natureza submissa

724 105 54
                                    

Sonho com um par de pérolas disléxico, porque apreciar através da janela é mais abominável do que fazer alguma coisa. Porque ninguém quer se apegar ao mísero, à destruição iminente, corroída até sumir. E você não significa nada. E você não quer que tudo acabe desse jeito. Mas essa é a única coisa da qual não pode escapar. O útero fértil, intangível a luz, encolhendo aos poucos, porque eles sabem de si próprios e que o mundo lá fora se escreve no fim de si mesma.

Minha vontade segue intocada no pico da montanha mais alta, maior do que minha torre. Por isso, minhas pérolas negras, que cedem e apanham, perduram na retina gasta. Visualizo o fim, e finalmente entendo que não é uma opção. Porque não sinto que mereça a infinidade da terra. Não me lembro de fazer algo por qualquer outro alguém.

Queria poder ser grande, um espírito expandindo as fendas abertas do universo. E não significaria nada além da dor do mundo em sua própria ignorância fantasiosa. Enxergo perdas e chances, sonhos e histórias, e nada posso me comparar com elas. Quando se é incapaz de expressar empatia, existe o relento do oceano que devasta o resto levantando ondas de vastidão azuladas, indo embora com a chuva.

E o oceano é egoísta, não por natureza, mas porque as máquinas perambulam previsibilidade, dominando vazios existenciais, o inanimado do lado de dentro, infringindo nossa dependência, fazendo-nos acreditar que futilidades importam mais do que o resto.

É mentira. O mundo jamais permutaria caráter por vontade própria. Não nesse mundo. Não nessa vida.

E é por isso que vamos todos morrer. Porque a monstruosidade do poder engole si própria. Porque o submisso espera a dominância por baixo d'água. 

A natureza é cruelmente submissa. E a culpa é nossa.

ㅡ suffocated. stray kids | jeonginOnde histórias criam vida. Descubra agora