O início de uma grande amizade

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O grande dia havia chegado. O primeiro dia da competição estava pra começar e os preparativos já estavam prontos. Bianca estava mais ansiosa que todos, apesar de tentar não transparecer isso.

— Estás tudo bem, Bia? Tu me pareces estar um pouco inquieta desde ontem, ansiosa eu diria – Jessica indagou enquanto a família caminhava rumo ao salão.

— Está tudo ótimo, irmã. É essa movimentação toda no reino que me deixa ansiosa – Bia tentou disfarçar e pelo visto havia convencido Jessica. — Além de que será uma nova pessoa a adentrar para nos entreter, para mudar os ares. E tu? Estais bem?

— Ainda não, é muito recente. Confesso que não estou nem um pouco animada com isso tudo. Não sei nem se conseguirei esboçar algum sorriso hoje... – respondeu melancólica.

— Vai dar tudo certo, não se sintas obrigada a rir de nada, só se tu se sentires confortável com isso, tá bem? – Jessica assentiu.

O rei entrou, acompanhado por sua esposa e suas filhas logo atrás. Sentou-se em sua poltrona, a rainha ao seu lado e suas filhas uma em cada extremidade. Mais cedo, havia uma fila quilométrica na porta do castelo, pois seriam distribuídas algumas senhas para as apresentações daquele dia.

O rei ordenou para que começassem as apresentações. O primeiro não consegue impressionar a ninguém e logo é enxotado para fora, o segundo consegue arrancar uma risada ou outra do rei, mas nada de mais, e assim vai seguindo a audição.

Conforme vai passando o dia, Bianca vai ficando cada vez mais ansiosa e impaciente. A cada pessoa que entra pela porta do castelo e não são os meninos, ela anseia mais e mais por eles. Muitos passaram por ali, mágicos, malabaristas, contadores de piadas e mímicos. Jessica não ria de nada e Beatriz estava entediada e cada vez mais ansiosa. "Quando é que eles vão aparecer?", se perguntava a todo momento.

Final de tarde. O sol já se pondo, e o último candidato entra no castelo. E para a infelicidade de Bia, não eram os meninos. "Será que ele mentiu pra mim apenas pra se livrar? Não, não, ele não faria isso. Por que eles não apareceram hoje?" se questionava enquanto o último se apresentava. No final, o rei riu de alguns, esbravejou contra outros e ficou sério muitas vezes. A rainha, com seu humor e riso fácil, adorava a maioria das demonstrações. Era conhecida por ser extremamente simpática, humilde e amorosa. Jessica mantinha seu humor morto e mórbido, e Bianca se contentava apenas em soltar pequenos risos de vez em quando, nada que a fizesse doer a barriga.

Bianca foi para o seu quarto frustrada e decepcionada. Queria ir tirar satisfação com Elídio por não ter aparecido, mesmo tendo prometido para ela. Mas não poderia fazer isso, primeiro porque já estava escurecendo e segundo porque iriam notar sua ausência, já que o jantar seria servido logo. Então, a princesa se contentou em apenas esperar pelos próximos dias a aparição deles. Se é que eles iam.

~

Mais dois dias se passam e nada deles terem aparecido. O rei já estava ficando impaciente com tantas pessoas passando por ali e nenhuma delas terem o feito gargalhar como o Carlos fazia. Ele estava quase arrependido do que tinha feito. Quase.

No quarto dia, as audições aconteceram normalmente. A surpresa veio no final, como em um filme onde o super herói sempre aparece na hora certa. Quando todos já estavam sem paciência, inclusive a rainha – porém jamais saindo de sua postura –, o grupo de rapazes aparece e para no meio do salão. O sorriso de Bianca claramente se alarga em seu rosto e Jessica nota a expressão da irmã. Elídio vê a princesa e dá uma piscadela discreta.

— Um grupo? Estes rapazes só podem estar de brincadeira. Não são permitidos grupos aqui, não leram as regras? Guardas! – disse o rei rispidamente. O desespero ficou claro no rosto dos meninos, que se entreolhavam nervosos.

