageava suas têmporas.

— Desculpe-me, apenas pensei que foi uma medida deveras drástica, pai. O senhor poderia ter só o exilado do reino.

— Por quê? – seu pai agora o olhava com desconfiança. — Tu estás tendo um caso com algum funcionário do castelo também, Bianca?

— Não pai! – Bianca o olhou com espanto. — Não estou tendo nenhum caso com ninguém, meu Zeus – o pai suspirou com alívio.

— Que susto, não quero mais nenhuma decepção, ainda mais vindo de tu, Bia – ele a olhou com ternura e ela o abraçou. — Tu sempre fostes mais responsável que tua irmã, mais madura e com mais bom senso, mesmo sendo a caçula.

— Tu não podes comparar-nos, principalmente porque no caso dela, havia sentimento envolvido. Não escolhemos de quem gostamos pai...

— Eu não escolhi a tua mãe e hoje eu a amo mais que tudo nessa vida. Foste um acordo de paz entre os reinos? De certo que sim, e não arrependo-me. Imagina se eu tivesse fugido com alguma plebéia e vivesse como um nômade por ai, pobre e sem onde cair morto! Graças a Zeus que isso não me aconteceu! Confiei nos teus falecidos avós para decidirem certas coisas em minha vida, e deu tudo certo – Bianca suspirou.

— Entendi teu ponto de vista, pai. Não irei discutir com o senhor agora, então deixá-lo-ei descansar um pouco. Foi um dia estressante e agitado – ela deu um beijo na testa de seu pai e saiu do quarto, indo direto para o de sua irmã.

— Jéssica? – bateu na porta três vezes. Nada. — Jéssica, estás ai? – ela encostou sua orelha na porta e ouviram-se pequenos soluços abafados. Bia resolveu entrar e deparou-se com a irmã jogada na cama, com o rosto nos travesseiros. Aproximou-se e lentamente subiu na cama, colocando a cabeça da irmã em seu colo. Bia começou a fazer carinho em seus cabelos castanhos claros enquanto cantarolava uma música calma.

— Foi minha culpa, não é? – Jéssica perguntou após um tempo, em meio aos soluços. — Ele estás morto por minha causa...

— Shhh... Tu não tens culpa de nada, pare com isso. Vocês amavam um ou outro, eu via nos olhos de vocês, o que aconteceu foi apenas o resultado de uma mente conservadora do papai...

— Tu achas que o que ele fez foi certo? – Jéssica levantou e a encarou no fundo dos olhos.

— Não cabe a mim julgar as decisões de nosso pai... Mas certo eu não achei. Em minha opinião, ele poderia ter resolvido isto de outra forma, menos esdrúxula – Jéssica ia concordando conforme Bia falava. — Porém... Eu o ouvi, e entendo o lado dele também Jé. A forma como ele foi criado e as coisas que aconteceram em sua vida o levaram a tomar essa decisão, por pior que ela tenha sido.

— Mas não faz nenhum sent...

— Ele só quer o teu bem – Bianca a interrompeu. — Não estou te pedindo para superar isso logo e esquecer, jamais te exigiria isso, mas não fique com raiva do papai. Por mais defeitos que ele tenha, e por pior que sejam suas decisões de vez em quando, ele só quer o vosso bem – Jéssica relutou um pouco, mas concordou com o que a irmã tinha dito.

—Sabe, tu és a caçula, mas parece que és a que tem mais maturidade aqui – rimos e Bia se sentiu um pouco mais tranquila de ver a irmã sorrir.

— Vou deixar-te um pouco com o teu luto. Acho que tu tens que sentir e colocar tudo para fora, não temos que ser felizes o tempo inteiro – ela sorriu e abraçou a irmã com força.    

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