O SOL DO MEU PLANETA

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Cristiane:
Quando o meu pai atendeu ao telefone, tentei explicar a situação. Estava em prantos, não conseguia nem falar direito, até porque quando falamos com nossos parentes sobre problemas, aí é que nos desmanchamos ainda mais de emoção. Ele só ficou escutando e, depois de alguns minutos, tudo o que disse foi: “Passa o telefone para o Renato, deixe-me falar com ele.” Você já sabe o resto da história.

  Aquele telefonema foi o ponto de partida para as mudanças em nosso casamento,
porém, o que realmente me levou a mudar foi a continuação daquela conversa que tive pessoalmente com meu pai alguns dias depois. A lista que eu e o Renato fizemos
renovou o nosso compromisso de lutar para mudar e fazer o que fosse necessário para
agradar um ao outro. Mas dentro de mim havia um problema mais profundo, que nem eu mesma sabia que existia. Só o descobri quando meu pai veio me visitar e me perguntou como eu estava depois daquela ligação.
  Ele nunca foi de se intrometer em nosso casamento, mas, devido ao que tinha
acontecido, era de se esperar que quisesse saber. Respondi que estava “tentando”
mudar. Não entrei em detalhes, só disse isso mesmo. Para ser sincera, naquele
momento eu não tinha tanta certeza se as coisas tinham mudado ou não. Muitas vezes no passado, havia dito para mim mesma que mudaria, mas passavam-se alguns meses e lá estava eu cobrando as mesmas coisas. Quem me garantiria que ambos fariam a sua parte naquela lista?
  Percebendo minha dúvida de longe, meu pai então foi direto ao assunto. Nunca me
esqueço daquele dia. Estávamos no jardim, e ele se virou para mim e disse: “Minha
filha, homem nenhum gosta que a sua mulher fique implorando a atenção dele. Você perde o seu valor de mulher. Ocupe-se em ajudar as pessoas, faça alguma coisa com seus talentos, desenvolva o seu chamado.”
  Foi só o que ele disse. Era tudo que precisava ouvir. Descobri que em todos aqueles anos de casamento, estava na verdade fazendo do Renato o sol do meu planeta.
  Como esposa de pastor, ia à igreja, ajudava no que me era confiado, fazia o ‘máximo’
que podia fazer, mas, no final do dia, o meu foco sempre caía no Renato. Tudo que eu
queria era chamar a atenção dele, conseguir sua apreciação, sentir-me sua parceira, ser
importante ao seu lado — o que não era pedir demais, mas quando isso é tudo para
uma pessoa, aí são outros quinhentos. Você acaba fazendo tudo em função daquela
outra pessoa. E se a pessoa não lhe der a devida importância, tudo que você fez não
valeu de nada para você.
  Embora na época não tivesse consciência total disso, foi o que descobri sobre mim
mesma. Todos aqueles anos, em vez de estar ao lado do meu marido, tinha me
colocado atrás dele. É claro que ele não ficaria olhando para trás, enxergando o que eu estava fazendo ali. Na realidade, eu carregava uma mentalidade errada do que a esposa representava para o seu marido.
  Eu ouvia muitas mulheres falarem que nós somos aquele suporte do porta-retratos, ali
escondidinho. Enquanto nossos maridos estavam em pé, lá na frente, nós, esposas,
tínhamos que estar atrás deles, dando todo o suporte necessário. Uma ideia antiquada,
sem nenhuma base fundamental. Creio que, por essa e outras, muitas mulheres têm
defendido o feminismo. Se eu não tivesse acordado para a realidade, teria feito o
mesmo. Chega uma hora que cansa só ficar nos bastidores, sentir-se menos importante
do que o próprio parceiro, e ficar na dependência dele para suprir seu valor.
  Foi naquela palavra do meu pai que finalmente embarquei em uma jornada
interessante, cheia de aventuras, e superprodutiva. Eu me conheci melhor.

