Preto

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O preto das minhas pálpebras me incomoda. Lembro quando a púrpura te desenhava das diversas formas que minha retina já havia te projetado. Lembro de quando a turquesa que preenchia os seus olhos refletia o dourado da minha pele, ela absorvia o calor que subia enquanto a purpurina que você chacoalhava dava o acabamento das nossas primeiras rasuras. Lembro quando o ouro dos nossos fios se uniam em nós fortes e não havia riqueza mais valiosa que a nossa. A nossa riqueza, arte abstrata que pintava diferentes traços quando minhas pálpebras cansadas decidiam relaxar e permitir que minha pele desfrutasse das bilhares de cores que me envolviam e me enfeitavam, as mais preciosas tintas que só o nosso amor foi capaz de produzir. Tantas obras eu guardei nas profundezas que levo no topo dos meus olhos, obras que me guardam em ondas fracas e me trazem à beira dos prantos que ameaçam a cair, e quando caem te contornam por todas as linhas do meu rosto, até finalmente secarem e minha pele voltar a te absorver.

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