Cinco anos. Meia década.

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Cinco anos haviam se passado. Cinco anos em que as coisas entraram nos eixos. Cinco anos em que o Vale do Café estava em paz e que crianças corriam pela cidade e pelo campo e cinco anos em que Luccino e Otávio eram um casal apaixonado.

- Bom-dia, Major Otávio. – Disse Luccino, com um grande sorriso no rosto, ao ver se aproximar de sua oficina o Major Otávio, o seu Otávio.

- Mesmo após meia década juntos, você ainda me chama de Major. – Disse Otávio, se aproximando e dando um beijo nos lábios de Luccino. – Por que não me acordou para vir com você? Agora que você realmente, realmente mesmo, me ensinou a dirigir eu podia ter trazido você.

- Primeiramente, você estava dormindo tão lindamente que eu não ia me perdoar se eu o tivesse acordado cedo em pleno sábado. – Luccino limpou as mãos numa flanela que havia ao lado. – E, em segundo lugar: eu vim de moto. O vento no rosto sempre me deixa bem. E, em terceiro lugar: você sabe o quanto eu gosto de te chamar de Major. Meu Major Otávio.

E, em quarto lugar, Otávio ainda não sabia dirigir realmente bem, mas essa parte Luccino nem sonharia em comentar.

Otávio sorriu, balançando a cabeça.

- Sempre tão possesivo esse meu italiano.

- Quem gosta, cuida. – Respondeu Luccino, lembrando-se de momentos que aconteceram anos atrás. – Gostou do café-da-manhã que eu preparei?

- Claro. – Otávio bateu na barriga para mostrar que estava satisfeito. – Mas não precisava. Você deve ter acordado bem cedo para preparar.

- Você chegou ontem tão cansado do quartel. – Disse Luccino, sentando no tampo da mesa de madeira, onde colocava suas ferramentas, e puxando Otávio pela mão para que se apoiasse nele. – Era o mínimo que eu podia fazer.

- Obrigado, meu italiano. – Otávio beijou Luccino na testa. – Mas isso não explica o porquê de ter vindo trabalhar tão cedo e, ainda por cima, em pleno sábado.

Luccino soltou um ruído engraçado, entre um bufo e uma risada.

- Eu não acredito que você se esqueceu.

Otávio o encarou.

- Não me diga que eu esqueci o aniversário da minha sogra outra vez. – Otávio já estava preparado para se desculpar, mas Luccino o interrompeu.

- Não o da minha mãe, Major. – Luccino deu um cascudo de leve na cabeça de Otávio. – Mas o da sua sobrinha. Brariana Brandão Benedito.

- Eu não acredito nisso. – Otávio arregalou os olhos. – Já é hoje? Como?

Luccino deu aquele sorriso pelo o qual Otávio havia se apaixonado.

- Essa é a graça dos aniversários, Otávio. São eventos cíclicos e anuais. Acho que a idade já está chegando para você. – Luccino riu.

- Não é isso, italiano carcamano. – Otávio sorriu. – Mas nossa Brariana já está fazendo quatro anos. Quatro anos.

- Eu sei. – Luccino estava radiante. – Nossa menina está crescendo tão rápido. E, respondendo sua pergunta: eu levantei cedo para adiantar o serviço em mais uma das máquinas de café para o Camilo e para ter o resto do dia para comemorarmos com o Brandão, Mariana e Brariana.

- Ahhh! – Otávio agora estava se lembrando. – O piquenique. Sim, claro. Você me falou sobre ele ontem, após eu ter chegado do quartel. E, claro, Brandão também me falou antes de eu voltar para casa. Eu acho que estava com tanto sono que acabei escutando só algumas palavras do que você me disse. Desculpe, minha vida.

- Tudo bem. – Luccino se levantou da mesa e foi até mais ao fundo da oficina. – Eu ia voltar para casa para te acordar, mas já que você está aqui, - ele levantou uma cesta de piquenique que estava coberta por uma toalha quadriculada, - podemos deixar a moto aqui na oficina e seguimos de carro para a casa da Mariana e do Brandão. Ficará melhor para levar essa cesta. Deu muito trabalho para que eu a conseguisse prender na parte de trás da moto.

- Não vai tomar um banho antes? - Otávio sorriu apontando para as várias manchas de graxa nas roupas, nas mãos e nos braços de Luccino.

- Eu pensei em tomar banho na casa do Brandão. – Luccino coçou a parte de trás da cabeça, acanhado. – Mariana pode me emprestar uma roupa dele.

- Ou podemos fazer melhor. – Otávio se aproximou novamente, com um sorriso e olhar levemente maliciosos. – Você sabe que eu não me importo de forma alguma com o cheiro de óleo e de graxa, muito pelo contrário. Mas o que acha de irmos até em casa e tomarmos um banho?

- Juntos? – Luccino sussurrou.

- Claro. – Otávio também sussurrou e beijou o pescoço de Luccino. – Já que temos de nos apressar para o piquenique.

Luccino pegou Otávio pela mão e correu para fora da oficina, já tirando as chaves do bolso da calça para trancá-la.

- Maravilha! – Otávio estava radiante. – Eu dirijo. Você vai ver o quão bem eu estou dirigindo.

Luccino estancou ao lado do carro.

- Que tal se você segurar a cesta, Major? Há tempos que eu não dirijo o carro. Estou sentindo um pouco de falta de segurar um volante. O que acha?

Otávio olhou para Luccino, depois para a cesta, depois para Luccino outra vez. No fim pegou a cesta das mãos do seu companheiro e se sentou no banco do carona enquanto Luccino dava a partida.

- Seu estraga-prazeres. – Disse Otávio e Luccino riu, dando um beijo em seu rosto.

E no fim será Lutávio...Where stories live. Discover now