— Ainda dá tempo de desistir.
— Não vou desistir.
— Que bom. Eu não estou com medo nem nada do tipo.
Reviro os olhos, mas sinto um sorriso se formar em meus lábios.
— Não está com medo, mas está nervoso? — pergunto, de um jeito brincalhão.
— Claro que não. Estou acompanhado da rainha dos roubos, mestre dos ladrões. Você já pensou em ganhar dinheiro ensinando as pessoas a roubar? — Dennis provoca.
Retribuo seu comentário com um soco em seu braço, o que o faz soltar uma risada rouca. Logo o repreendo por rir alto e ele se desculpa.
Dennis percebeu que eu era realmente boa quando começamos a bolar o plano à prova de falhas. Se a maldição cumprir o seu papel, vamos entrar e sair sem sermos vistos.
Não foi fácil pensar nos mínimos detalhes, principalmente porque eu tinha que considerar que Dennis era normal e que não tínhamos muito tempo para planejar o roubo. Além disso, depois que Dennis me contou sobre o tal evento da rainha, fui pesquisar na internet e nas minhas anotações, revi os áudios gravados dentro do carro de meu pai, mas não havia informação nenhuma sobre a tal festa. Isso era esquisito. Como um evento de grande porte da família real não havia sido divulgado com antecedência?
Nos últimos dias, minha mente girou, pensando que talvez tenham nos descoberto e criado esse evento para nos despistar. Era uma possibilidade improvável, mas não impossível. Ainda mais depois que meu pai havia dito o meu nome e pareceu me ver entre os arbustos no parque.
E se eu estivesse iludida e só achava que ninguém conseguia me ver, quando na verdade todos os seguranças de meu pai estavam de olho em mim? Talvez essa maldição fosse uma mentira, algo que inventaram para me fazer acreditar que ninguém prestava atenção em mim, quando na verdade eu era uma pessoa normal. Talvez todo o universo estivesse conspirando para que eu achasse que era invisível na sociedade.
Talvez, talvez, talvez. Nenhuma dessas possibilidades parecem ser mais reais do que, de fato, haver a maldição e magia dos deuses gregos envolvendo minha família.
Mas não posso deixar que meus pensamentos e preocupações me atrapalhem agora.
Dennis e eu estamos sentados atrás de arbustos perto da mansão Kathram, observando a movimentação da casa. O par de binóculos de última geração em minhas mãos foi roubado de uma loja de artigos de caça, mas não consigo me arrepender. O instrumento é muito tecnológico, com um super zoom e visão noturna. Ambas funcionalidades muito eficazes nesta noite.
Coloco os binóculos nos olhos novamente, bem a tempo de ver o carro de vidro fumê do meu pai deixando a mansão. Apesar do vidro escuro, consigo identificar cinco silhuetas: meu pai, a esposa, os dois filhos e um segurança. Logo em seguida outro carro os segue, um utilitário preto cheio de mais seguranças, que acompanhará a família do ministro até o seu destino.
Esperamos até os carros virarem a esquina e desaparecer de nossa visão, então nos esgueiramos pelo mato, mantendo nossas cabeças baixas. Hoje, tanto eu quanto Dennis usamos nossos conjuntos "de espiões" - roupas coladas, completamente pretas, que nos permitem camuflar com as sombras e não impedem nossa mobilidade. Me sinto como se estivesse estrelando um filme.
Só que, no caso, não tenho certeza se faço parte dos mocinhos.
Seguimos caminhando, nossas passadas sincronizadas, como tanto havíamos ensaiado nos últimos dias. Paramos a alguns metros da mansão e eu pego meus binóculos novamente. Encaro as câmeras de segurança e conto seus movimentos, mesmo que já os tenha decorado.
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A Maldição de Afrodite (CONCLUÍDA)
General Fiction1° lugar Ficção Geral no concurso Talentos do Wattpad Alana Kathram já está acostumada a ser invisível. Por onde passa, não chama atenção. Sua mãe diz que é uma maldição - ao que parece, sua família vem sofrendo do mesmo mal há séculos, muito embora...