III.

6.4K 102 3
                                    

Na próxima vez em que veio, João me olhava de maneira fugidia, quase hesitante. Seu sorriso era menor e sua cabeça inclinava levemente para baixo.

"Ele ouviu!", eu disse, rindo, mas extremamente nervoso. "Ele sabe!"

Luana se divertia e dizia coisas como "e daí?" ou "ele está envergonhado, só isso" e ainda "não tem como você saber."

Mas eu sabia. Porque essa é uma coisa que todos nós sabemos. Nós, homens que se apaixonam por homens. Sabemos quando saímos da zona de masculinidade permitida e quando o homem à nossa frente também sai dela.

Um mês depois, quando aparentemente tanto eu quanto ele tínhamos superado nossa timidez, já nos olhavámos sem ressalvas, sorrindo no final de qualquer pergunta ou resposta.

"Onde tá a Luana?", ele perguntou, após olhar em volta e perceber que estávamos sozinhos.

"Tá na sala de reunião, quinta é dia de ela analisar as planilhas", entreguei-lhe o galão vazio e abri a gaveta para pegar o dinheiro.

Ele aproveitou o curto silêncio para dizer o que disse.

"Que barulho é esse?", tocou a orelha com o indicador, semicerrando os olhos. Tentei prestar atenção em qualquer som, mas nada fazia barulho. "É seu coração apaixonado?"

Encarei seu olhar me sentindo na beira de um precipício. Não fui capaz de decifrá-lo, mas desconfiei de que aquele sorriso não era uma mão estendida, não. Um passo e eu caio.

"É", eu disse, endireitando a coluna. Não caí.

Preparei-me para beijá-lo ou mordê-lo.

Deliciado foi como ele me pareceu, pois o sorriso vago e distante agora tomava a forma de um abraço e me incluía em sua graça. Sem dizer qualquer coisa, João pegou o dinheiro e foi embora.

Meu Homem Bom / CONTO EROTICO GAYOnde histórias criam vida. Descubra agora