Sentado na penumbra de seu apartamento, Dennis nunca havia se sentido tão sozinho. Esteve tão ocupado na última semana, sempre na presença dela ou indo visitar sua mãe, que se esquecera como era voltar para casa e encontrar o vazio.
Londres estava acesa, apesar de já ser quase meia noite. Pela janela da sala, ele podia observar os carros passando na avenida e as luzes brilharem por quilômetros na escuridão. O mundo parecia vivo, enquanto ele se sentia morto.
Isso que dava se envolver em uma rede de mentiras. Elas o corrompiam por dentro e não havia nada que pudesse fazer. Esse era o preço a se pagar por cumprir o seu dever.
O copo de whisky em sua mão estava lá somente de enfeite, pois ele não conseguira tomar um gole sequer da bebida âmbar. Inclusive, o gelo já estava quase todo derretido. Dennis segurou o vidro com força, as juntas de seus dedos ficando brancas, e soltou um suspiro audível.
Quando o relógio bateu meia noite em ponto, seu celular começou a tocar. Sem hesitar, ele o atendeu, sabendo que de nada adiantaria protelar essa ligação. Era hora de expor os fatos.
— Sim. É claro que peguei, está comigo. — Um suspiro. — Sim, deixei escondido! Você ainda acha que eu sou um amador?
Ele ficou em silêncio durante alguns segundos, ouvindo a outra pessoa falar.
— Não se preocupe com ela, ela não sabe de nada. Não, nem faz ideia que eu... Sim, eu sei. Eu sei, mas não gosto disso.
Mais um suspiro. Ele finalmente levou o líquido âmbar aos lábios e virou todo o conteúdo de uma só vez, ainda escutando o que é quem estivesse do outro lado da linha dizia. A bebida queimou sua garganta.
— Sim, Alana confia em mim.
Quando desligou o telefone, depois de ouvir mais instruções do que deveria ser feito a seguir, Dennis se sentia, oficialmente, um zumbi. Uma alma morta em um corpo decaído.
Levantou-se, dando uma última olhada para sua preciosa Londres, e então seguiu para a cozinha. Talvez mais uma dose de álcool fosse o que precisava.
Aquelas ligações nunca eram fáceis e aconteciam com mais frequência do que gostaria. Sempre havia muita informação para digerir quando desligava o celular.
Receber ordens de entidades divinas cobrava seu preço, afinal.
FIM
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A Maldição de Afrodite (CONCLUÍDA)
Ficción General1° lugar Ficção Geral no concurso Talentos do Wattpad Alana Kathram já está acostumada a ser invisível. Por onde passa, não chama atenção. Sua mãe diz que é uma maldição - ao que parece, sua família vem sofrendo do mesmo mal há séculos, muito embora...