Enquanto caminhávamos pelos jardins, sentindo o frio do outono, contei para Anice, sobre meus medos, sobre as noites em que não conseguia dormir no lar com as costas ardendo, contei sobre Caylin e tudo que ela significou em minha infância. Deixei de lado a escolha de Caylin, apenas repeti as palavras de minha antiga amiga "A partir de hoje, deixarei de ser sua amiga, você não precisará de uma amiga como eu...".
As palavras foram dolorosas, ficar longe de Caylin ainda mais, tanto que fui atrás dela meses depois e se um estranho não aparecesse, eu teria ficado marcada para o resto da vida. Caylin tinha lágrimas nos olhos quando me viu chorando, o estranho ainda estava junto a mim e dizia que aquele não era lugar para mim.
Minha amiga repetira sua frase e completara dizendo-me para esquecer que um dia fomos amigas, "podes pensar que morri, se facilitar para que me esqueças." Após ouvir isto, jamais a procurei uma segunda vez. Porém eu já tinha, há muito, passado dos dezoito anos, o padre desistira de colocar-me em um caminho religioso e a madre não escondia sua vontade de expulsar-me de lá.
- Segundo ela, eu era apenas mais uma boca a alimentar. - Concluí a história com um pesar em meu peito.
Não contei para a jovem cada detalhe terrível do meu passado, mas apenas o que lhe contei fora suficiente para arrancar-lhe lágrimas. Observei a menina ao meu lado, ela parecia tão inocente... E ali estava eu, uma pessoa marcada por um passado difícil, lutando para me tornar uma pessoa melhor e assumindo o lugar de outra pessoa.
- Sinto muito... - Anice começara.
- Não sinta... - Pedi. - O que mais podemos fazer até à noite?
- Vamos treinar mais sua dança. - Anice sorriu contendo as lágrimas.
- Será necessária! - Afirmei.
Retornamos para o interior da casa e seguimos para o quarto, Anice me contata sobre Srta. Grant, nossa amiga mais próxima. A jovem fora prometida em casamento há pouco, tinha apenas dezesseis anos, mas já lhe foram feitas três propostas.
Então estava noiva do mais novo conde, Anice enfatizou, não havia uma única reunião em que eu não a prestigiasse pelo noivado, o conde era muito bonito, jovem e dono de uma grande fortuna, explicara a jovem.
Caminhei pelo quarto com os livros sobre a cabeça, treinei algumas danças com Anice, em muitas a garota insistia que eu deveria permanecer com os livros, a jovem ordenava que eu me sentasse e levantasse mantendo aquela postura, tentando não derrubar os livros.
Ao fim da tarde Anice fora para os próprios aposentos afim de arrumar-se para o baile de noivado, muito pouco era meu interesse em perder tempo com roupas e adornos, tão logo estava devidamente vestida, saí dos meus aposentos e caminhei pela mansão.
Ervin estava numa sala que achei ser sua particular, ele estava acompanhado de Sr. Duncan e os dois conversavam, me perguntei se Ervin contaria ao melhor amigo sobre o atual segredo dos Brown. Recostei-me a parede perto da porta e os ouvi falar sobre golf por um longo tempo, até que Sr. Duncan pigarreou.
- Sua irmã está diferente.
- O que queres dizer, Lyel?
- Srta. Brown costumava ser bem séria, nunca a vi rir da forma que tive o prazer hoje. - Ele fez uma pausa. - Sempre a vi sorrir, ou mesmo rir de algo, mas com toda certeza, não fora da mesma forma espontânea.
- Compreendo. Minha irmã teve um problema sério de saúde, nossos pais estavam quase perdendo as esperanças de vê-la bem novamente. Certamente notaste que ela está deveras mais magra do que outrora.
- Sim, pude notar.
- Minha mãe afirma que Enide mal comia, que foram dias terríveis.
- Mas graças a Deus tudo se ajustou.
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A Sósia de Uma Lady (Degustação)
Historical FictionNo século XVIII, entre nobres e plebeus, terras e dotes possuíam o sinônimo de poder. Ailsa White não possuía bens e nem família, a jovem fora abandonada há muito por quem deveria dar-lhe conforto. E quando tudo em sua vida já parecia desastroso o s...