Capítulo 42 - Quem Canta, Seus Males Espanta

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Eu estava me sentindo desidratado, já faziam horas que eu estava deitado naquela cama, com meus movimentos limitados e sem comer ou beber qualquer coisa

Para piorar, eu passei as primeiras duas horas gritando por socorro, e por esse motivo, agora eu estava quase sem voz

Deus! O que eu fiz para merecer isso?

Comecei a me mexer na cama, para ver se conseguia esticar um pouco meus braços, que estavam doloridos de ficar na mesma posição, depois de algumas tentativas falhas, me deitei e olhei para o teto, então decidi que seria bom cantar, lembrei da minha condição vocal, entretanto, segui em frente com a ideia

- Picture yourself in a boat on a river - cantei baixinho - With tangerine trees and marmalade skies - fechei os olhos e balacei a cabeça - Somebody calls you, you answer quite slowly - me imaginei em um palco com J na bateria e G na guitarra - A girl with kaleidoscope eyes

Um barulho aleatório me assustou e eu parei abruptamente e me levantei na esperança de alguém ter desconfiado daquela maluca

Mas o barulho cessou e tudo se seguiu em silêncio, o que indicava que ela tinha chegado em casa

Como se eu fosse tão sortudo

A porta do quarto abriu e a encarnação do mal entrou, vestida como um ser humano e segurando uma bandeja cheia de comida

- Como está se sentindo? - notei algo brilhante na bandeja

É uma linda garrafinha de água

- Com fome - falei baixo

- Parece com sede, também, sua voz está fraca - ela colocou a bandeja na mesa de cabeceira ao meu lado e pegou a garrafa d'água - Você quer? - ela abriu a tampa da garrafinha e começou a beber na minha frente

- Por favor - resmunguei - Por favor

- Você está implorando? - ela me encarou - Que engraçado, só foram umas dez horas, Thomas, não seja dramático

Se contar com a última vez que bebi água...
E os gritos de socorro...

- Por favor - continuei sendo um fraco

- Me peça desculpa - ela sorriu

- Desculpa - falei rápido

- Direito, Thomas, que falta de educação

- Por favor, me perdoe, eu fui um idiota - supliquei

- E...? - ela insistiu

- Prometo nunca mais fazer isso

- Ok, estou satisfeita - ela abriu a primeira gaveta da mesa de cabeceira e pegou uma chave

- Vai me soltar? - perguntei animado

- Claro que não - ela riu

- Mas já teve suas desculpas

- Eu quero mais, muitas - ela soltou minha mão esquerda e me entregou a garrafa d'água

Não falei nada, bebi toda água de uma vez, sem parar para respirar, quando acabou, eu olhei para a bandeja, tentei esticar minha mão até lá, mas não alcancei, porque a cama era larga e a bandeja estava do meu lado direito, olhei para a maluca da Luiza

- Nem adianta fazer essa cara de coitado, se quer comer, tem que se esforçar - ela disse e logo em seguida Cryin' começou a tocar, estava vindo do meu bolso, eu olhei para a doida e nós dois ficamos nos encarando por alguns segundos, até eu finalmente tentar pegar o celular

- Não! - Luiza pulou em cima de mim para tentar pegar o celular - Solta isso

- Não, me deixa em paz - conseguir pegar o celular, mas quando ia atender, Luiza mordeu meu braço e eu instintivamente derrubei o celular no chão

- Pronto - ela saiu da cama e pegou o Iphone, ficou encarando a tela e riu - Que fofo - ela me mostrou o celular, onde tinha uma foto minha com Megan - É sua namoradinha né? Por isso não quis ficar comigo?

- Eu não ficaria, mesmo que você fosse a última mulher da terra - falei irritado, e infelizmente meu celular parou de tocar

- Nossa! - ela colocou a mão no peito - Que ofensa, Thomas

- Não me importo

- Sabe, eu sou uma grande fã do amor, se o motivo pelo qual você tivesse me deixado, fosse sua namoradinha, eu o deixaria livre, agora

- O que? - arregalei os olhos

- Durma com essa e... Boa sorte com seu jantar - ela apontou para a bandeja

- Não - falei - Por favor, desculpa

- Eu... - ela foi interrompida por um celular tocando

E não era o meu dessa vez

Ela pegou o próprio celular do bolso traseiro da calça, e encarou a tela

- Droga! - ela pegou um dos travesseiros que estavam na cama, tirou a fronha e literalmente fechou minha boca

Fiquei quietinho
Eu tinha um plano

Ela ia atender o celular, porém olhou para a minha mão livre

Meu plano foi para o ralo

- Espertinho - ela murmurou

Então pegou a algema de volta e prendeu minha mão

Eu lutei, mas é difícil com uma mão só, e para piorar, estou com fome

- Alô - ela atendeu - Oi Giovan, como está? - ela me encarou, comecei a me debater e gritar

Mas...

- O Thomas sumiu? - a voz dela realmente parecia surpresa - Eu não sei de nada, eu o vi hoje na empresa, mas... - ela fez uma careta - Como assim, eu? Sério? Eu fui a última vista com ele? Quem disse isso? - ela suspirou - Você vai acreditar no tal do Garrett ou em mim? Há quanto tempo nos conhecemos? - ela me encarou e sorriu - Viu! O menino deve estar confuso, mas não se preocupe, logo, seu filho aparece - ela sentou na beira da cama e encarou as unhas - Não sei onde ele está, Thomas foi a minha sala, sim, nós conversamos e logo depois ele saiu - ela ficou esperando meu pai terminar de falar - Sinto muito, de nada, Giovan

Tive uma ideia

Me estiquei o máximo que pude e chutei ela, Luiza gritou e caiu no chão

Rindo por dentro

- Está tudo bem - ela se levantou e me encarou irritada - Eu escorreguei em algo, estou aqui se precisar, tchau - ela desligou o celular e me lançou um olhar mortal - Vai dormir desse jeito para aprender! - ela se virou e saiu do quarto, batendo a porta

O que eu fui fazer?

Me deitei na cama e virei para o lado (na medida do possível), olhei para a bandeja ao meu lado e suspirei

Vou passar a noite com fome, e a comida do meu lado?
Tô pior que entregador de pizza, só sentindo o cheiro

Fechei meus olhos e tentei me concentrar em alguma música, porém, uma única vinha em minha cabeça

Picture yourself in a boat on a river
With tangerine trees and marmalade skies...

Não tem nada melhor que cantar Lucy In The Sky With Diamonds para se acalmar em um sequestro, eu sou a prova disso

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