FUGA IMPLACÁVEL

Elliot

Damos muita importância a certas pessoas da nossa vida, que por vezes não a merecem. Mas posso ter a certeza que ele é importante. Afirmo com todaa alma do meu corpo, com toda a certeza do planeta.

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- O meu nome é Elliot... - O rapaz senta-se outra vez, e eu imito-o.

- Agora que me encontraste, porque continuas aqui? Se a polícia te apanha comigo, também vais preso.- Afirmo eu.
 
Sou nova neste mundo do crime (se é que posso dizer isto). Não sei se fujo, se me entrego. Não sei para onde ir ou o que fazer. Os meus pais não me vão aceitar de volta. Mas, por outro lado, tenho Lee e Isaac presos e talvez à espera que eu os vá buscar. Estou perdida, em todos os aspetos.

- Estou aqui por uma simples razão: vou te ajudar. - acaba ele por responder.

Fico indignada.

- Porque haveria alguém de querer ajudar uma fugitiva? - pergunto.

- Porque tu também me ajudaste...com este caderno - Elliot ergue o meu diário e de seguida devolve-me.

- Como assim, ajudei-te? - guardo o caderno entre os meus braços, como se o estivesse a abraçar.

- Isso não é importante agora... - ele suspira profundamente e prossegue - Eu tenho um local seguro onde podes ficar, ninguém te vai encontrar lá.

- E... e os meus amigos? Eles foram presos...

- Quem, o Isaac e a Lee? - questiona Elliot. Assusto-me, mas depois lembro-me que ele leu o diário.

Aceno afirmativamente com a cabeça. Recordo do abraço que a minha melhor amiga me deu, enquanto Isaac libertava-me das algemas. Parece que nem foi hoje, parece que nem aconteceu e que foi só um sonho. Mas não foi.

- Eu ajudo-te com isso, mas não podes dizer nada a ninguém. - Ele fita-me intensamente, acentuando a importância de eu não contar a ninguém.

- Mas a quem haveria de contar?

Elliot levanta-se, ignorando a minha pergunta. Levanto-me também, e permaneço com o caderno colado ao peito. Começámos a caminhar pelo sentido contrário ao que tinha vindo. Saímos do túnel, ele sempre ao meu lado.

Olho para o céu, que já se encontrava escuro e repleto de estrelas brilhantes. Apercebi-me que o tempo que eu passava a estudar todas as noites tinha sido desperdiçado por noites a apreciar o espaço. Mas não, eu precisava de estudar, eu precisava de ter boas notas, eu precisava de alcançar os objetivos dos meus pais. Nunca segui os sonhos que realmente gostaria de ter seguido. 

Passa uma rajada de vento, que me esfria o corpo. Estou vestida apenas com uma t-shirt e umas calças de ganga, nada quente. Esfrego as mãos nos braços, tentando me aquecer mas em vão terá sido. É uma noite bonita, mas fria.

Elliot olha para mim. E eu olho para ele. 

Ele realmente é bonito, não fosse eu ter namorado. Olhos clarinhos, cabelo médio e castanho, bochechas rosadas do frio. 

Ele despe a sweatshirt que vestia e dá-me a para a mão.

- Veste-a e, por favor, não recuses. - diz, antes que eu o pudesse interromper, negando.

Visto-a em silêncio. Fica me grande, parece um vestido, mas dá para me aquecer.

- Obrigada. - sussurro.

Elliot sorri.  Um sorriso sincero, bonito.

Continuamos o caminho. É arriscado estar a ir para um sítio desconhecido com um estranho, sendo eu uma rapariga pequena e um pouco magra. Mas é ainda mais estranho o silêncio que fica entre nós. Ele sabe tudo sobre mim, ou sobre o meu passado. E por um lado estou desconfortável, mas por outro não. Por outro, lá bem no fundo, sinto alguma confiança nele.

Caminho numa estrada iluminada pelas estrelas, com o meu diário nos braços, vestida com uma sweatshirt preta de um rapaz peculiar. Afinal não estou assim tão perdida, afinal tenho um rumo, o meu rumo.