O poder de persuasão de uma mama italiana

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Toda a família e amigos próximos dos Brandão Benedito estavam presentes na área próxima à cachoeira. Haviam toalhas quadriculadas por todos os lados onde se havia espaço para livre circulação, cestas de vários tamanhos cheias das comidas e bebidas mais gostosas que se pudesse imaginar. As pessoas que não estavam sentadas no chão, estavam se refrescando na cachoeira usando roupas-de-banho, ou se abanando com leques ou enxugando o rosto com lenços. As crianças corriam, brincavam, riam e rolavam pelo chão, sendo seguidas de perto pelos olhares cuidadosos dos seus responsáveis.

Assim que Brariana desceu do carro, de mãos dadas com Luccino e Otávio, os convidados foram rapidamente recepcioná-la e lhe dar os parabéns. A menina era só risos e foi de mão em mão, sendo abraçada e beijada, libertando Luccino e Otávio do aperto de suas mãozinhas fortes e indo cumprimentar o restante dos convidados junto com seus pais, seguidos de perto pela dona Ofélia, sempre alegre e falante, elogiando a neta para todos que quisessem ouvir, e seu marido, Sr. Felisberto, que tentava conter, sem sucesso, o falatório da esposa.

- Luccino, meu filho. – Dona Nicoletta chamava de um canto embaixo de uma árvore frondosa que fazia uma bela sombra, próxima à uma parte mais rasa da cachoeira, parte essa que Luccino logo se lembrou, havia sido onde revelou para o seu irmão Ernesto os desejos mais profundos do seu coração anos atrás. – Major Otávio, venham, venham. Sentem-se conosco.

Sentados sobre uma grande toalha quadriculada, verde, branca e vermelha, além da dona Nicoletta, estavam Fani, irmã de Luccino, e Edmundo.

Luccino ficava sempre mais feliz ao ver a mãe e constatar que a mãe havia voltado a ser aquela italiana alegre e animada, tantos anos após ficar de luto pela morte do velho Gaetano Pricelli e das falcatruas de Virgílio. Ela havia voltado à cantar, a brincar com o neto, filho de Ema e Ernesto, e nunca mais havia voltado a usar roupas pretas, apenas em certas ocasiões em que a etiqueta recomendava.

- Olá, mama. – Cumprimentou Luccino, beijando o rosto da mãe e depois o da irmã. – Olá, sorella mia. Edmundo, meu amigo, como está? – Cumprimentou o outro com um abraço.

- Muito bem, Luccino, muito bem. – Respondeu Edmundo. – E o sr. Major, como vai?

- Melhor do que nunca, meu caro Edmundo. – Respondeu Otávio, apertando a mão do homem, após cumprimentar a sogra e a cunhada com um grande beijo nas faces e um abraço. – Há um tempo não nos reunimos.

- Eu estava agora há pouco falando o mesmo para Fani, Major Otávio. – Disse dona Nicoletta. – Você e o meu bambino sumiram. Não dão mais notícias à essa pobre mãe e pobre sogra. Simplesmente me esqueceram.

Luccino pôs as mãos na cintura e balançou a cabeça, enquanto Otávio dava aquele mesmo olhar tímido como o da 1º vez em que foi jantar na casa da família Pricelli, anos atrás.

- Mama, per favore. – Disse Luccino. – Nós visitamos a sra. há no máximo duas semanas.

- Eu sinto falta do meu bambino e do meu genro. – Respondeu dona Nicoletta, colocando a mão no peito, para dar mais ênfase às suas palavras.

Luccino riu.

- Eu estou achando que a sra. está passando tempo demais com a dona Ofélia. – Luccino se aproximou da mãe e lhe deu outro beijo na bochecha e um na testa. – Está gostando muito de drama. E onde está mio fratello, minha cunhada e meu sobrinho?

Dona Nicoletta sorriu.

- Eles estão por aí em algum canto conversando com Darcy e Elisabeta. E respondendo a você, meu bambino: Nenhum drama é o suficiente para uma mãe que deseja ter o seu bambino sempre por perto. – Ela pegou a mão de Otávio e a apertou de leve, num gesto de carinho. – E também o genro. Principalmente uma mama italiana.

Dona Nicoletta sabia muito bem como ganhar o genro.

Otávio retribuiu o aperto carinhoso e disse:

- Dona Nicoletta, o que a sra. acha, então, de irmos amanhã à noite jantarmos na sua casa?

