Fragmentos de Amor...

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Lembro-me como a clareza de um sol de verão de está nervoso ao subir as escadas. Minhas tripas se contorciam tanto que minha vontade era de me agachar encostado na parede mal iluminada por tochas.

Entretanto, eu estava nervoso e não sabia o porquê. Não era essa sensação que eu esperei sentir quando chegasse a hora. Porém, era o que estava acontecendo a cada passo dado, cada degrau subido, cada metro percorrido.

Farla ia à frente dando-me apenas seu silêncio como companhia. De vez em quando um suspirar vinha de seu nariz como resquícios de choro controlado, enquanto somente nossos passos ecoavam naquela construção de pedra fria.

Acredito que eu até cogitei ensaiar algumas palavras, ou pensar na minha compostura. Ser frio, heroico ou talvez um toque de melancolia... Coisas ridículas para um homem como eu me preocupar, mas a verdade é que eu nunca soube como agir direito perto dela. Eu me transformava num perfeito idiota, facilmente iludido por qualquer coisa que ela dissesse, fragilmente emotivo para qualquer coisa que ela fizesse.

Eu nunca soube ser eu perto dela. Perto da minha querida Enya...


Ao cruzar até o fim do corredor, entendi para onde Farla me conduzia. Para os mesmo aposentos que ciclos atrás compartilhei com minha esposa.

"Fico feliz que o senhor esteja de volta," disse-me ela, apesar do seu tom ser um lamento, dando os últimos passos até a porta.

Segurou a fechadura e empurrou o carvalho tingido de vermelho.

Demorei um tempo para atravessar o umbral, resgatando a coragem que se esvaziava. Respirei fundo, toquei no ombro de Farla e disse enquanto entrava no quarto:

"Avise a seja quem for de que não quero ser incomodado."

Ela assentiu sem me olhar nos olhos e eu entrei.

O aposento estava bem organizado. Na mesa de mogno havia um prato de prata com petiscos e duas garrafas de vinho, e um suporte para armadura estava vazio no canto com um baú ao seus pés. Do outro lado, a janela estava aberta e havia um guarda-roupa ao lado.

Na cama, uma silhueta feminina, que eu reconheceria mesmo cego, descansava sob os lençóis. Ela despertou ao ouvir o barulho da porta sendo fechada.

"Tive esperança de que um javali lhe arrancasse as tripas," disse ela, sonolenta.

Eu me sinto ridículo por escrever isto, mas aquele timbre foi como um rio inundando meus ouvidos e limpando minha alma. Eu abri um largo sorriso por trás da máscara e respondi enquanto ela se sentava na cama:

"É assim que você me recebe depois de tanto tempo?"

Naquele exato instante, naquele pequeno fragmento de tempo, os olhos dela congelaram nos meus. Não havia expressão, não havia palavra, não havia movimento. O dia apenas parou e perdurou enquanto nossos olhares se trocavam.

Lembro-me de esperar um abraço ou um choro emocionado. De aguardar uma cena de nostalgia, misturada com incredulidade e felicidade. De esperar ansioso por dizer quanta saudade eu senti, e que nossos filhos estavam bem.

Quão tolo eu fui. Não estava prestando atenção suficiente nos detalhes deixados como pistas ao meu redor.

"Não!" Enya disse, forte e seco. "Não, você não tem esse direito!"

Lágrimas começaram a rolar da sua face.

"Você não pode fazer isso comigo!" Ela se ergueu de súbito e veio a passos largos. "Você não pode usar essa máscara! Você não pode zombar assim dele!"

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⏰ Última atualização: Sep 18, 2018 ⏰

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