Capítulo 14

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Os desenhos em meu caderno verde e o vento gelado que adentrava pela janela do carro faziam meu corpo relaxar em algum tipo de realidade alternativa.

Uma realidade onde eu provavelmente não estaria indo para a forca por livre e espontânea vontade.

Recapitulando

Christoffer havia me convidado para o natal com sua família. E eu havia recusado várias e várias vezes como se ele estivesse me pedindo para vender alguma parte do meu corpo.

Talvez isso fosse mais fácil.

Contudo, após todo tipo de chantagem emocional e financeira, eu finalmente havia aceito aquela ideia complemente insana.

– Você vai me dizer o que está errado? – Christoffer murmura sem desviar os olhos da estrada e eu posso ver o vento passar pelos fios negros do seu cabelo.

Nós dois havíamos acabado de acordar e ele parecia cem vezes mais bonito que eu com aqueles óculos escuro ridiculamente quentes.

- Não tem nada de errado. – sussurro passando o punho na ponta do nariz em uma tentativa falha de esquentar minimamente todo o meu corpo.

Christoffer ri baixo e eu mordo meu lábio inferior sabendo que ele me conhecia bem o suficiente para saber que eu estava mentindo.

- Certo. – ele diz pondo uma de suas mãos em minha coxa e eu estremeço com os pequenos choques que o contato com seu corpo causava no meu.

Eu estava ferrada.

– Eles sabem sobre nós? – murmuro prendendo meu olhar na estrada.

- Minha mãe te vê toda noite. Você acha que ela não sabe? – ele pergunta de forma engraçada e eu sinto minhas bochechas esquentarem.

- Isso é estranho. – digo e posso sentir minha voz sair mais chiada que o normal – Nós não deveríamos estar fazendo isso. Tudo está indo rápido  demais. Meu deus, e se eu disser algo vergonhoso ou rir na hora errada. E se me perguntarem o que nós somos exatamente ou há quanto tempo estamos nisso? Eu não estou pronta para uma coisa dessas.

– Você deveria respirar agora. – Chris diz e eu sinto a velocidade do carro diminuir enquanto ponho as duas mãos no rosto em uma tentativa estranha de me acalmar – Eles vão te adorar, tá bom? Você não precisa surtar agora, ou depois. E se perguntarem o que nós somos... Apenas diga a verdade.

Diga a verdade.

Retiro as duas mãos do rosto tentando assimilar o que ele acabara de dizer. Batuco os dedos nervosamente em meu caderno aberto no colo sentindo todo o oxigênio do meu corpo se esvair completamente.

E o que nós somos, Christoffer?

Eu nunca me imaginara como a garota que sofria com esse tipo de conflito. Insegurança definitivamente não se encaixava no vocabulário de Eva Mohn. Contudo, aqui estava eu em um carro indo em direção a casa da avó de Chris enquanto minha mente trabalhava em todo tipo de paranóia.

Eu havia me tornado Noora Sætre.

Deus, isso fazia de Christoffer o próprio William?

- Qual seria a verdade? – grunho tão baixo que mal posso acreditar que ele poderia ouvir o que fora dito.

Mas ele ouvira. Eu poderia dizer isso pela forma em que seu corpo endureceu no momento em que as palavras escaparam de minha boca. Christoffer franze as sobrancelhas e eu sinto os segundos se passarem como horas. Ele estava tão perdido quanto eu.

– Nós somos Chris e Eva. – ele diz como se isso fosse a resposta para qualquer pergunta paranóica que minha cabeça doida pudesse pensar.

E talvez fosse.

Fortitude(ChisxEva)Onde histórias criam vida. Descubra agora