  APRESENTANDO: CRISTIANE 2.0
  Comecei a desenvolver talentos que estavam escondidos ou adormecidos, investindo não somente em ajudar outras pessoas como a mim também. A cada vez que fazia algo novo, diferente e produtivo, minha autoestima agradecia. Ajudava as demais pessoas e na medida em que eram ajudadas, elas me valorizavam e, consequentemente, isso me ajudava a vencer toda aquela insegurança que carregava dentro de mim.
  Deixei de fazer as coisas para chamar a atenção do Renato. Pude entendê-lo melhor
porque agora estava no mesmo barco, trabalhava para os mesmos objetivos que ele, só que em parceria com ele e não nos bastidores. Deixei de focar nele para focar em mim, em como eu poderia também desenvolver meus talentos e, com eles, ajudar as outras pessoas. Saí do meu casulo.
  Incrível como uma simples mudança de foco muda tudo. Os problemas que
anteriormente me faziam chorar e reclamar viraram picuinhas que não valiam mais um
centavo de minha atenção.
  Um exemplo foi a questão do Renato não me levar para sair com muita frequência.
Antes eu até tentava fingir não fazer questão por um tempo, mas chegava uma hora que eu não aguentava, e pronto, tínhamos outra briga. Depois dessa mudança de foco, isso já não merecia ser chamado de problema ou falta de consideração. Eu me adaptei ao jeito caseiro dele. Quando era nosso dia de descanso, não ficava mais na expectativa
de que faríamos alguma coisa, pelo contrário, achava o que fazer em casa. Fazia vídeos no computador, lia livros, alugava um filme, fazia uma limpeza de pele, enfim. Sabe o que aconteceu? Eu me tornei uma esposa bem mais agradável.
  Não demorou muito para o Renato enxergar essa mudança em mim e me achar mais interessante. O que antes era uma raridade começou a se tornar algo diário entre nós. Nossas conversas eram divertidas, dividíamos ideias, falávamos das nossas experiências diárias sem eu precisar pedir para isso. Tirei o foco do Renato, deixei de criticá-lo por tudo o que ele não supria para mim, e coloquei o foco em mim. Foi então que consegui me enxergar e ver o que eu estava deixando a desejar.
  Todos aqueles anos, tudo o que o Renato precisava de mim era de uma parceria. E
honestamente pensava ser essa parceira para ele até esse ponto da vida, quando
descobri que parceria não é correr atrás do parceiro, e sim correr ao lado. Por isso ele
não se interessava em dividir o seu dia comigo, não me incluía em seus planos diários. Eu não estava no mesmo barco, e sim em um barquinho atrás, tentando chegar perto do iate dele. Interessante que ele já havia comentado sobre eu me envolver mais no que ele fazia...
  Uma coisa é o seu parceiro lhe falar o que você tem que mudar, outra completamente
diferente é você descobrir em quê você tem que mudar. Um simples ajuste de foco
transformou o nosso casamento.
  E quando eu já havia me adaptado ao jeito caseiro do Renato, ele se adaptou a mim.
Começamos uma competição saudável: quem agrada mais ao outro!
  Vejo esse problema quase todos os dias no trabalho que faço com as mulheres. Parece que temos essa tendência de focar mais nos outros do que em nós. Vamos de um
extremo ao outro. Umas param no tempo por causa da vida amorosa e outras largam a vida amorosa para seguir uma carreira, como se não pudéssemos ter os dois ao mesmo tempo e sermos felizes.
  E assim muitas mulheres inteligentes acabam virando mulheres frustradas. Por mais que a carreira seja importante a seguir, precisamos do nosso parceiro para aproveitá-la de verdade. E por mais que a vida amorosa seja importante, precisamos ser independentes dela para que não nos façamos insuportáveis à pessoa que amamos. Se você depender de alguém para ser feliz, nunca conseguirá fazer alguém feliz.
  O seu parceiro não tem a menor chance de ser o seu sol. Ele tem falhas, nem sempre
poderá lhe iluminar ou suprir tudo que precisa. Por isso não é sábio colocá-lo nessa
posição. Você pode até estar fazendo tudo certo, que era o que eu pensava, mas mesmo assim não vai mudar a situação em que está. Seus olhos têm que estar focados em você primeiro, para que então haja uma mudança real e concreta em seu relacionamento.
  Nunca me esqueço de uma frase que ouvi em uma reunião na igreja: “Enquanto você
olha para as demais pessoas ao seu lado, vai sempre ter problemas.”

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