Hurt people

Capítulo 4

Era sexta-feira, eu poderia estar em diversos lugares. Mas estava sentada olhando minha psicóloga me passar o maior sermão de todos os tempos.

— Amar não dói Elizabeth -– Clarice diz assim que eu termino de falar. — Amor é felicidade, e se te machuca, é qualquer coisa, menos amor.

— Ele não me machuca... – Ela fica aparentemente confusa e eu reformulo a frase. — Digo, o London não me machuca, o que me machuca é eu sentir demais, e não receber muito em troca.

— Querida, ele não tem noção de que você ainda goste dele – Ela diz doce e eu até sorrio com seu tom de voz. — Uma vez, uma jovem me disse "Não apresse as coisa Clarice, eu vou contar quando estiver pronta"... E eu levei isso pra vida.

— Quem foi essa jovem? – Pergunto sorrindo, eu era uma respondona quando mais nova.

-— Ela era um doce - Ela diz e eu sorrio. – Você quer conversar sobre mais algo? Posso arranjar mais 30 minutos.

— Está tudo bem, na verdade. Tenho tido algumas alterações de humor, mas apenas se tomo a medicação em horários alternativos.

— Então se lembre dos horários mocinha! – Ela diz fechando a caderneta. — E se lembre Elizabeth. Pessoas machucadas, machucam pessoas.

— Você me ajudou muito hoje, como todos esses anos Clarice. Obrigada. – Ela sorri abertamente.

— Sempre estarei aqui meu amor, sempre que precisar. — Pego minha bolsa e me despeço dela abrindo a porta da sala.

Pessoas machucadas machucam pessoas, Ellie.

Saiu completamente da sala e me enconsto na parede mais próxima. A última frase que ela disse me fez refletir. Estaria eu, machucando London de volta apenas porquê ele me machucou a anos atrás?

Saiu da clínica e ando até meu carro enquanto mil pensamentos explodem na minha cabeça.

— Eai – A voz de Ellen soa assim que atendo a ligação. — Como foi hoje?

— Nada em especial – Respondo pondo a ligação no viva voz e coloco o celular no suporte. — Só conversas e mais conversa.

Ellen murmura algo do outro lado da linha e eu dou partida no carro.

— Você sabe... Sabe se o London continua falando com a Stassy? – Ela pergunta meia receosa e eu encaro a tela do celular por um segundo.

— Não? – Soa como uma pergunta e eu pigarreio. — Não, não sei.

— Certo... Bom, dirija com cuidado, estou te esperando. – Ela encerra a chamada e eu paro no farol vermelho.

Alguma coisa não estava certa mas Ellen tentou me esconder, e eu como sempre, fiquei curiosa.

Somente o nome de Stassy me causa arrepios. London engatou em um relacionamento curto, mas longo o suficiente para me causar calafrios toda as vezes em que trocavam afeto em público. Meu estômago se retorce e tento afastar as lembranças da minha mente.

Passo o caminho inteiro batucando o dedo no volante e tentando entender o que diabos era aquela pergunta.

A dúvida se esvai assim que chego no campus da universidade. London estava sentado no nosso banco habitual, mas Stassy estava com o grupo.

Meu coração acelera enquanto eu saiu do carro e caminho em direção a eles, Stassy ri e põe a mão sobre a coxa de Wallis, minha bolsa escapa do meu ombro e eu sinto meu coração esmagar minha caixa torácica.

— Stassy, se de o respeito – Ouço o resmungo dele quando vou chegando mais perto. — Eu tenho uma namorada.

— Que acabou de chegar aliás! - Ellen diz e ele olha pra minha direção.

— Olá – Respondo pondo a bolso no chão e London estica a mão pra mim, eu a pego e ele me puxa pro colo dele. — Oi.

Sinto minhas bochechas ficarem quentes e ele sorri deixando um beijo na minha testa, o quê me pega totalmente desprevenida me fazendo escorregar do colo dele.

— Tudo bem? – Ele pergunta e eu concordo com a cabeça.

Stassy revira os olhos pega sua mochila e ruma de encontro ao prédio. Levanto do colo de London e me sento próxima a ele puxando minha mochila pro meu colo.

Nós ainda não tínhamos conversado e nem tocado no assunto  sobre sábado a noite, e isso me corroía dia após dia. A incerteza é inimiga dos ansiosos.

— O que ela queria aqui? – Pergunto como quem não quer nada e pego meu celular.

— Terminou com Sammy – JJ diz dando de ombros e meu sangue congela. — O mesmo de sempre.

— Me perdoe London. – Jhon diz com a voz dramática.

— Volte comigo London. – JJ diz de forma dramática enquanto Jhon ri deliberadamente.

— Eu te amo Sammy, quer dizer, London. – Ellen diz e todos riem, menos eu, e Wallis.

— Tabom seus perdedores – Levanto segurando uma risada. — Vamos embora daqui.

Eles levantam saindo e eu faço o mesmo, mas voltando pro meu carro.

Ninguém questiona absolutamente nada enquanto refaço o mesmo caminho de cinco minutos atrás. Mas posso ver London me olhando com curiosidade.

— Ellie? – Papai diz surpreso mas sua feição muda pra preocupado quando me olha. — O que aconteceu?

— Eu... Eu não sei! – Quase grito com o pulmão apertado. — Eu sinto falta da Ellus papai, muita falta! Eu não posso contar com ninguém a não ser você. Eu não aguento mais!

Sento no sofá e desabo em lágrimas. Meu peito dói, e meu corpo entra em estado de alerta. Papai caminha até mim e eu suspiro.

— Meu amor, Ellus se foi, e vocês não podem mudar isso – Ele diz e passa a mão pelo meu rosto. — Ela te amava, mas você precisa deixar ela ir, você precisa passar pelo luto.

— Ellie? – Mamãe aparece e eu rapidamente passo a mão pelas lágrimas. — O que aconteceu querida?

— Eu estou com cólica – Minto descaradamente e papai me repreende com o olhar. — Você pode me fazer aquele chá?

— Claro querida – Ele diz doce e beija minha testa. — Vá deitar.

Ela some pela cozinha e meu pai me encara com o rosto fechado.

— Não minta para sua mãe Elisabeth. E você odeia esse chá!

— Não conte pra ela, ela não ia aguentar saber que eu sou um brinquedo sem conserto e que não consegue lidar com suas emoções. — Resmungo e ele revira os olhos.

Levanto e caminho pro meu quarto, eu não suportaria mais uma crise, minha única alternativa é apenas respirar fundo. Eu sobreviveria, era assim que as coisas estavam funcionando.