Capítulo 1 - Francisco Cenico D'Sete Jr.

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Francisco Cenico D'Sete Jr. era o filho do meio da família D'Sete, uma nova família que irrompera na pequena cidade das abóboras, Ouro Fino. Filho de corretores de imóveis — Sua mãe mantinha sempre os cabelos curtos, dum louro bem pobre e adorava de usar sapatos de bico fino (daqueles que se matam baratas em quinas de paredes). Seu pai era um baixinho menor que sua esposa, gordinho com espessas sobrancelhas. Tudo nesse livro começa quando os pais chegam à casa da família com uma notícia que pegou os filhos de surpresa. Uma felicidade contagiava a mãe:

— Amores, arrumem tudo vamos nos mudar Capole, vamos para o ...

— Capole? — Interrompeu um garoto com espinhas

— Frederico! Capole é uma cidade linda! E para sua informação nesta cidade está cheia de ótimas casas, e é assim que pagamos suas contas! Agora o que está fazendo na minha frente que ainda não foi arrumar sua mala?

Uma menininha lourinha e sardenta, a boca cheia de dentes emparelhados veio correndo abraçar o pai e logo a mãe, numa imitação de princesinha frágil e doce, meiga como se fosse um bebê. Seu nome era Cindy:

— Mamãe, o Chico me espetou a perninha hoje de manhã com aquele palito, veja no bolso dele. Porque ele faz isso comigo mamãe? Ele não gosta muitinho de mim?

Como era ágil! Chico nem vira quando fora incriminado com um palito de churrasco e muito menos quando sua mãe lhe jogara seu sapato para corrigir o filho baderneiro. Ele se defendeu, mas não adiantou. Acertou em cheio suas bochechas e deixou cair um monte de pecinhas douradas que carregava:

— Eu! Eu não fiz nada! Mãe eu juro, não sei como ...

— Então como foi que ele foi parar no seu bolso da jeans? Vai para o seu quarto agora e não me sai de lá com suas tralhas prontas, e junte esses carrapichos!

Passou furioso por Cindy e tentou esquecer que tinha uma irmã, em vão, pois sua vozinha de bebê ouvida até pelos vizinhos era um tanto, para Chico, insuportável.

No quarto, Fred arrumava suas coisas deveras entristecido. Fred era o apelido do irmão mais velho, tinha 15 anos:

— Estou injuriado, se bem que eles (seu pais) nos avisaram da mudança fazia 2 meses, mas não achei que seria para valer...ainda mais Nessa semana. Acho que foi um golpe duro, eu e Denise estávamos firmes e agora como eu termino tudo em 1ou 2 dias? E essa cidade estranha? Não iriamos para Macaense? Odeio essa Capole, dizem que lá as meninas são feias e magrelas...

E Chico ficou imaginando o quanto Fred era nojento cheio de espinhas, o nariz vermelho e oleoso um bigodinho ralo sobe o beiço... seria isso a sentença que um dia ele iria passar? Ele iria ficar igual ao Fred? Feio e espinhoso? E a voz? Ora fina ora mediana ora horrível, e só pensando em meninas todo o tempo? Poderia ser, mas não o tempo todo. Ou seria? Lembrou que teve implorar a mãe para que namorasse outra garota antes dessa Denise, Denise? Não era a garota que batia nele na 3° serie? Que inversão de sentimentos... "não, não quero ser como Fred", pensou o garoto um pouco antes de uma mão balangar freneticamente a frente de seu rosto.

— Hei, Fred chamando, acorda. Nem ouviu o que estava dizendo, ouviu?

— Claro, perfeitamente, pois tenho boas orelhas. Só sei que arrumarei minhas coisas e me lembrarei de não ser tão chato e nojento aos 15.

— Isso se chama puberdade. Passara por isso também, até Cindy vai. Será que não pode falar outra coisa que não tenha envolvimento com puberdade? E o certo seria ouvido. A gente ouve pelo ouvido.

— Cale a boca. Ouviu bem pelo seu ouvido?

Fred balançou a cabeça, igual como se negasse algo, de desaprovação. Negou que tenha ouvido tal besteira de Chico. Acontece que Fred era o típico aluno que se senta ao lado do professor, a frente de todos, não participa das bagunças lá do fundo e muito menos fala alguma coisa sem antes erguer o braço. Para Chico o irmão só poderia ser de outro mundo. O que seria de uma classe de aula sem diversão? Pensava o garoto. Seria um mal dessa tal da puberdade? Cada espinha faz a gente ficar mais nerd? Essas coisas faziam Chico pensar, num tal grau que de novo a mão se agitou freneticamente para tira-lo de sua viagem do intelecto.

Diário de Chico - Ano 1 (O que eu odeio em você)Onde histórias criam vida. Descubra agora