O Terreno Baldio

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Anos 90 na cidade de Praia Grande, litoral paulista nós estávamos em uma situação muito difícil financeiramente, não vimos outra saída para nos abrigarmos, a não ser invadir um terreno baldio e ali fazer nossa moradia. Mesmo com medo de sermos pegos pela invasão, no entanto fomos movidos pela coragem.

Meu pai, cujo nome era Daniel, achou algumas madeiras no lixo de uma construção e pouco a pouco foi fazendo um barraco para não ficarmos mais dormindo nas ruas.

Nós ajudamos meu pai a terminar de fazer e logo pudemos descansar. Mesmo não tendo energia no simples lar, com toda preocupação, minha mãe fez um "candeiro" para iluminar o cômodo, era à base de água e óleo, metade dos dois ingredientes em uma lata de molho de tomate vazia, com um pedaço de barbante de crochê e outro de rolha era feito essa luminária, durava a noite toda.

Eu meus irmãos erámos unidos e somos até hoje, mesmo cada um com suas birras e manias, mas sempre juntos para o que der e vier. Minha irmã mais velha se chama Roseli e naquele tempo tinha doze anos, Ronaldo apenas dez, a Rosemeire estava com oito anos, eu completava sete e o caçula Daniel filho com três aninhos.

Quando meu pai nos chamava para qualquer tarefa, lá estávamos nós, prontos para ajudá-lo. Assim como a obediência pela nossa mãe, a respeitávamos muito, a proposito, seu nome é Julinda, mas os conhecidos a chamam de "Júlia".

Ela cuidava do lar, não trabalhava fora porque meu pai não a deixava, por ciúmes. Chegou até a jogar sua carteira de trabalho no lixo, era impossível trabalhar. Quando minha mãe conseguia um serviço e ficava contente porque iria poder ajudar em casa, meu pai costumava ir buscá-la impedindo que ela trabalhasse. Por conta disso, ela não trabalhava, apenas cuidava casa.

Meu pai tinha problemas com bebida alcoólica, ele não tinha emprego devido essa fraqueza com o vício, isso o prejudicava em vários aspectos, na vida profissional, na nossa educação, estabilidade financeira, afetava também o casamento. A nossa vida não era nada fácil. Os pais sem trabalho, nós ainda criança, tínhamos apenas um barraco à luz de vela ou a iluminação feita na lata. Não tínhamos água encanada e nem poste para a energia, mesmo quando a antiga Eletropaulo e a Sabesp vinham ligar, logo era cortado por falta de pagamento de ambos.

Vivíamos uma vida de "TAPA - BURACOS".

Para termos água pegávamos do nosso tio Davi que morava na mesma rua, com garrafas pets enchíamos e assim podíamos beber, fazer comida, tomar banho com caneca, mas precisávamos economizar para no dia seguinte não faltar.

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