— Calma pai! – disse Bia com a palma da mão estendida. — Deixa os rapazes se apresentarem, o que custa? – ela pousou suas mãos no antebraço de seu pai.

— Cust... – o rei começou a frase exaltado, mas logo cortou e respirou fundo. — Tudo bem, filha, porque tu pedistes eu irei deixar esses rapazes se apresentarem. Mas eles jamais serão aceitos aqui.

— Obrigada, pai, amo-te – Bia deu um beijo na mão do rei, ignorando completamente a última frase dita por ele.

— Nós agradecemos a oportunidade, vossa majestade – disse Elídio e todos se curvaram.

— O que nós iremos fazer aqui é apresentar uma pequena cena, fazendo uma sátira – explicou Daniel.

— A cena se chama Santa Ceia.

Os rapazes então se aprontaram e fizeram um pequeno cenário do famoso quadro de Jesus com os seus apóstolos. Com direito a fantasia e tudo.

— Ooooooh! – coro.

— Ooooooh eeeh! Êêê! Ê... – coro.

— Ê, micedê, micedê, micedê – Jesus olha para Judas, que resmunga.

— Irmãos, meu tempo está quase acabando. Tenho algo muito importante para dizer: Amanhã, há esta hora, estarei... É... Estarei... – Jesus parece estar procurando pela palavra certa.

— Morto – disse Judas.

[...]

— Eu tenho algo mais importante para dizer. Um de você irá me trair – Judas fica nervoso e olha para Jesus de canto. Bate os dedos na mesa.

— Serei eu Jesus?

— Serei eu Jesus? – Jesus repete com a voz esganiçada. — Ê, meu nome é Judas êeee – caçoa. – Vai embora ô, filha da puta! Eu joguei pedra na cruz, só pode.

Ao final da primeira cena intitulada Santa Ceia, o rei estava gargalhando como nunca havia gargalhado. E não só ele, a rainha e as princesas também, até Jessica conseguiu soltar algumas risadas. O rei estava vermelho de tanto rir, ele havia adorado.

— Brilhante! Genial! – Ele dizia enquanto batia palmas. Ele adorava quando tiravam sarro da religião Cristã, que pra ele não fazia o menor sentido.

Os meninos ficaram até um pouco sem jeito com a inesperada reação do rei. A princesa deu uma piscadela para os meninos, que agradeceram mentalmente, curvando-se.

~

Após o jantar, Bia correu para o seu quarto e trocou-se rapidamente. Precisava sair do castelo e ir parabenizar os meninos. Saltou pela janela e correu para a casa de Mariana.

Chegando lá, pediu a ajuda da amiga para encontrar os meninos. Mariana conhecia o vilarejo como a palma da sua mão e guiou a amiga discretamente. Elas não os encontraram em suas casas e em nenhum lugar, então Mari se lembrou de um bar que eles costumavam frequentar. E lá estavam eles.

— Bia, creio eu que seja melhor tu não entrares. Espere aqui fora, eu trago eles e vamos para um outro lugar, pode ser? – a princesa assentiu, sabia que seria melhor não entrar e esperou por eles do lado de fora.

— Olá meninos! – Bia disse quando os viu saindo do bar e abraçou um a um, parabenizando-os.

— Vamos para a minha casa, compramos um barril de vinho – disse Daniel acompanhado de uma mulher. — Ah! Não apresentei uma a outra, princesa, essa e a Karina, minha namorada de longa data, e Ka, essa é a princesa Bianca, que tu já sabes porque né, ela é a princesa e coisa e tal – Bia revirou os olhos, com um sorriso de canto.

— Coloca longa data nisso – Karina e Bia riram, acompanhado dos meninos. — És um enorme prazer conhecer-te pessoalmente, princesa.

— Por favor, parem de me chamar assim. Para vossas pessoas aqui presente eu sou apenas a Bia.

E todos foram para a casa de Daniel "comemorar". Eles não tinham ganhado a competição ainda, mas pelo o que a princesa Bianca tinha dito a eles, o rei não rira daquele jeito em nenhuma apresentação. Conversaram e beberam por muito tempo, menos Bia, que não podia voltar para o castelo bêbada. Mas ali era o início de uma grande amizade.    

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