Jason Cole

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O primeiro conto, a pedidos, foi o de Jason Cole. Ele antecede os dias de sua ida para casa de Julie, e os motivos por trás da decisão. Este conto é bem diferente do estilo de Enigma, pois Jason é um personagem problemático. Contém linguagem imprópria e violência explícita. Espero que entendam o que se passa na cabeça do nosso loirinho favorito. Boa leitura!

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I tried to be perfect

But nothing was worth it

I don't believe it makes me real

I thought it'd be easy

But no one believes me

I meant all the things I said

(Pieces - Sum 41) 

Jason Cole 

O ser humano tem este desejo doentio de ser amado.

Por onde quer que eu vá, tudo ao meu redor grita a maldita palavra amor. A mulher pálida e esquelética está correndo atrás de um garoto rechonchudo a alguns metros de mim. Ele não irá levar uma bronca. Estão apenas se divertindo no parque, um sorriso irritante está prestes a rasgar a face do garoto estúpido. Não muito longe deles, há um casal preso em uma troca de olhares contínua. Qual é a necessidade daquilo?

Puxo o capuz do casaco que uso e enfio as mãos no bolso. Um cachorro desajeitado por pouco não me derruba, solto um belo palavrão, atraindo a atenção do gorducho com sorriso de palhaço. A mulher esquelética, que acredito ser sua mãe, me lança um olhar de desaprovação, e tudo que faço é retribuir com um sorriso debochado. O dono do pulguento passa por mim sem nem ao menos se desculpar; logo penso como seria uma pena se o cachorrinho dele sumisse.

Mais amor.

Um trio de garotas está rindo em um dos bancos próximo a mim. Uma delas diz, animada, sobre um tal de Peter ser um cara incrível. Eu até posso contar nos dedos quanto tempo irá levar para ele se tocar do quão idiota esta garota é, e a largar. Um mês no máximo. Ninguém consegue aguentar um mala por tanto tempo. A não ser que você também seja um.

Levo um tapa nas costas, e, por pouco, não dou uma cotovelada nas costelas do meu melhor amigo. Seria mais uma entre tantas que ele já ganhou de mim.

— Você tá chapado?

O projeto de mauricinho surge na minha frente e bloqueia meu caminho. Não consigo olhar para seu cabelo e não rir. Nem quando eu era um pirralho partia o cabelo de lado e passava gel para ficar colado na cabeça, mesmo que meu cabelo seja estilo tigela, como ele vive me lembrando. Desde que o conheço, não sei se Thomas é moreno ou loiro, pois nunca o vi de cabelo seco. O nariz pontudo também o ajuda com a imagem de garotinho mimado, embora ele passe longe de ser um.

— Olá pra você também.

— Você tá com cara de quem fumou... Qual foi, Jay-Jay? Tão cedo assim?

Dou-lhe um soco de brincadeira no estômago.

— Não me chamo Tommy.

Ele desvia do meu golpe, rindo.

— Tommy, Jason?! Apelou, hein, cara.

— O que faz no parque de manhã? Achei que só acordasse à noite.

Ele puxa uma carteira de cigarro do bolso do jeans, tira um e oferece-me outro. Aceito e uso seu isqueiro para acendê-lo. Começamos a caminhar lentamente no parque florestal.

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