Cinco - Como hambúrguer, sinto borboletas e me torno infinita para Camila

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O que é a vergonha?

Aquela sensação de queimação no estômago que irradia para todo o corpo e faz com que você queira sumir do universo e que apenas os bons e justos sentem. É sério. Quer saber se você é uma pessoa boa? Olhe para a própria vergonha, pois os maus não a sentem.

Ao menos isso me leva a crer que não sou uma pessoa tão ruim no fim das contas. Sinto muita vergonha, sempre e o tempo todo. Basta existir, sabe. Eu podia me imaginar encolhendo até virar pó, no minimo umas quinze vezes ao dia.

Na verdade, o que me traz os pensamentos da vergonha dessa vez é a sensação de incompetência. Aquela manhã, eu havia levantado com o despertador, tomado um longo banho quente na tentativa de adiar o momento, vestido meu melhor material para consultórios e seguido como se uma mão invisível com a etiqueta "INCOMPETENTE" pendurada estivesse me socando a cara.

Ali, sentada naquela cadeira gélida em meio a estranhos mais velhos, sentia as palavras mais depreciativas me batendo como valentões e rindo, ainda assim, mantive o olhar em meus pés como se admirasse meus all stars sujos. Não tinha nada de encantador neles, mas eu tinha que disfarçar a vergonha de estar ali novamente depois de um ano inteiro.

-Lauren Jauregui - a secretária chamou meu nome e me levantei, a buscando com o olhar - consultório três.

Assenti e baixei o olhar novamente, caminhando pelo corredor curto até a porta conhecida.

Estava entreaberta, então a empurrei com a palma suada e ergui a cabeça mais uma vez.

Ali estava ele. Tinha esquecido de seu rosto, mas o vendo, percebia que ainda era o mesmo: os cabelos escuros, um tanto acinzentados aparados, o rosto com algumas rugas, os olhos entediados, as mãos sobre a mesa de madeira com a típica plaquinha escrita: Doutor Simon Cowell.

Ele sorriu, levantando da cadeira, arrodeando a mesa com os braços abertos que logo me envolveram.

Devolvi o abraço desajeitadamente como sempre era.

-Lauren... - ele disse em voz baixa.

Me guiou para o lugar a frente do seu e se acomodou atrás da mesa.

-O que está acontecendo? - ele perguntou e foi o suficiente para me fazer cair no choro.

-Eu não consegui - resfoleguei, o ar me faltando - Tem algo errado, de repente tudo começou a ficar ruim. Eu me sinto irritada, deprimida, ansiosa...

-Tem muito tempo que isso começou?

-Uns dois meses. Sem parar. Algo está diferente dessa vez, não sei explicar.

-Olha, Lauren, o que você está tendo é uma outra depressão, que não está relacionada a primeira crise - me concentrei no movimento de suas mãos sobre a mesa e na aliança brilhante em seu anelar - vou te explicar: A depressão é uma doença que pode ser controlada e até mesmo completamente parada, mas ela modifica seu cérebro para sempre e após a cura ela pode ou não iniciar novamente um dia. Uma pessoa que teve depressão pode estar curada para sempre e outra pode depender de remédios a vida toda com novas crises que iniciam periodicamente. Mas não se preocupe, é para isso que eles existem. Vou lhe passar alguns exames e voltar com o medicamento e você vai ficar boa.

Funguei, mas não disse nada.

Não havia o que dizer. Eu provavelmente seria uma dessas pessoas que teriam surtos periodicamente e precisariam de remédios a vida toda. Eu não me importava realmente com os remédios desde que ficasse bem.

-Volte daqui a três meses - Simon acrescentou ao me entregar a receita.

Peguei minha receita e passei na recepção para marcar o retorno.

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