Back in Time || H.S

Capítulo 5

Passeava pelos largos e acolhedores corredores da escola enquanto inúmeras pessoas se ocupavam de andar de um lado para o outro com a função de buscar o que fosse necessário na sala de arrumações no fundo do corredor para a preparação da decoração do baile de finalistas.

Faltam duas semanas, e realmente eu não sabia se me sentia aliviado ou assustado com a ideia de que iria finalmente dar por acabado o secundário. Tínhamos o baile que eu ainda nem tinha sequer pensado minimamente em qual seria o meu par. E depois tinha a peça de teatro, para ao qual eu tinha de me preparar bem psicologicamente, já que era a última atuação eu iria sentir saudades. No fim de tudo, eu gostava de representar mesmo que não o demonstra-se.

- Podes me ajudar a carregar isto? - soou uma voz atrás de mim afastando-me dos meus pensamentos. - Não é propriamente leve.

Virei-me e vi Valerie segurando com esforço e cuidado uma caixa cheia de holofotes. Estava a sorrir docemente - como faz sempre - enquanto que erguia uma perna para ajudar a suportar a caixa.

- Claro, deixa que eu levo. - olhei para ela dando um leve sorriso enquanto agarrava a caixa que ela ainda suportava. Assim que tirei a caixa das suas mãos, que era quase do seu tamanho, os meus olhos pareciam não acreditar naquilo que estavam a ver. Ela estava a usar novas roupas e o cabelo solto que lhe caía sobre as costas com ondas era uma grande novidade para mim. A sua saia azul escura lisa e a camisola larga branca eram uma roupa que nunca lhe virá vestido durante tantos anos. O seu usual casaco de malha também ficará de parte. Fiquei a olha-la por vários segundos, eu tenho a noção disso, mas era a primeira vez que a via assim e temia que fosse a última. Porque pela primeira vez, eu achei que finalmente a verdadeira Valerie se tinha revelado.

- Obrigada Harry - ela disse e virou-me costas indo em direção ao salão da escola. Fui atrás dela para pousar a caixa para o Niall poder monta-los no palco, já que o baile iria ser realizado ali.

Mas enquanto isso, o pessoal do teatro preparava também os cenários para a nossa peça. Eu como fazia parte da associação de estudantes tinha de fazer um pouco nos dois lados, o que me deixava exausto no final do dia. Mas saberia que tudo o trabalho no fim iria valer a pena, afinal tinha de aproveitar o me restava do secundário.

Eram já 19h da tarde e já não se via quase ninguém no auditório. Já estava a escurecer e eu precisava de ir para casa para acabar uns trabalhos que tinha por fazer para entregar aos professores para que, se possível com os trabalhos as minhas médias poderiam aumentar um pouco. Embora não quisesse pois o ambiente  do baile estava simplesmente a ficar como nós planeamos e quanto mais rápido o acabavamos melhor. Peguei nas minhas coisas e andei até à porta principal da escola quando sou interrompido por uma voz.

- Já estás de saída? - eu reconhecia a voz, Valerie.

- Sim - respondi virando-me de me modo a poder encara-la. - Vou agora para casa.

- Bem, estava a perguntar-me se me poderias fazer companhia. - olhou-me nos olhos com atenção. Eu e ela vivíamos na mesma rua, ela morava no início e eu morava no fim da rua.

- Claro, porque não? - começei a andar até à porta abrindo-a de seguida e segurando-a esperando a Valerie passar por ela. Ela balbuciou um pequeno obrigada e eu sorri-lhe. Começamos a andar num silêncio agradável onde só o som dos nossos passos se ouviam.

- Então, já tens algum par para te acompanhar ao baile? - quebrou o silêncio olhando de seguida para mim.

- Por acaso não, ainda não pensei muito bem nisso - continuei a olhar para a frente observando as pessoas que passeavam pelas ruas. - E tu? - finalmente olhei para ela vendo-a a baixar o olhar para os seus pés.

- Não.. e muito provavelmente não vou levar ninguém - suspirou. Estava com pena dela e sabia que ela estava triste pelo facto de que o baile do último ano do secundário é importante para todos nós. E ao ser importante, também deveria ser único. E sem pensar eu não hesitei e perguntei.

- Queres vir ao baile comigo? - agarrei-lhe delicadamente no braço fazendo com que ela se virasse para mim. Percebi que ela ficará surpreendida com a minha pergunta.

- Eu nem sei que dizer.. estás a falar a sério?

- Eu acho que todos merecem uma oportunidade. - disse. Porém em vez de ela responder logo, desviou o olhar durante um longo tempo me deixando nervoso porque presumi que fosse dizer que não. Arrependendo-me do modo como me tinha portado com ela todos estes anos, recordei as vezes que gozara com ela ou troçara dela nas suas costas. Sentindo-me culpado por talvez ser esse o motivo de ela se fechar tanto para as pessoas. Por elas gozarem com ela por ser diferente dos outros.

- Aceito - disse por fim - Mas com uma condicão. - olhou-me com um ligeiro sorriso no rosto. Acalmei-me, esperando que não fosse algo muito terrível.

- Sim?- perguntei.

- Tens de prometer que não te apaixonas por mim.

Eu sabia que ela estava a brincar pelo o modo como se riu, me deixando um pouco aliviado. Mesmo não falando com ela eu conhecia e sabia que ela às vezes tinha bastante sentindo de humor. Sorri-lhe e dei-lhe a minha palavra.