Dona Nicoletta ficou radiante.

- Daria essa alegria à essa pobre viúva, meu genro?

Luccino revirou os olhos, mas sorriu. Sorriu com toda a felicidade que poderia sentir ao ver sua mãe e seu companheiro se dando tão bem, após todos os contratempos que houveram no passado.

- Espere um pouco, Otávio. – Luccino lembrou-se. – Esqueceu-se de que Brariana irá lá para casa hoje, após a festa, e só voltará para Mariana e Brandão amanhã à noite? Já é nossa tradição com a nossa menina.

- Estive com a cabeça tão cheia dos assuntos do quartel que acabei esquecendo dessa parte. – Otávio respondeu. – Mas nem mariana e nem Brandão nos disseram que a pequena esgrimista iria realmente lá para casa hoje.

Luccino sorriu. Ele não iria admitir, mas adorava as expressões que o seu major fazia quando se lembrava de que havia se esquecido de algo.

- Major Otávio, - Disse o mecânico, com um sorriso leve e paciente. – Para que eles precisariam dizer se já é um costume desde que a nossa motociclista fez dois anos?

Era verdade. Assim que Brariana fez dois anos e já sabia andar, correr e falar de uma forma um pouco mais inteligível para todos, a primeira coisa que ela pediu após a festa de seu aniversário de dois anos foi para ir à casa dos seus tios. Luccino se lembrava bem do momento em que a menina se jogou nos braços dele e de Otávio e pediu para ir com eles porque queria aprender esgrima. Logicamente ela não havia feito esse pedido com toda essa clareza tendo apenas dois anos na época, mas as palavras que ela mais repetia era: "Grima. Eu quer ver grima. "

Havia sido Otávio quem havia "traduzido" essas palavras quando ele fez um gesto com a mão como se estivesse empunhando um florete e então a menina riu e aplaudiu animada.

Mariana e Brandão foram com ela para a casa de Luccino e Otávio, onde os dois companheiros fizeram acrobacias e golpes leves com os floretes, de forma que a pequena menina ria e aplaudia, fascinada. Já a noite, na hora de ir embora, ela chorou, esperneou para ficar ali. E de tanto insistir, Mariana e Brandão permitiram, com a permissão de Luccino e Otávio, que prepararam o quarto deles mesmos para que ela tivesse uma boa noite de sono na cama espaçosa, enquanto eles foram dormir no sofá da pequena sala de estar, após verificarem de uma em uma hora como a menina estava como pais zelosos e amorosos fariam.

E assim aconteceu quando ela fez três anos e se interessou por motocicletas ao ver Luccino consertar a dele na oficina, em uma das visitas que sua mãe fazia ao amigo. Depois, ela assistiu por horas e horas, após a sua festa de três anos, Luccino montar e desmontar cada pequena peça e engrenagem. Ela dormiu mais uma vez na casa dos tios e no dia seguinte ficou mais uma vez maravilhada ao assistir Luccino dar partida na motocicleta e a mesma funcionar perfeitamente, enquanto Otávio lhe servia copos de limonada feitas na hora e biscoitos de nata moldados em formato de tranças que dona Nicoletta havia feito.

E agora no aniversário de quatro anos, ela iria outra vez para a casa deles.

- Ora! – Disse Dona Nicoletta abrindo um sorriso ainda maior e tirando Luccino dos seus devaneios. – Melhor ainda. A bambina é, e sempre será, mais do que bem-vinda em nossa casa, Luccino. Sabe, - Ela sorriu de leve, com um pensamento na cabeça, - eu tenho por ela o mesmo sentimento que tenho pelo filho de Ernesto e Ema. Tenho de dizer que gosto de, algumas vezes, imaginar que ela também é filha de vocês, meus queridos. *Sento che anche lei è la mia nipotina.

Luccino traduziu a expressão para Otávio e ambos enrubesceram.

- Então, está bem. – Respondeu Luccino, por fim, retirando a boina que sempre usava e coçava a parte de trás da cabeça, sorrindo. – Amanhã iremos jantar na casa da sra. e levaremos nossa Brariana. Após o jantar, Otávio e eu podemos leva-la de volta para Brandão e Mariana.

Dona Nicoletta parecia que tinha ganho um prêmio da quermesse da igreja de tão feliz que havia ficado com aquelas palavras.


  *"Sento che anche lei è la mia nipotina." =  "Eu sinto que ela é minha netinha também."

E no fim será Lutávio...Where stories live. Discover now