História

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Dois meses se passaram, eu e Harry havíamos saído mais vezes, até andamos de mãos dadas, quando estávamos passando por um bonde de garotos, ele segurou minha mão.

Hoje, segunda-feira, depois da aula, fui para a agência, Harry já estava em sua mesa trabalhando, mas parou e sorriu quando me viu entrar.

— Mellanie, tenho uma novidade.

— O quê? — me aproximei de sua mesa.

— Meu pai disse, que dará um partezinha da revista para mim, posso colocar o que eu quiser lá.

— Ah, e já sabe o que vai colocar? — fui até minha mesa e me sentei.

— Sim, sobre nós. — eu o olhei com o cenho franzido.

— Harry, ninguém quer saber sobre nós.

— Será uma pequena parte para descontrair. Eu contarei uma história legal do que aconteceu comigo, e você com você. Talvez as pessoas gostem e comecem a mandar histórias para nós.

— Talvez dê certo, mas eu não tenho nada para contar.

— Pode ser qualquer coisa legal, como seu primeiro namorado, seu primeiro beijo, primeiro encontro, o alvo será os adolescentes.

— Mas, eu não tive meu... — não terminei a frase, mas já era evidente o que eu iria dizer.

— Você nunca beijou? — neguei com a cabeça, enquanto olhava as paredes, ele me olhava fixamente, mas logo riu. — Bom, então conte algo que aconteceu com você, sei lá.

— Tentarei o melhor. — sorri e liguei meu computador.

Anunciei algumas revistas na internet, e chequei meus e-mails, abri as notas e comecei a pensar em algo interessante.

Nada, simplesmente não vem nada na cabeça. Fiquei observando Harry fazer seu trabalho, pensando em algo, mas logo surgiu uma ideia.

" Uma história minha? Eu não tenho tantas histórias, minha mãe sempre me prendia dentro de casa, eu não podia me machucar, e isso era culpa da minha doença, se eu me machuca-se, o machucado nunca iria sarar, eu não entendia o porquê de apenas eu ter aquilo, não achava justo, eu via outras crianças correndo, brincando, caindo e se levantando, elas choravam, mas logo já estavam correndo e sorrindo novamente, eu não podia fazer aquilo, se eu caísse, não iria mais me levantar, as pessoas me chamavam de fresca, falavam que eu estava mentindo quando contava sobre minha doença. Quando fiz 9 anos, meus pais foram embora para o exterior, e eu fiquei morando com minha tia, ela não era super protetora, ela nem ligava para mim, assim vi uma oportunidade de experimentar as coisas de crianças.

Por um dia, eu consegui ser a pessoa mais feliz do mundo, eu corri, pulei, rolei na grama, cai... Mas, de tarde, uns meninos me desafiaram a subir em uma árvore, e assim fiz, quando cheguei no topo, tinha uma cobra ali, eu a olhei desesperada, e eu tinha duas opções ou era picada ou me jogava e quebrava alguns ossos, meu pânico por ver um animal selvagem de perto foi maior, eu me joguei no chão. Eu apenas me lembro daquela dor agonizante e insuportável, meu osso havia claramente quebrado, meu braço, tinha um pedaço enorme de osso saindo do cotovelo com minha pele rasgada, eu não sentia meu braço, chegou uma hora que a dor era tanta que eu não sentia mais nada, minha visão ficou branca e eu apaguei. Acordei em um hospital, meu braço estava costurado, um médico chegou e me contou que eu havia passado por um cirurgia, eu estava apagada a um mês.

Depois disso, minha tia não me deixou mais sair de casa, e agora eu sabia o quanto meu corpo é vulnerável. "

Antes eu não gostaria de contar essas coisas para milhares de pessoas, mas agora eu penso, eu irei morrer, e essas lembranças irão comigo, por que não compartilhar? Há algum tempo, eu decidi viver minha vida intensamente, e eu sabia que o tempo que eu tinha não era muito pra ficar de enrolação.

Salvei a história e mandei para o e-mail de Harry, ele me olhou quando recebeu. Alguns minutos depois ele estava lá, olhando chocado para a tela do computador.

— Você é maluca? — ele indagou.

— Por quê?

— Você podia ter morrido!

— Mas não morri. — dei de ombros — E então, gostou?

— É... tocante, né. É uma história legal, mas me diga, você ainda tem essa doença?

Eu não queria responder àquela pergunta, se eu falasse, ele sentiria pena, e me protegeria de tudo, como todos fizeram.

— Não... — menti.

— Que bom. — ele voltou a olhar para o PC. — Eu também terminei a minha.

Recebi um e-mail dele, abri e comecei a ler.

Falava sobre uma menina que o seguia, era bem engraçado, no final ele mudou de casa, a menina ficou bolada e acabou.

— Ficou legal. — falei sorrindo.

— Obrigado. Ah, e eu preciso de duas fotos suas.

— Para quê?

— Para colocar na revista.

— Precisa mesmo da foto?

— Sim. Eu já escolhi, essas duas. — ele me mostrou o celular e eu me aproximei, em uma ele sorria e a outra ele fazia " V " com a mão.

— Eu não tenho fotos... — falei com vergonha.

— Então tire... celular... sabe?

— Meu celular não tira fotos. — falei rápido e simples, ele me olhou surpreso, pegou seu celular fez a senha e me deu.

— Agora não tem desculpa.

— Obrigada. — me levantei.

— Posso ir pra lá? — apontei para o sobrado que tinha ali.

— Sim.

Eu fui para o sobrado e tirei duas fotos, as duas sorrindo, eu achava que ficava bem melhor quando sorria. Voltei para dentro e o entreguei o celular, ele olhou e sorriu.

— Você ficou bonita.

— Obrigada. — me sentei na cadeira.

— O que eu faço agora?

— Venha aqui e me ajude. — arrastei minha cadeira para o lado dele.

— Vamos montar um designer para nossa parte, ideias?

— Um fundo com uma das fotos meio transparente, o texto no centro, do lado alguns " extras ", do tipo: "Mande sua história", e em baixo a outra fotinha mais nítida.

Ele fez exatamente o que eu disse, sorrimos com o resultado.

— Ficou bom. — ele disse e eu sorri.

— Eu sei. — falei me gabando, ele me olhou sorrindo ironicamente.

Meu celular apitou, avisando que era hora de ir para casa. Me despedi de todo mundo lá e fui, a noite caiu, fiz o de sempre e fui dormir.

No dia seguinte, eu acordei com uma dor insuportável de cabeça, me sentia fraca, tentei me levantar mas cai no chão, eu não sabia o que estava acontecendo. Estava com vontade de vomitar e tontura.

Peguei meu celular e liguei para o primeiro número que vi.

Apenas por agoraOnde histórias criam vida. Descubra agora