Três - Para a minha surpresa (e a sua), aconteceu no terceiro capítulo

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Esse era apenas mais um daqueles dias aos quais eu vivia contra minha vontade.

Não que eu tivesse feito muita coisa por vontade própria ao longo desses anos, mas isso não tornava minha má vontade em existir menos significante.

E ok se isso não fosse mudar nada.

Naquela manhã em especial, não sei dizer se despertei com essas reflexões existenciais ou se elas foram justamente a coisa que me acordou.

A mim me parece simples que eu simplesmente não quisesse existir.

Minha consciência se fez presente e antes mesmo que eu me percebesse de boca aberta, barriga para cima com uma das mãos espalmadas sobre ela e o braço direito sobre a testa, senti que não fazia o menor sentido estar viva.

E eu sequer me sentia deprimida, apenas transbordando de vazios.

Isso para mim era completamente coerente.

Fechando a boca e deixando escapar um suspiro que possivelmente seria o primeiro de muitos naquele que prometia ser um longo dia, senti meus cílios umedecerem e uma gota quente de lágrima escorrer por meu rosto.

E aquilo bastava.

Meu celular vibrava embaixo do travesseiro, mas eu ainda estava letárgica demais para me mover e desligar o alarme, assim, aguardei enquanto o torpor decidia por conta própria abandonar meu corpo e meus músculos se contraíam como se ligados por um circuito elétrico imaginário.

Meus dedos dos pés se encolheram e relaxaram e meus pés giraram em meus tornozelos, prontos para que eu ficasse em pé e seguisse meu rumo.

Eu apenas não queria, mas afastei o braço de cima da testa, o mergulhando debaixo do travesseiro e desliguei o alarme.

Meus olhos se abriram de uma vez, secos, nenhuma lágrima a mais para derramar, e contemplaram o teto enquanto minha vontade de levantar não aparecia.

Dessa vez, Booboo, meu lado irritado a pouco nomeado por Camila Cabello, não estava presente, e não pude evitar de me perguntar que nome ela daria a meu lado melancólico.

Bibi, talvez, ou outro nome igualmente ridículo.

Por que eu tinha que me sentir tão terrivelmente atraída por alguém tão ridículo?

Suspirei.

Ergui o corpo para me sentar e pude imaginar como seria segurar o peso do mundo nas costas, mesmo que isso fosse fisicamente impossível, gostava de imaginar a situação para tentar entender se era meu caso, já que era algo puramente imaginativo.

Não fazia ideia se era o caso, mas em minha imaginação havia ficado uma imagem bastante legal onde em minhas costas havia o globo terrestre e minhas mãos tentavam desajeitadamente segura-lo.

Me virei para sair da cama e meus pés tocaram o chão frio, fazendo com que todo meu corpo sofresse com o impacto em um arrepio.

O arrepio é uma reação tão bonita que eu gastava meus poucos minutos de inércia o admirando, mesmo que em meu próprio corpo.

Assim, só me movi depois que senti meus músculos relaxando novamente com a familiaridade do clima e me levei ao banheiro para o ritual de sempre onde eu certamente precisava ligar o chuveiro antes de escovar os dentes e posteriormente urinar.

Era sempre assim, a menos que eu tivesse uma crise fora do meu curto circuito natural.

Eu podia imaginar as faíscas em meu sistema defeituoso e isso me divertia de um jeito estranho, tomando meu tempo enquanto todo o processo matinal era realizado.

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